Venezuela muito além do petróleo
Como em todos os processos eleitorais desde a vitória do Chavismo em 1999, os estadunidenses aplicam seu roteiro já bem gasto
A jornalista Su Lun, em matéria publicada no Global Times, talvez tenha matado a charada da grande polêmica nos dias atuais, as eleições na República Bolivariana da Venezuela. No centro de toda polêmica está a impotência dos Estados Unidos de dobrar os joelhos do presidente Nicolás Maduro, fazê-lo obedecer aos desejos da Casa Branca e atender a infinita sede yanque de petróleo.
Como em todos os processos eleitorais desde a vitória do Chavismo em 1999, os estadunidenses aplicam seu roteiro já bem gasto. Financiam e treinam a oposição conveniente, neste caso algum representante das oligarquias criolas que dominam a vida política e econômica da Venezuela desde o Século XVI. A bola da vez é Maria Corina Machado, cuja folha corrida se estende até o primeiro golpe de Estado de 2002, que retirou o comandante Hugo Chávez do Palácio Miraflores por três dias.
Com as burras cheias de recursos para combater a corrupção ou disseminar a democracia no país, eles se engajam no processo eleitoral, denunciando desde o princípio os risco de irregularidades. Maduro, feito um deus onipresente, onisciente e onipotente, é responsável pela inabilitação eleitoral da heroína da Direita. A mesma, que pediu mais e mais sanções contra o proprio pais, e que solicitou a entidade sionista que a ajudasse em uma intervençõ estrangeira na Venezuela. Muitos intelectuais, como o insuspeitado Jeffrey Sachs, afirmam que essas sanções produziram 40 mil mortos, muitos deles diabéticos e crianças. Além da fuga de 8 milhões de pessoas.
Uma evidência das mudanças dos tempos. Ben Norton, em matéria republicada pelo site Brasil 247, desmontou um dos argumentos da ultra direita venezuelana para declarar fraude no Conselho Nacional Eleitoral. Segundo ele, mal terminada a votação, uma empresa baseada em Nova Jersey chamada Edison Research publicou uma pesquisa de boca de urna no dia da eleição projetando que o candidato de direita Edmundo González Urrutia venceria com 65% dos votos, em comparação com apenas 31% para Maduro.
Com esses dados em mãos, tal pesquisa foi citada pelo líder da oposição de extrema-direita, apoiado pelos EUA, Leopoldo López, bem como por veículos de mídia ocidentais como o Washington Post, Wall Street Journal e Reuters.
Detalhe, esta empresa é associada ao Governo estadunidense,useiro e vezeiro na arte de produzir pesquisas favoráveis aos aliados dos EUA. Essa é a origem do coro de Corina e companhia, afirmando terem ganho as eleições por 70% dos votos. Como que fosse possível que o potencial de votos do chavismo fosse reduzido a poucos milhões de eleitores.
Capitaneado pelo Ministério das Colônias, digo, Organização dos Estados Americanos, os vassalos no quintal brandiam suas armas. Novamente, 12 países latinoamericanos, liderados pela Argentina,, como nos tempos do Clube de Lima, exigem eleições limpas.
Nesta operação de mudança de regime, uma perna importante são as mídias corporativas ocidentais. Em tom de histeria, a Mídia Mainstream, e seus poodles nativos vocifera sua indignação hipócrita. Em uníssono, eles não só colocam em dúvida as instituições democráticas venezuelanas, como se arrogam o direito de determinar o vencedor do pleito eleitoral.
Falando em poodles, os grandes vassalos do outro lado do Atlântico, se reúnem para condenar o tirano caribenho, ex-motorista de ônibus.Novamente os sinais de mudanças no tempo emergem. Para desespero da chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, Viktor Orban, primeiro-ministro da Hungria, como o único adulto no jardim de Joseph Borrel, salva o dia novamente, ao vetar uma resolução da UE contra Nicolás Maduro.
Enquanto isso, o grande irmão do Norte, dá continuidade ao seu roteiro, amplamente testado em todo mundo. Personagens patéticas como Anthony Little Blinken, correm para anunciar Eduardo Gonzales, como o vencedor do pleito na Geórgia, não.. na Venezuela.
Como diz Lu Sun, se um candidato apoiado pelos EUA vencer uma eleição, ela será descrita como justa e livre; caso contrário, será rotulada como injusta e sem transparência. Essa tática é um método comum usado pelos EUA para interferir nos assuntos internos de outras nações.
O desespero do Ocidente Coletivo e de seus funcionários de ambos os lados do Atlântico é grande. Eles têm pressa em promover uma mudança de regime na Venezuela. Não foi por acaso que a Federação Russa e a República Popular da China, estão entre os primeiros países a reconhecer a vitória e felicitar Maduro pela reeleição. É que o mês de outubro está próximo e com ele a reunião da Cúpula dos BRICS em Kazan, que pode significar a adesão do país caribenho ao bloco.
O assédio estadunidense e suas 930 sanções, que quebraram a produção de petróleo em 90%. Impediram a compra de insumos e serviços. Como bem disse Donald Trump, tal política levou o país a beira do colapso, “poderíamos ter colocado a mão em todo aquele petróleo”
Diante disso, o governo venezuelano assumiu o compromisso de diversificar a economia. Hoje, a Venezuela já produz 94% dos alimentos que consome. Tornou-se, em 2023, o país que mais cresceu na América Latina, 5%, e projeção de crescimento de 4% em 2024.
Com a inflação controlada, 01% em junho de 2024, o que o país não poderá fazer com o acesso ao NBD, o Banco dos BRICS, e ao futuro sistema financeiro alternativo, para realização de trocas comerciais, que passam ao largo da prisão do dólar? As possibilidades de ampliar as parcerias para inovação tecnológica, industrialização e acesso a novos mercados de energia se elevam ao infinito, na medida em que o comércio internacional não está mais baseada em relações subordinadas entre o Ocidente Coletivo, representado pelo G7, e o Sul Global das ex-colônias da Ásia, África e América Latina.
Possibilidades que se ampliam na medida em na Ásia, a partir da Organização de Cooperação de Xangai, OSX em sua sigla em inglês, após sua cúpula deste ano em Astana, Cazaquistão, traçou ambiciosos projetos de cooperação que visam expulsar da região as malignas influências militaristas do Ocidente. De outro, integrar mais intensamente por redes de conectividades intermodais, consumidores, produtos e produtores da região, tão bem evidenciado na união ferroviária entre a China e o Irã.
Neste novo mundo, que é logo alí, os tempos de interferência nos assuntos internos de um país ficaram para trás.. Europeus e estadunidenses estão prestes a perder o seu sagrado direito, racista e colonial, de poder julgar todos os outros povos.
Diferente dos EUA, lembra Lu Sun, na qual a política para os países latino-americanos é caracterizada pela hegemonia e interferência em seus assuntos internos sem um senso de igualdade. O relacionamento da China com os países latino-americanos, incluindo a Venezuela, é baseado na igualdade, respeito mútuo e cooperação ganha-ganha.
O valentão está sendo derrotado na Ucrânia, está prestes a ser expulso da Ásia Ocidental, e diante um mundo complexo, na qual relações internacionais justas e equitativas se forjam, ele corre o risco de perder o seu próprio quintal.
Fonte:
https://www.globaltimes.cn/page/202407/1317003.shtml
https://www.brasildefato.com.br/2024/08/01/recuperacao-economica-da-venezuela-e-invejavel-diz-juliane-furno
https://www.brasil247.com/blog/empresa-ligada-ao-governo-dos-eua-e-a-fonte-da-pesquisa-de-boca-de-urna-que-alega-que-a-oposicao-venezuelana-venceu-a-eleicao
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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