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    Valter Pomar

    Historiador e integrante da Direção Nacional do PT

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    Venezuela: tirem as crianças e a política da sala

    "Acreditar que Lula forjaria um acidente para faltar em Kazan é transferir o debate da política para o plano do teatro bizarro", escreve Valter Pomar

    O procurador-geral da Venezuela, Tarek Saab, em Caracas, Venezuela, em 08/09/2024 (Foto: REUTERS/Gaby Oraa)

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    Não bastasse a realidade, que já é dura...

    Não bastassem as divergências, que já são enormes...

    Ainda temos que lidar com os adeptos da teoria da conspiração.

    Estes tipos abundam na direita.

    Mas há exemplares também na esquerda.

    Um deles é o procurador-geral do Ministério Público da Venezuela.

    A mais recente deste cidadão viralizou nos meios brasileiros, como se pode ver aqui: CNN Política | ACUSAÇÃO SEM EVIDÊNCIAS Neste sábado (26), o procurador-geral do Ministério Público da Venezuela acusou - sem apresentar evidências - o... | Instagram

    Sabendo que contra certos argumentos não há fatos, me limito a dizer o seguinte: Lula se feriu, o ferimento foi grave e ele não pode viajar para participar da cúpula dos BRICS.

    A ausência de Lula causou prejuízos para o Brasil, que teria podido ter maior protagonismo na reunião de Kazan.

    Além disso, a ausência de Lula pode ter contribuído para o incorreto tratamento dado à Venezuela.

    Afinal, mesmo sabendo que em última instância foi dele a orientação de vetar a presença da Venezuela, acho possível que - tendo em vista o que sei acerca do motivo do veto -, se Lula estivesse fisicamente presente, poderia ter dado outro encaminhamento para a questão.

    Neste sentido, é duplamente lamentável que Lula não tenha podido estar na cúpula dos BRICS.

    E é totalmente errada - do ponto de vista de quem defende a integração regional - a posição adotada pelo Brasil sobre a Venezuela. Adotada não apenas por Sabóia-o-sherpa, não apenas por Celso Amorim, não apenas pelo Itamaraty, mas pelo governo brasileiro.

    Isto posto, acreditar que Lula forjaria um acidente para faltar em Kazan, mesmo tendo como efeito colateral sua ausência na reta final das campanhas eleitorais no Brasil, é transferir o debate da política para o plano do teatro bizarro.

    Entendo que alguns setores da Venezuela, ao analisar o ocorrido, apelem para o alívio cômico. A situação está tão ruim, que é necessário fazer piada com a própria desgraça (tipo o cara estar caindo de um prédio e dizendo, ao passar voando pelo sexto andar, "até aqui, tudo bem").

    Mas difundir teorias conspiratórias nos conduz a abandonar o debate político, com suas pressões, opções e inflexões.

    O problema real é o seguinte: na maioria dos países latinoamericanos e caribenhos onde a esquerda governa, estamos passando por grandes problemas.

    No Brasil, a situação é conhecida.

    Na Venezuela, além das sanções do império, a oposição chegou bem perto de ganhar.

    Em Cuba, o cerco do império, somado à outras variáveis, está criando situações cada vez mais terríveis.

    O cerco também está presente na Nicarágua, servindo de argumento para uma situação em que o "extraordinário se torna cotidiano", mas não no sentido utilizado por Che.

    Na Bolívia, aprofunda-se o conflito entre os diferentes setores da esquerda.

    Na Colômbia, o presidente tem falado publicamente que há um golpe em marcha.

    No Chile, apesar de todas as ginuflexões do atual presidente, tudo indica que a direita vai ganhar as próximas eleições.

    Em Honduras, a pressão é crescente.

    À exceção do México (e, esperamos, de outros países que venhamos a conquistar, como o Uruguai, onde teremos eleições neste domingo 27 de outubro), o quadro onde somos governo na América Latina e Caribe é muito difícil.

    E, para complicar o que já é difícil, as relações entre os governos de esquerda e progressistas da região não estão, ao menos até aqui, contribuindo para melhorar a situação.

    Sendo assim as coisas, quem quiser ajudar a resolver o problema, tem que começar enfrentando a questão com a seriedade que merece.

    O estilo Tarek William Saab é, deste ponto de vista, um completo desserviço. Adotado, melhor tirar as crianças da sala. E pedir que elas levem junto a política.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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