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Maria Luiza Franco Busse

Jornalista há 47 anos e Semiologa. Professora Universitária aposentada. Graduada em História, Mestre e Doutora em Semiologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com dissertação sobre texto jornalístico e tese sobre a China. Pós-doutora em Comunicação e Cultura, também pela UFRJ,com trabalho sobre comunicação e política na China

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Vergonha, vergonha, três vezes vergonha

Assistir à tomada do espaço da autonomia universitária pela força policial levou a uma viagem de regresso à madrugada do dia 22 para 23 de setembro de 1966

Glauber Braga. Foto: Agência Câmara

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A tropa de choque da Polícia Militar entrou na manhã do dia 20 de setembro deste ano de 2024 no campus universitário da Universidade do Estado do Rio de Janeiro para retirar com o uso da força estudantes que ocupavam as instalações há 55 dias. Estavam cumprindo ordem judicial de reintegração de posse. A reitoria não resistiu. Não impediu a invasão armada nem negociou a possibilidade de evitar a ocorrência. Assistiu o cumprimento da ordem. As partes cumpriram a ordem.

A invasão do campus da UERJ foi televisionada. Assistir à tomada do espaço da autonomia universitária pela força policial levou a uma viagem de regresso à madrugada do dia 22 para 23 de setembro de 1966. Parece que foi hoje que há 58 anos as forças policiais dos anos da ditadura invadiram a Faculdade Nacional de Medicina da UFRJ, numa ação que ficou conhecida como “massacre da Praia Vermelha”. Seiscentos estudantes ficaram feridos, sem mortes.

Das diferenças desse hiato de tempo, a mais marcante é a posição da reitoria. O então reitor Pedro Calmon, junto com uma comissão de pais, tentou negociar com a polícia. Diante da evidente irredutibilidade do cumprimento da ordem de evacuar os estudantes a qualquer custo, Pedro Calmon se colocou à frente do comandante da operação e disse: “Polícia só entra na universidade se fizer vestibular”.

Naquele ano de 1966, os estudantes da Faculdade de Medicina da UFRJ entraram em greve em solidariedade aos colegas da Faculdade Nacional de Direito que protestavam contra o pagamento de anuidade nas universidades públicas, contra o projeto desenhado pelos Estados Unidos de privatização das universidades públicas a serem entregues a empresas educacionais e, de Direito e por direito, contra a ditadura que se instalou no país. Neste ano de 2024, estudantes da UERJ ocuparam as dependências por discordar da tomada de decisão sem diálogo e aviso prévio da redução do valor de bolsas que contemplam estudantes em vulnerabilidade econômica.

Mas nesse artigo não importam as razões da greve ou ocupação. O que importa é o precedente de um campus universitário invadido por força policial. Inaceitável. Indefensável. Reprovável. Zero de comportamento dos que deveriam zelar pela autonomia do espaço universitário. Funcionários cumpridores de ordem que, por certo, seriam reprovados no vestibular de Pedro Calmon.  

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