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    André Barroso

    Artista plástico da escola de Belas Artes da UFRJ com curso de pós-graduação em Educação e patrimônio cultural e artístico pela UNB. Trabalhou nos jornais O Fluminense, Diário da tarde (MG), Jornal do Sol (BA), O Dia, Jornal do Brasil, Extra e Diário Lance; além do semanário pasquim e colaboração com a Folha de São Paulo e Correio Braziliense. 18h50 pronto

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    Vinhos nacionais com “Notes féodales!”

    (Foto: Reprodução/Facebook | Polícia Rodoviária Federal/Divulgação)

    Como se não bastasse o discurso misógino do “cara do Campari”, fomos surpreendidos com a notícia das vinícolas utilizando trabalho escravo. Se imaginarmos que estamos a 135 anos do fim da escravidão proclamada pela  princesa Isabel de Orleans e Bragança, feita na abertura do ano parlamentar da época e ainda termos trabalho escravo, nos mostra claramente o quanto temos que lutar por um país mais justo. Se antes víamos políticos e fazendeiros sendo pegos pelo Ministério Público, agora temos empresas que motivadas por Bolsonaro a mostrarem seus verdadeiros valores fascistas.

    O Brasil foi o último país a abolir a escravidão, sendo no total de 388 anos com sua economia ligada ao trabalho escravo e no final os escravistas ainda diziam que a economia iria quebrar e ainda tentaram uma indenização junto ao governo. Graças a Ruy Barbosa que tomou a atitude de queimar todos os registros de todos os registros contábeis de compra e venda de escravos no Brasil, conseguiu salvar o Tesouro nacional. O Governo Bolsonaro conseguiu abrir as portas para nazistas, fascistas, escravistas e tantos outros para se sentirem à vontade e de não só se expressarem, mas abrir de vez a porteira da barbárie. Possivelmente tivemos além de desejos pela volta do Ai-5, o desejo pela revogação da escravidão. Os donos da vinícola AURORA era apoiador de Bolsonaro, que inclusive foi à inauguração da fábrica em Bento Gonçalves.

    As vinícolas que contrataram uma empresa terceirizada que submetiam trabalhadores a situação análoga à escravidão é um desses retratos tristes do último governo. Eram cooptados por promessas falsas na Bahia, sendo entulhados em cubículos apertados, ficavam devendo e não recebendo e com o agravante das torturas físicas e psicológicas. O Dono até foi preso, mas pagou uma fiança ínfima para ele no valor de 40 mil reais e vai responder em liberdade. 

    Porém, o que salta aos olhos dos liberais, que aceitam a crueldade das atividades da empresa que contrataram, fechavam os olhos e apenas ficavam felizes com os resultados de um faturamento histórico de R$500 milhões em 2022. É preciso que a responsabilização das grandes marcas, que estão no topo da cadeia produtiva, sejam devidamente punidas para erradicar de vez com a escravidão moderna. Uma estratégia para não se ligarem diretamente ao trabalho escravo é contratar essas empresas intermediárias que acabam respondendo pelos danos e obrigações trabalhistas. 

    Lembrando que Segundo Mancuso (1993), a moralidade administrativa não se confunde com a moralidade comum. Aquela é composta por regras da boa administração, ou seja, pelo conjunto das normas finais e disciplinares suscitadas pela ideia de administração e função administrativa do Estado, enquanto esta se limita em fazer apenas a distinção entre o bem e o mal. O que serve para as empresas privadas, que tentam burlar as contas feitas como as Americanas, ou caixa dois em prática comum daqueles que querem ter o lucro acima de tudo.

    É claro que as empresas disseram que não compactuam com trabalho escravo e falas pró-nazismo ficam para aqueles que disseminam através da internet achando que estão seguros. No fim das contas, sempre vai ter empresa burlando as leis para minimizar os impactos econômicos para o lado dela e jogar os prejuízos ao trabalhador.  Se pudessem colocariam a culpa no escravo, afinal, Marijane Paese culpa em seu comunicado, o Bolsa Família pelas condições que chegaram nesse momento. E depois, como se não bastasse, o vereador de Caxias do Sul, do Podemos, Sandro Fantinel, fez um discurso xenofóbico inacreditável para justificar sua defesa das vinícolas. Cada vez o remendo fica pior.

    A charge de Céllus foi certeira. Eu farei o mesmo quando for beber um vinho, verificarei se existem notas feudais e chicotadas, com aroma bem acentuado de abuso e desprezo, com um terroir nazifascista. Nunca imaginei um dia ter alguma hesitação moral diante de uma garrafa de Cabernet. Pelo sim, pelo não, fico com um Suco de Uva Orgânico produzido pelo MST de Cotiporã, na Serra Gaúcha que recebeu MEDALHA DE OURO no Concurso Melhores Sucos em Bento Gonçalves... E NÃO USA TRABALHO ESCRAVO para produzir! 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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