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    Denise Assis

    Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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    Vitória das direitas tem de levar em conta a ajuda das emendas Pix

    "Quem apenas constata que as esquerdas perderam parte do seu capital eleitoral vê a árvore, mas não vislumbra a floresta", escreve Denise Assis

    (Foto: REUTERS/Amanda Perobelli | Fábio Pozzebom/Agência Brasil)

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    Essa eleição teve uma serventia além do seu papel fundamental de reafirmar a democracia e escolher, por voto livre e espontâneo, os prefeitos e vereadores. Serviu também para deixar patente o quanto a passagem de Jair Bolsonaro pela direção do país fez mal a todos nós, principalmente à política.

    O que assistimos no dia de ontem, domingo (06/10), nada mais foi do que o transbordo dos desmandos do seu mandato para o pleito deste ano. Aos analistas que apontam para os telões, constatando o óbvio: as direitas venceram a eleição, eu diria: hãhã, venceram mesmo. O que falta perguntar é: como? E aí, eu usaria aquela expressão: “siga o dinheiro”.

    Simples. A instituição do orçamento secreto — laboriosamente criado no gabinete do general Ramos, de quem não se ouve um pio —, e que, depois de muitas cambalhotas, transformou-se em “emendas Pix”, iniciou lá atrás, ainda quando eram transacionadas pelos deputados para os seus redutos. Ali começou-se a delinear a vitória dos vereadores e prefeitos que sairiam vitoriosos do pleito. A turma do Centrão. Quem apenas constata que as esquerdas perderam parte do seu capital eleitoral vê a árvore, mas não vislumbra a floresta.

    Num plano encapetado e arquitetado lá atrás, naqueles gabinetes onde o que se fazia era só elaborar projetos para não perder o poder de jeito nenhum, foi-se estudando, tal como o traçado de uma rede de esgoto, por onde trafegariam os recursos tirados, na marra, dos cofres públicos, para irrigar os redutos das direitas. Aquele segmento que está em Brasília sempre disposto a trazer mais e mais dos seus para grandes negócios em troca do voto desprovido de ideologia. Um Pix para lá, um voto para cá, e cada deputado foi tendo o seu latifúndio, onde foram encaixando as candidaturas dos seus interesses. Rastreando as emendas Pix e que tais, chegar-se-á (meu sonho era executar uma mesóclise à moda Michel!) aos caminhos da vitória das direitas.

    Tudo bem que, se ligarmos a TV, há teorias a mil. Há os que diagnosticam o envelhecimento do discurso petista. Há os que discorrem sobre números sem fim para chegar ao total inegável da larga diferença entre uma banda e outra. E há os que simplesmente constatam que será muito difícil o partido ampliar a vitória para cidades importantes, como São Paulo, por exemplo, porque já não conta com a militância das periferias. O que não há é quem tenha coragem para constatar alguns pontos que nos legaram tal resultado: sim, os recursos das emendas Pix irrigaram as campanhas da direita, como foi o plano original. Primeiro, para dar suporte à campanha de Jair em 2022, e aos deputados e governadores do seu partido. Depois, o presidente da Câmara, Arthur Lira, prosseguiu com o “fluxo” e elegeu com folga, por exemplo, o seu pupilo, em Alagoas, João Henrique Caldas, o JHC (PL).

    Além dessa prática, a do trânsito de recursos por dutos muito bem camuflados, por onde escoaram as emendas Pix, outro ponto de importante contribuição para a ampliação das direitas, que não se pode deixar de anotar, foi a liberdade de Jair no ir e vir das campanhas.

    Inegavelmente, sua ajuda influiu em várias regiões, bem ao contrário do argumento do PGR, Paulo Gonet. Para não o indiciar, alegou evitar “influenciar no processo eleitoral”, quando todos sabiam que o efeito desejado era exatamente o desfecho obtido.

    Quem tiver dúvida sobre o sucesso dessas manobras pode recorrer aos números trazidos em artigo pelo integrante da executiva nacional do PT, Valter Pomar, ao falar dos votos obtidos, na eleição de prefeituras, por todos os partidos que vão do centro até a extrema-direita. “O resultado é superior a 91 milhões e 200 mil votos. Fazendo a mesma conta, mas considerando todos os partidos que vão do centro até a esquerda, o resultado é pouco maior do que 22 milhões e 300 mil votos”.

    Agora o prazo de Gonet é o final do segundo turno. Seu zelo pela lisura das eleições chega a ser comovente. Daqui a pouco, já é Natal na Líder Magazine e Gonet não vai agir para não azedar o clima das famílias na ceia de confraternização. E, pensando bem, o espaço entre Natal e réveillon é tão pequeno, que é bem possível que ele avalie se não é melhor esperar 2025 chegar...

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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