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    Gustavo Conde

    Gustavo Conde é linguista.

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    Weintraub ri da cara de todos nós

    O linguista Gustavo Conde contextualiza o suposto erro ortográfico do ministro da educação Abraham Weintraub. Ele diz: "primeiro, desvio da norma culta tem padrão, recorrências e contextos específicos. 'Imprecionante' não se alinha a esses padrões. É desvio de quem está em fase de aquisição de escrita, crianças ou adultos em processo de letramento"

    (Foto: Rafael Carvalho/ABR)

    Desculpa, mas o Abraham Weintraub está rindo da cara de todos nós.

    Ele atingiu exatamente os objetivos dele com aquele erro proposital de ortografia: virou manchete.

    Uns dizem: "ele errou de verdade". Outros: "ministro da educação que comete um erro desses é notícia".

    Discordo de ambos.

    Primeiro, desvio da norma culta tem padrão, recorrências e contextos específicos. 'Imprecionante' não se alinha a esses padrões. É desvio de quem está em fase de aquisição de escrita, crianças ou adultos em processo de letramento.

    A ocorrência também tem outra memória discursiva: é jocosa. Muita gente escreve assim deliberadamente para debochar. 'Impreçionante', com cedilha é ainda mais gracioso. Comuníssimo até em artigos de opinião do jornalismo independente (Fernando Brito faz muito isso, inclusive para debochar do próprio Weintraub).

    Segundo, que Weintraub não é ministro da educação. O fato de o nome dele estar no papel como ministro da educação não faz dele ministro da educação.

    É importante termos a clareza disto. Weintraub é um operador do bolsonarismo, um miliciano, um agente agressor da cultura, das universidades e das liberdades.

    Nós não podemos levar a sério esse tipo de gente.

    Esse é o dilema desse tempo asqueroso: um ser como Weintraub não dá a mínima em aparecer como alguém que não domina a norma culta básica. Ele, na verdade, se diverte.

    Weintraub e Bolsonaro são muito parecidos nesse ponto. Eles têm orgulho em parecer "ignorantões". Fazem disso uma marca. Lixam-se para o comentário asséptico pequeno-burguês de esquerda que sensualiza uma escandalização precária acerca dos padrões da escrita.

    Weintraub queria audiência e conseguiu. Foi vitorioso.

    Enquanto isso, nós aqui desperdiçamos energia preciosa fingindo uma indignação letrada absolutamente estúpida.

    Essa é a engrenagem do universo digital: o esquisito viraliza - e conquista simpatia e espaço político.

    Todos nós, de toda a imprensa livre ou de mordaça estamos profundamente precarizados em nossas reações e no tom de nosso espírito crítico.

    Ser trolado por Weintraub é muita humilhação para quem sonha em reverter esse processo de destruição da educação brasileira.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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