“A arma mais poderosa para combater a mudança no clima é o voto”, diz pesquisador
Em entrevista à TV 247, Cláudio Ângelo, líder do Observatório do Clima, falou sobre os impactos da crise climática e sua evolução ao longo do tempo
Beatriz Bevilaqua, 247 - As mudanças climáticas são uma das maiores ameaças globais do século XXI, com impactos visíveis e profundos em diversos aspectos da vida humana e ambiental. De acordo com dados do Observatório do Clima, as alterações no clima têm se intensificado nos últimos anos, evidenciando um aumento na frequência e intensidade de eventos extremos, como secas, enchentes e ondas de calor.
No episódio "Brasil Sustentável" desta semana, da TV 247, o jornalista e ativista ambiental Cláudio Ângelo, com mais de 20 anos de experiência na cobertura das negociações internacionais sobre mudanças climáticas, compartilhou sua trajetória e reflexões sobre as transformações climáticas que afetam o Brasil e o mundo. Ângelo é também autor do livro “A Espiral da Morte - Como a Humanidade Alterou a Máquina do Clima” e coordenador do Observatório do Clima, rede da sociedade civil dedicada à construção de um Brasil sustentável.
"A gente milita por raiva, porque não queremos ver isso para nós e para nossos filhos", afirmou, refletindo sobre os cenários que ele mesmo havia descrito no início dos anos 2000. Ele mencionou previsões de ondas de calor sucessivas e incêndios na Amazônia, que pareciam distantes na época, mas que agora se tornaram realidade.
Ângelo compartilhou uma experiência pessoal após voltar de longas viagens pelo mundo para escrever seu livro sobre o clima. Ao voltar a morar em Brasília em 2010, constatou que a cidade havia mudado. "Brasília, na década de 80, era um lugar onde você precisava dormir de cobertor, mas as temperaturas mínimas subiram mais de dois graus", disse. Hoje, a capital federal enfrenta um aumento drástico das noites quentes, fenômeno que se reflete em muitas cidades brasileiras. Ele explicou que, embora o fenômeno das ilhas de calor nas grandes cidades contribua para o aumento da temperatura, as mudanças climáticas, como o aumento das temperaturas mínimas, são fatores que ultrapassam a urbanização e o crescimento das cidades.
Ângelo também discutiu sobre a relação da extrema direita com as questões ambientais, que ele considera uma escolha "consciente pelo suicídio coletivo". Ele citou exemplos históricos, como o apoio da população alemã ao nazismo, para ilustrar como comportamentos autodestrutivos podem se tornar dominantes. "A mudança climática é um problema global, e a forma como o capitalismo funciona nunca internalizou seus custos", observou, explicando que, ao longo de mais de 150 anos, as atividades que contribuem para o aquecimento global foram subsidiadas, e os custos acabaram sendo empurrados para a sociedade global.
Na sua visão, a solução para a crise climática não está apenas em ações individuais, como reduzir o consumo de carne bovina ou evitar viagens de avião, mas sim em uma mudança estrutural na política global. "Nada disso resolve se as pessoas continuarem elegendo negacionistas climáticos", destacou, criticando a postura de líderes que minimizam a gravidade da crise.
Durante a entrevista, Angelo trouxe asl dificuldades nas negociações internacionais, destacando o impacto das decisões de Donald Trump. Segundo ele, a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris foi apenas um dos aspectos da postura de Trump, que também desafiou os compromissos internacionais, como o cumprimento das metas de emissões de gases de efeito estufa, e ainda se afastou das responsabilidades globais de segurança. Isso enfraqueceu a ordem global e a cooperação internacional necessária para combater a mudança climática, deixando a luta contra esse problema ainda mais difícil.
"Sem uma cooperação entre as nações, a ação contra a crise climática se torna inviável", afirmou Ângelo. Ele alertou sobre a crescente tensão internacional, mencionando que a Europa, sem o apoio dos Estados Unidos, tende a se armar cada vez mais diante da ameaça da Rússia. "Toda vez que o foco está em conflitos geopolíticos, a cooperação para combater a mudança climática fica em segundo plano", explicou.
Para o Brasil, Ângelo vê uma oportunidade nas negociações futuras, especialmente com a realização da COP30 este ano em Belém, no Pará. Ele acredita que o país pode usar esse momento para promover um realinhamento global e discutir questões climáticas de forma mais assertiva. No entanto, ele enfatizou que, para aproveitar essa oportunidade, o Brasil precisará ser estratégico e habilidoso na condução do processo.
Assista a entrevista na íntegra:
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