Agroflorestas transformam áreas degradadas em produção sustentável, diz fundador da Belterra
Valmir Ortega destaca como sistemas agroflorestais aliam diversidade agrícola, preservação ambiental e benefícios para agricultores, mas requerem políticas
Beatriz Bevilaqua, 247 - Ao longo das últimas décadas, o setor rural se organizou em torno da produção em larga escala de commodities como soja, milho e outras culturas. Esse modelo, que depende de alto uso de agroquímicos e mecanização, foi eficaz em atender à demanda por alimentos, mas trouxe desafios ambientais, sociais e nutricionais.
Neste episódio, a jornalista Beatriz Bevilaqua entrevista Valmir Ortega, fundador da Belterra Agroflorestas, que tem transformado áreas degradadas em florestas produtivas por meio de parcerias com pequenos e médios agricultores. Com mais de 15 anos de experiência no setor público, Valmir é geógrafo e já ocupou cargos de liderança, como Presidente Substituto do IBAMA e Secretário Estadual de Meio Ambiente no Pará.
Durante a entrevista, Valmir explica que as agroflorestas promovem diversidade e sustentabilidade na produção agrícola. “Esses sistemas integram espécies agrícolas com vegetação nativa, imitando o funcionamento de uma floresta”. A lógica é simples: ao criar um ecossistema resiliente, as agroflorestas tornam-se menos vulneráveis a pragas, secas e mudanças climáticas, além de reduzirem a dependência de insumos químicos.
A combinação de plantas frutíferas, legumes, tubérculos e até pequenos animais é o coração desse sistema. “A agrofloresta é uma forma de produzir alimentos e outros insumos, como óleos e fibras, com menores custos e impactos ambientais. Ela resgata a ideia de diversificação, criando um equilíbrio produtivo que beneficia tanto o agricultor quanto o meio ambiente”.
Esses sistemas permitem cultivar diversas espécies ao mesmo tempo, como mandioca, banana, cacau, açaí, legumes e outros tubérculos, aproveitando a vasta biodiversidade brasileira. "As possibilidades de combinação em uma agrofloresta são imensas, especialmente no Brasil, que possui uma megadiversidade de espécies alimentícias e econômicas", ressalta.
A viabilidade da agrofloresta também depende de políticas públicas robustas. O Brasil conta com um dos maiores programas de financiamento rural do mundo, como o Plano Safra e o PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), que em 2024 destinou quase R$ 80 bilhões à agricultura familiar. "Esse é um programa enorme e fundamental, mas ainda insuficiente para atender todos os agricultores".
"Quando olhamos para as dificuldades dos agricultores, percebemos que muitos não têm acesso a assistência técnica". Durante as últimas décadas, houve um desmonte nas estruturas estaduais de apoio técnico, como as empresas de extensão rural. Essa falta de suporte técnico impede a adoção de práticas mais eficientes e sustentáveis. "Você não muda um sistema produtivo sem acesso a políticas públicas, treinamento e orientação técnica", criticou.
Para empresas como a Belterra, que investem na recuperação de solos degradados e no desenvolvimento sustentável, o desafio é criar modelos de negócios que ajudem os agricultores a superar barreiras como a falta de conhecimento e financiamento adequado. "Os agricultores, na maioria das vezes, não estão em uma posição de baixa produtividade por escolha, mas porque lhes faltam alavancas essenciais para avançar, como acesso à tecnologia, conhecimento técnico e políticas públicas eficientes”.
Esse cenário exige esforços conjuntos entre governos, empresas e organizações para garantir que os agricultores tenham as ferramentas necessárias para transitar para modelos produtivos mais sustentáveis e resilientes.
Assista a entrevista na íntegra:
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