Brasil deve mudar legislação e punir empresas produtoras de plásticos, defende ONG
ONG Oceana alerta sobre a urgência na aprovação do Projeto de Lei 2524/2022, que visa a economia circular do plástico
Beatriz Bevilaqua, 247 - A poluição por plásticos já é reconhecida como uma crise global que afeta toda a biodiversidade no planeta Terra. No Brasil, esse cenário é alarmante, como revela o relatório Fragmentos da Destruição: impactos do plástico à biodiversidade marinha brasileira, que foi lançado este mês pela Oceana. Fruto de uma colaboração com cientistas brasileiros, o estudo oferece um panorama de como o plástico afeta diversas espécies da fauna marinha, de moluscos, aves, peixes, tartarugas e mamíferos.
Neste episódio do programa “Brasil Sustentável”, entrevistamos Iran Magno, engenheiro florestal pela Universidade de Brasília (UnB) e à frente da ONG Oceana, atuando nas campanhas de combate à poluição marinha por plástico. Segundo Iran, despejamos aproximadamente 1,3 milhão de toneladas desses resíduos no oceano anualmente (o que equivale ao peso de 1,3 milhão de carros pequenos), e que representa cerca de 8% de todo o plástico que chega aos mares globalmente. Isso nos coloca no ranking dos 10 maiores poluidores globais por plástico: somos o 8º no mundo, e o líder na América Latina.
“O plástico é um material leve que se espalha facilmente pelo ambiente e, atualmente, continuamos a usar esse material durável, que leva séculos para se decompor, em itens descartáveis, como copos, pratos, canudos e sacolas, que utilizamos por apenas 10 ou 15 minutos. Depois, isso se transforma em lixo e se torna um problema ambiental, já que muitos desses materiais não têm características adequadas para a reciclagem”, explicou Iran.
O estudo alerta ainda que os microplásticos já fazem parte da dieta humana, sendo encontrados em 9 das 10 espécies de peixes mais consumidos globalmente. No Brasil, essa contaminação foi detectada também em peixes de riachos da Amazônia, onde 98% dos peixes analisados continham plástico no intestino e nas brânquias. Tudo isso faz dessa contaminação uma questão de saúde pública.
“É fundamental que todos nós compreendamos a nossa responsabilidade. Como consumidores, precisamos rever nosso uso do plástico. Além disso, devemos exigir que o poder público lidere um processo de transição e responsabilize as empresas que geram esse problema, repensando a forma como produzimos e não apenas como descartamos”, criticou Iran.
Os pesquisadores demonstram também que o plástico, quando ingerido por animais marinhos, leva à desnutrição, diminuição da imunidade e até à morte, além de expor os organismos a compostos químicos nocivos. Entre as tartarugas-verdes, por exemplo, cada grama de plástico ingerido aumenta em 450% o risco de definhamento.
“Anualmente, são geradas 2,95 milhões de toneladas de produtos como sacolas, copos, talheres, pratos e outros tipos de embalagens. Se transformarmos essa cifra em números de itens, isso equivale a 500 bilhões de produtos descartáveis por ano. Isso significa que, a cada segundo, injetamos 15 mil itens de plástico descartável no nosso sistema”, alertou Iran.
“A forma como produzimos plástico, que muitas vezes não possui características adequadas para ser reutilizado ou reciclado, é uma parte crucial do problema. Precisamos discutir o modelo atual de produção de plástico e a necessidade de fechar essa torneira antes que seja tarde demais”, disse.
Apesar de liderar a produção de plástico na América Latina, o Brasil ainda não tem nenhuma legislação específica que regule essa produção, nem mesmo em relação aos problemáticos itens descartáveis. Para além da urgente aprovação do Projeto de Lei 2524/2022, o relatório aponta outras duas recomendações ao Estado brasileiro e à indústria: promover alternativas ao plástico a preços acessíveis e investir em pesquisa e desenvolvimento, favorecendo alternativas reutilizáveis ou compostáveis.
“Na Oceana, defendemos a aprovação e discussão do projeto de lei 2524/2022, que tramita no Senado Federal e estabelece a economia circular do plástico. Esse projeto visa implementar formas mais inteligentes de produção no país, evitando a continuidade da fabricação de itens que se tornam problemas e não podem retornar ao sistema de maneira adequada”, explicou.
Assista à entrevista na íntegra:
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