Crise climática: Lula cobra mundo desenvolvido
Segundo o presidente, eventos climáticos extremos serão cada vez mais frequentes
Infomoney - Em meio à crise produzida pela seca, onda de calor e incêndios que atingem diversas regiões do Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, nesta quarta-feira (11), que editará uma medida provisória para criar o estatuto jurídico da emergência climática. A informação foi confirmada durante entrevista concedida à Rádio Norte FM.
“Nós temos certeza que os eventos serão cada vez mais frequentes, e, portanto, vou encaminhar ao Congresso Nacional uma medida provisória criando o estatuto jurídico da emergência climática”, afirmou.
“Nosso objetivo é estabelecer as condições para ampliar e acelerar as políticas públicas a partir de um plano nacional de enfrentamento aos riscos climáticos extremos. Nosso foco precisa ser a adaptação e preparação para o enfrentamento a esse fenômeno. Por isso, vamos estabelecer uma autoridade climática e um comitê técnico-científico que dê suporte e articule a implementação das ações do governo federal junto com o governo estadual e as prefeituras”, prosseguiu.
“Nós queremos pensar diferente essa questão climática. Nós queremos que a sociedade brasileira, da universidade a uma favela, de um escritório com ar condicionado a uma fábrica, que todos estejam comprometidos em cuidar do planeta Terra, em cuidar do chão que mora, porque de nós depende a manutenção do planeta”, argumentou.
Durante a entrevista, Lula também defendeu a ideia de aproveitar a força de trabalho de agentes do Exército no enfrentamento às queimadas, oferecendo capacitação em defesa civil para que os novos entrantes estejam preparados para lidar com desastres climáticos. “São 70 mil jovens por ano que a gente pode preparar e torná-los profissionais de combate à questão climática, de defesa do planeta, da floresta, da água, da vida humana. Podemos fazer isso, porque vamos precisar”, argumentou.
Ontem (10), o presidente visitou o Amazonas acompanhado por uma comitiva de ministros. Na agenda, ele sobrevoou áreas afetadas pela seca, visitou comunidades indígenas e anunciou a retomada das obras de recuperação da BR-319, única via de ligação rodoviária entre Manaus (AM) e Porto Velho (RO). O mandatário tem cobrado ministros por repostas à crise climática que tem afetado esta e outras regiões do país.
“Queremos levar definitivamente a sério a questão climática. Não é mais uma questão secundária, não é mais uma questão da universidade, não é mais uma questão apenas de cientista. É uma questão de responsabilidade de todos nós. (…) Precisamos cuidar do mundo em que vivemos”, disse Lula na entrevista desta manhã.
Na conversa com os jornalistas da Rádio Norte FM, Lula criticou a ação humana em relação ao meio ambiente, e voltou a cobrar o apoio de países desenvolvido nas ações de enfrentamento à crise climática. “Quando agimos de forma irresponsável, estamos destruindo o mundo em que vivemos. A experiência tem mostrado que, a cada ano que passa, as coisas se agravam mais”, disse.
“Temos que aproveitar esse momento em que a Amazônia, não só brasileira como da América do Sul, é a parte mais conservada do planeta Terra para que a gente receba em dinheiro para cuidar das pessoas que moram lá. Nós temos que fazer os europeus e o mundo desenvolvido compreender que, embaixo de cada copa de árvore, mora uma pessoa ─ tem um extrativista, um seringueiro, um pescador, um indígena, um pequeno colono. Essa gente pode utilizar a preservação da floresta como uma forma de viver, de ganhar dinheiro e cuidar da família. É isso que estamos fazendo com o Fundo Amazônia, é isso que vamos fazer na COP 29”, declarou.
Lula também mencionou a COP 30, que será sediada por Belém (PA) em 2025, repetiu o compromisso do governo brasileiro de atingir a marca de desmatamento zero no fim da década e disse que a questão ambiental pode ser a força motora para o desenvolvimento ─ o que colocaria a Amazônia em posição privilegiada.
O mandatário abordou, ainda, a dicotomia entre preservação ambiental e desenvolvimento econômico e defendeu ser possível construir um caminho de conciliação. “Tem muita gente, quando falamos na questão da preservação, que começam a dizer que somos contra o desenvolvimento, que não queremos que o estado cresça, que queremos que queremos que ele fique pobre. Não é isso. O que queremos é discutir como crescer sem destruir aquilo que é bom para a gente. Eu não preciso destruir o ar, poluir os rios, queimar a floresta para crescer. O que estamos discutindo é: como podemos nos desenvolver de forma civilizada, garantindo que a indústria cresça, que o emprego cresça, que a renda cresça, sem precisar destruir aquilo que nos beneficia”, argumentou. “Isso é possível.”
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