“É urgente uma política nacional de ação climática que considere cidades nos rincões do Brasil”, diz ativista ambiental
Kamila Camilo, do Instituto Oyá, diz que Brasil possui quase 6 mil municípios, mas apenas uma pequena porcentagem possui um plano de ação climática
Beatriz Bevilaqua, 247 - A "Ansiedade Climática" tem se intensificado nos últimos anos, refletindo a preocupação gerada pelas mudanças climáticas. Esse fenômeno se manifesta no medo de desastres naturais e na sensação de incertezas sobre o futuro do planeta. No episódio desta semana do “Brasil Sustentável”, da TV 247, entrevistamos Kamila Camilo, ativista ambiental e diretora do Instituto Oyá, que compartilha sua visão sobre as responsabilidades coletivas na resolução dos desafios ambientais.
"Na minha fé cética, eu realmente acredito que as pessoas são a solução para todos os problemas que elas causaram. A resposta é comunidade, é fazer junto, colaborar", afirma. Para a ativista, a esperança se encontra na capacidade de romper barreiras e criar conexões, promovendo um esforço conjunto para enfrentar as crises que afligem a humanidade.
Embora sua mensagem seja de esperança, Kamila se identifica como uma "pessimista esperançosa". Ela acredita na capacidade de mudança das pessoas, mas também critica a maneira como a responsabilidade é frequentemente atribuída ao indivíduo. "A ideia de que você economizar água ou não usar energia resolveria todos os problemas é uma estratégia de marketing. A responsabilidade pelo meio ambiente é sistêmica, afinal 100 corporações causam muito mais danos que 8 bilhões de pessoas e 1% da população mundial emite gases do efeito estufa equivalente a 50% da população mais pobre”, alerta.
Segundo a ativista, é preciso mudar a abordagem de culpabilização para um foco na responsabilidade. "Vamos tirar a culpa e trocar por responsabilidade. O que posso fazer para ter uma vida mais sustentável?", questiona. Ela sugere que as escolhas de consumo são fundamentais, mas reconhece que nem todos têm as mesmas opções. "Falo para quem tem alternativas. Para muitos, a escolha é limitada, e isso precisa ser considerado", observa.
“Muitas pessoas não têm a possibilidade de consumir alimentos orgânicos e sem veneno, enfrentando um verdadeiro deserto alimentar. O que sobra para elas são produtos ultraprocessados vendidos em mercadinhos, que muitas vezes são mais baratos do que o quilo do tomate”, disse.
Durante a conversa, Kamila enfatiza a importância do engajamento político. "Por outro lado, cabe a cada um de nós votar melhor, escolher de quem consumimos e cobrar das marcas que adotem práticas mais sustentáveis", propõe. Para ela, é essencial viver com a consciência de que os recursos naturais são finitos e que já ultrapassamos limites críticos do planeta.
Segundo a entrevistada, o governo atual deu um enfoque relevante ao combate ao desmatamento, estabelecendo a meta de desmatamento zero até 2030. No entanto, focar apenas na Amazônia não é suficiente. “Precisamos restaurar o Cerrado, a Caatinga e a Mata Atlântica, além de regenerar os Pampas. Se os Pampas estivessem em ordem, talvez estivéssemos mais preparados para lidar com o aumento do volume de chuvas no Rio Grande do Sul. A falta de uma visão integrada de gestão pública coloca as pessoas em risco”, avaliou.
Para a ativista, é fundamental desenvolver um plano de adaptação que considere as especificidades de cada bioma. Não podemos achar que uma única solução sirva para todos os biomas brasileiros. “Dada a extensão continental do nosso país, são necessárias abordagens dedicadas a cada território. Temos realizado conversas importantes sobre adaptação climática, mas não podemos nos limitar apenas a obras de infraestrutura, como reforço de estradas e pontes. Precisamos de estudos sobre o solo e, em alguns casos, considerar a realocação de bairros inteiros para áreas de menor risco”, disse Kamila.
Além disso, é crucial que o planejamento urbano leve em conta os riscos climáticos. Um movimento em direção à elaboração de planos de ação climática em todas as cidades deve ser ampliado. “O Brasil possui quase 6 mil municípios, mas apenas uma porcentagem muito pequena possui um plano de ação climática. É urgente que haja uma política nacional de ação climática que inclua as pequenas cidades e as regiões mais remotas do Brasil”.
Segundo ela, há uma disparidade entre o que o país realmente precisa e o que nossos políticos acreditam. “Embora tenhamos um Ministério do Meio Ambiente forte e alinhado com as necessidades climáticas, por outro lado, há setores do governo que estão promovendo a exploração de petróleo, como em áreas sensíveis da Amazônia. Precisamos de uma abordagem coesa que priorize a preservação ambiental e a sustentabilidade em todas as esferas”, criticou.
Assista à entrevista na íntegra:
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