Grandes petroleiras começam a recuar em planos de transição energética
Companhias como BP e Shell voltam a priorizar petróleo e gás
Reuters – Nos últimos anos, gigantes do setor de petróleo e gás, como a BP e a Shell, protagonizaram uma guinada ambiciosa em direção à transição energética e ao desenvolvimento de fontes de energia de baixo carbono. No entanto, essa tendência começa a desacelerar em meio a crises geopolíticas e questões econômicas que afetam a viabilidade de projetos renováveis.
Quase cinco anos após anunciar um reposicionamento estratégico para se tornar uma empresa voltada à energia de baixo carbono, a BP está redirecionando seus esforços para retomar suas raízes no setor de petróleo e gás. A empresa britânica pretende fortalecer sua posição no mercado, revigorar o valor de suas ações e tranquilizar investidores preocupados com a lucratividade futura. O CEO da BP, Murray Auchincloss, anunciou planos para investir bilhões em novos desenvolvimentos de petróleo e gás, incluindo projetos na costa do Golfo dos Estados Unidos e no Oriente Médio.
Essa mudança de direção não é exclusividade da BP. Outras grandes companhias europeias, como a Shell e a estatal norueguesa Equinor, também estão revendo suas estratégias de transição energética. A Shell, por exemplo, sob a liderança de Wael Sawan, reduziu suas operações em energia de baixo carbono e desinvestiu em projetos de eólica offshore e mercados de energia europeus e chineses.
Dois fatores principais impulsionaram esse recuo nas estratégias de transição energética: o impacto econômico da invasão russa na Ucrânia e a queda na lucratividade de muitos projetos de energia renovável. A alta nos custos, problemas nas cadeias de suprimentos e desafios técnicos, principalmente em projetos de eólica offshore, contribuíram para essa mudança de foco.
A Equinor, por sua vez, lançou uma revisão interna de seus negócios de baixo carbono, nomeada REN Adjust, para redirecionar investimentos para projetos de eólica offshore mais avançados, abandonando iniciativas de estágio inicial.
Desafios internos e ceticismo dos investidores
Dentro da BP, a reorientação estratégica tem gerado questionamentos. Em uma reunião virtual em outubro, funcionários da empresa levantaram preocupações sobre a disponibilidade de pessoal qualificado para reviver a produção de petróleo e gás, após a empresa ter dispensado centenas de empregados da divisão de upstream desde 2020. Essa dúvida é compartilhada por investidores, que observam as ações das grandes europeias com ceticismo, especialmente em comparação com suas rivais americanas ExxonMobil e Chevron.
Mesmo com o recuo, as empresas não abandonaram totalmente seus investimentos em energias renováveis. Tanto a BP quanto a Shell e a Equinor continuam a desenvolver projetos de energia eólica e de hidrogênio que estão em andamento, além de focarem em biocombustíveis, que, segundo seus executivos, oferecem retornos mais rápidos.
O dilema da transição e o aquecimento global
A decisão dessas companhias ocorre em um momento crítico para a agenda climática global. Especialistas, como o analista Rohan Bowater, alertam que o recuo nas metas de redução de emissões pode dificultar ainda mais o cumprimento da meta da ONU de limitar o aquecimento global a 1,5 grau Celsius. Enquanto as empresas priorizam o aumento de retornos a curto prazo com o investimento em petróleo e gás, a Agência Internacional de Energia prevê que a demanda global por petróleo atinja o pico até o final da década, impulsionada pelo crescimento das vendas de veículos elétricos.
“O que estamos vendo é um equilíbrio complicado. Para fazer os planos de transição energética funcionarem, é preciso que as empresas tenham os incentivos certos, um mandato claro dos acionistas e foquem em demonstrar valor”, afirmou Bowater.
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