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    "A esquerda precisa urgentemente, no Brasil e no mundo, ter um programa de superação do capitalismo", diz Stédile, do MST

    "Mais do que nunca nos faz falta uma esquerda com um programa radical. O capitalismo não resolve mais os problemas da população", afirma João Pedro Stédile

    João Pedro Stedile (Foto: Reprodução/MST)

    247 - Líder histórico do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), João Pedro Stédile fez, em entrevista ao Opera Mundi, uma análise do que chamou de "crise" da esquerda e do capitalismo no Brasil e no mundo e lamentou a inexistência de uma esquerda com programa "radical" em um momento histórico "de crise do capitalismo, do imperialismo, da situação ambiental, da vida no planeta".

    Para Stédile, a esquerda falha todos os dias ao não organizar a classe trabalhadora em torno de um programa de mudanças estruturais. "A esquerda, fruto daquela derrota histórica da União Soviética, das ideias socialistas, ela refluiu. E a esquerda cometeu um erro fundamental: em todo o Ocidente priorizou a via eleitoral, e a via eleitoral é um dos espaços da luta de classes. Porém, a verdadeira força de uma esquerda é quando ela organiza a classe trabalhadora. Organizar significa ter núcleos, organização política e um programa de mudanças estruturais. E isso nos faz falta. E essa falta é ainda mais sentida porque o período histórico é de crise do capitalismo, de crise do imperialismo, é de crise da situação ambiental, da vida no planeta". 

    "Então mais do que nunca nos faz falta uma esquerda que tivesse um programa radical. E radical no sentido de ir às raízes dos problemas. Então tem que ser radical mesmo, no sentido de que tem que propor mudanças estruturais. E nós estamos convencidos: o capitalismo não resolve mais os problemas da população, da classe trabalhadora, das maiorias. Então, para a centro-esquerda, é preciso apresentar propostas anti-capitalistas, pós-capitalistas, que acenem para um projeto de superação da exploração. A esquerda precisa, urgentemente, no Brasil, na América Latina e no mundo, ter um programa de superação do capitalismo, que signifique solução para os problemas das maiorias. E os problemas das maiorias só terão solução com mudanças estruturais, na forma de organização, no modo de produção e no Estado burguês”.

    Para ele, no Brasil, a paralisação das esquerdas se deve à "hegemonia completa que os meios burgueses de comunicação têm". Ele citou, por exemplo, a máquina de propaganda sionista no Brasil e no mundo que protege Israel, apesar das atrocidades cometidas pelo governo daquele país contra os palestinos da Faixa de Gaza. "A Globo, os grandes jornais, as grandes revistas. Todo mundo a favor dos crimes de Israel. Quantas manifestações de esquerda nós vimos colocando em dúvida: ‘ah, mas o Hamas também é terrorista’; e esqueceram os 70 anos de tortura, prisões, mortes que o governo de Israel fez? O governo de Israel só tem o interesse de acabar com o povo palestino, e a guerra agora contra quem está em Gaza é apenas um detalhe. Então um dos motivos é esse. Aqui no Brasil há uma hegemonia muito grande, a burguesia controla os meios de comunicação. E naquilo que ela tem interesse, é impressionante como ela influi”.

    Stédile classificou como "vergonhoso" o fato de a esquerda brasileira não ter meios de comunicação próprios e fortes e falou em "crise geral" deste setor político no país. "Estamos vivendo uma crise de organização da esquerda, dos movimentos populares. Vai levar um tempo até que a gente consiga chegar às massas. É preciso ter militância, movimentos populares organizados, vontade política, ter visão estratégica para saber pelo que nós temos que nos mobilizar nessa luta anticapitalista e por um mundo melhor”.

    Ainda sobre o caso de Israel e Palestina, o líder do MST citou manifestações pró-Palestina no Brasil e no mundo como "sinais" de que a burguesia não consegue controlar 100% da narrativa. “São sinais de que a hegemonia ideológica do capital e seus aparatos de meio de comunicação de massa, televisão, redes sociais não conseguiram derrotar as ideias da solidariedade e da luta. Porém, essas mobilizações não são em torno de um projeto. Elas são muito mais reações indignadas a um crime. (...) Há sinais de que a burguesia não consegue controlar as mentes e corações todo o tempo. Porque a campanha pró-Israel que eles têm feito nesses meses é vergonhosa. O Jornal Nacional aqui no Brasil, que é visto por 80 milhões de brasileiros, parece o departamento de propaganda do sionismo internacional. E mesmo assim as pessoas estão revoltadas contra o governo de Israel? Então é um sinal de que há energias latentes que nós poderemos, no futuro, mobilizar. Mas aquele processo de movimento de massas depende de um fator fundamental: a classe trabalhadora. E a classe trabalhadora aqui no Brasil, nos Estados Unidos e em todo mundo ainda está inerte, como que na ressaca da derrota que sofreu nessas últimas três décadas”.

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