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    “A quartelada não está fora do cenário, mas os militares não têm projeto”, diz professor Eduardo Costa Pinto

    “Mesmo que se coloque alguém no comando do Exército, da Marinha ou da Aeronáutica que tenha alguma afinidade maior com o Bolsonaro, nenhum deles irá encampar um projeto de golpe clássico, a partir do topo”, acredita o pesquisador da área militar e professor da UFRJ

    Eduardo Costa Pinto, Jair Bolsonaro e Augusto Heleno (Foto: ABr | Reprodução)

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    247 - A possibilidade de um golpe militar concreto a partir da mudança na cúpula das Forças Armadas pelo governo Bolsonaro é umas dúvidas que tem permeado boa parte das análises políticas entre esta segunda e terça-feira, quando houve uma reforma ministerial com um total de seis mudanças, inclusive na Defesa, e a demissão conjunta dos chefes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.

    Na opinião do professor da UFRJ Eduardo Costa Pinto, pesquisador da área militar, não é prudente se descartar a hipótese de uma “quartelada”, mas este não é o caminho mais provável, pois segundo ele, “os militares não têm um projeto” e já se sentem no poder, ao ocupar milhares de cargos no governo Bolsonaro, como nunca antes na história brasileira.

    “Mesmo que se coloque alguém no comando do Exército, da Marinha ou da Aeronáutica que tenha alguma afinidade maior com o Bolsonaro, nenhum deles irá encampar um projeto, uma lógica aí de um golpe clássico, a partir do topo”, avalia o professor, em entrevista à TV 247 na tarde desta terça, logo após a demissão conjunta nas Forças Armadas. 

    “É evidente que, num momento como esse de caos institucional, não podemos descartar a possibilidade de alguma quartelada. Isso não está fora do cenário. Mas os militares hoje, como movimento orgânico, pensando no que foi 64, eles não têm projeto. O que os unifica é o marxismo cultural, a ideia de defesa da pátria (que é a questão da Amazônia e ONGs)... não tem nada a ver com indústria, desenvolvimentismo. Não existe esse militar hoje. Eles pensam ‘não vou entrar nisso porque o custo é enorme’ e eles já estão no poder hoje”, completa.

    Demissão inédita nas Forças Armadas

    Pela primeira vez na história, os três comandantes das Forças Armadas foram demitidos de uma vez pelo ministro da Defesa, Braga Netto.

    A nota oficial do Ministério da Defesa desmente a versão corrente de que eles teriam colocado seus cargos à disposição,  como é de praxe numa situação dessas. Ao contrário, a nota oficial informou que "os Comandantes da Marinha, do Exército e da  Aeronáutica serão substituídos" e que a "decisão foi comunicada em reunião realizada nesta terça-feira (30), com presença do  Ministro da Defesa nomeado, Braga Netto, do ex-ministro, Fernando Azevedo, e dos  Comandantes das Forças".

    A crise  militar foi gerada pelo anúncio inesperado da saída de Azevedo.O motivo da demissão sumária do ministro foi o que aliados dele chamaram de "ultrapassagem da linha vermelha": Bolsonaro vinha cobrando manifestações políticas favoráveis aos interesses do governo. Tanto Azevedo como o comandante do Exército, Edson Pujol, teriam se recusado a cumprir a orientação de Bolsonaro. 

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    Leia também matéria da Rede Brasil Atual sobre o assunto:

    Comandantes das Forças Armadas deixam governo Bolsonaro após crise provocada pelo presidente

    Após a segunda-feira tempestuosa em que o presidente da República, Jair Bolsonaro, trocou seis ministros, a tarde desta terça começa com o anúncio da renúncia coletiva dos três comandantes das Forças Armadas: Edson Leal Pujol (Exército), Ilques Barbosa (Marinha) e Antônio Carlos Bermudez (Aeronáutica) reagiram à intempestiva “reforma ministerial” do chefe do governo que “queimou” o até então ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, muito respeitado na força que comanda. Os comandantes anunciaram sua decisão após reunião com o novo titular da Defesa, general Braga Netto.

    Segundo inúmeras informações de Brasília, a recusa de Azevedo e Silva de apoiar explicitamente a intenção de Bolsonaro de endurecer contra os governadores na decretação de lockdowns motivou a demissão do general. O presidente teria pedido a cabeça de Pujol, por considera-lo fraco,  e ficado furioso com a negativa do ex-ministro da Defesa.

    O ato dos três comandantes é inédito na história brasileira. Eles deixam claro, com o gesto, que não têm a menor intenção de ultrapassar as linhas do Estado democrático de direito e violar a Constituição, que é o sonho de Bolsonaro. Em abril de 2016, ao votar pelo impeachment de Dilma Roousseff, o atual presidente da República votou “pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff”, o que foi considerado “estarrecedor” por políticos e ativista dos direitos humanos.

    A demissão de Azevedo e Silva provocou uma crise de Bolsonaro com a área militar que deve enfraquecê-lo ainda mais. O presidente está acuado. Ele tem hoje justamente o apoio parte de uma base militar (incluindo as PMs), um pequeno segmento da área empresarial, os defensores de armamento e evangélicos fundamentalistas. A crise armada com a caserna enfraquece sua relação com as Forças Armadas, cujo respeito à hierarquia é basilar.

    Segundo O Estado de S. Paulo, a reunião entre os três comandantes e Braga Netto e foi tensa. Ilques Barbosa, da Marinha, teria sido o mais exaltado, “com reações que beiraram à insubordinação, conforme relatos de presentes”, relata o jornal.

    “Insano desonrou a farda”

    “Está chegando ou já chegou a hora de as Forças Armadas decidirem se embarcam na aventura golpista de um insano que inclusive desonrou a farda ou se ficam com a Constituição e a democracia”, postou o ex-presidente da OAB-RJ Wadih Damous, no Twitter.

    Embora tenha ficado com a Secretaria de Governo, com a deputada federal Flávia Arruda (PL-DF), na “reforma” ministerial, ainda não se pode prever qual será a reação do bloco informal no Congresso à crise político-militar armada pelo presidente. Na semana passada, o presidente da Câmara, Arthur Lira, deu um recado ao presidente, afirmando sobre os “remédio amargos”, alguns dos quais “fatais” disponíveis no Parlamento. O deputado recomendou “autocrítica, instinto de sobrevivência, da sabedoria, da inteligência emocional e da capacidade política”. Todos atributos que Bolsonaro, mais uma vez, comprovou não ter.

    Na mesma semana, as avaliações dos de cientistas políticos de Brasília eram de que Bolsonaro nunca esteve tão próximo do impeachment e que, depois da fala de Lira, a pressão sobre o presidente triplicou.

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