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    Desmatamento na Amazônia dispara e atinge maior nível em 11 anos, mostra Inpe

    Levantamento foi feito pelo sistema Prodes, do próprio governo federal, que é o mais preciso para medir as taxas anuais. Desmatamento na região cresceu quase 30% entre agosto de 2018 e julho de 2019

    Desmatamento na Amazônia (Foto: REUTERS/Ricardo Moraes)

    SÃO JOSÉ DOS CAMPOS (Reuters) - O desmatamento na floresta amazônica brasileira atingiu neste ano o maior nível em mais de uma década, informou nesta segunda-feira o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), confirmando dados antecipados pela Reuters no domingo.

    De acordo com o Inpe, a área desmatada cresceu 29,5% nos 12 meses encerrados em julho, totalizando 9.762 quilômetros quadrados.

    O número representa o maior nível de desmatamento da Amazônia desde 2008 e confirma dados mensais preliminares que mostravam um aumento significativo do desmatamento durante o governo do presidente Jair Bolsonaro, que defende o desenvolvimento econômico da região.

    No domingo, fontes ouvidas pela Reuters com conhecimento dos dados afirmaram que a área desmatada seria a maior desde 2008, com base justamente nos dados de desmatamento mensal, apurados pelo sistema Deter, do Inpe. O dado anual, de agosto de um ano a julho do ano seguinte, é apurado pelo sistema Prodes, também do Inpe.

    A Amazônia é a maior floresta tropical do mundo e é considerada fundamental para o combate às mudanças climáticas devido à grande quantidade de dióxido de carbono que absorve.

    As ameaças à floresta repercutiram pelo mundo em agosto, quando focos de incêndio se espalharam pela região, provocando duras críticas ao governo brasileiro, em especial do presidente da França, Emmanuel Macron.

    Em entrevista coletiva sobre os números anunciados nesta segunda-feira, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse que o governo adotará uma série de medidas para combater o desmatamento, incluindo intensificação dos esforços de fiscalização com a utilização de imagens de satélite de alta resolução.

    Segundo o ministro, o desmatamento é causado principalmente por atividades econômicas ilegais na região, como garimpo, extração de madeira e ocupação do solo, que acontecem há vários anos.

    O preço das carnes está em alta no país, o que tem aumentado a ocupação de terras para a pecuária, que é um das principais causas do desmatamento na região.

    Ambientalistas e organização não governamentais culpam principalmente o governo, dizendo que a postura do presidente Jair Bolsonaro a favor do desenvolvimento econômico da Amazônia e suas políticas de enfraquecimento das medidas de fiscalização ambiental estão por trás do aumento das atividades ilegais.

    “O governo Bolsonaro é responsável por cada palmo de floresta destruída. Este governo hoje é o pior inimigo da Amazônia”, disse Marcio Astrini, coordenador de Políticas Públicas do Greenpeace, em comunicado.

    Procurado, o Palácio do Planalto citou as declarações feitas por Salles sobre o tema e não fez qualquer comentários adicional.

    Em agosto, a Reuters noticiou que o governo Bolsonaro enfraqueceu o Ibama, inutilizando uma força de elite da agência para combater crimes ambientais e proibindo agentes de queimarem maquinário utilizado para o desmatamento ilegal.

    O Observatório do Clima, uma rede de ONGs que inclui o Greenpeace, disse que o aumento do desmatamento em 2019 foi o mais rápido em termos percentuais desde os anos 1990 e o terceiro mais rápido desde o início dos registros.

    “A dúvida que permanece é até quando parceiros comerciais do Brasil irão confiar nas promessas de sustentabilidade e cumprimento do Acordo de Paris, enquanto florestas tombam, lideranças indígenas são mortas e leis ambientais são esfaceladas”, disse Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima, em comunicado.

    Os dados divulgados nesta segunda vão de agosto de 2018 a julho de 2019, deixam de fora, portanto, os meses de agosto e setembro deste ano, quando o dado mensal de desmatamento apurado pelo Inpe indicou forte elevação da perda florestal na comparação com o ano anterior. Esses dados estarão no dado acumulado de agosto deste ano a julho de 2020.

    “Tendência fortíssima de alta. Sem ações firmes de controle, Prodes 2019/2020 passará de 12 mil quilômetros quadrados. Desastre encomendado”, disse o ex-diretor do Inpe, Gilberto Camara, em sua conta no Twitter.

    A elevação do desmatamento da Amazônia também gerou reações no Congresso Nacional.

    “O aumento das queimadas na Amazônia é uma clara consequência da grave política ambiental colocada em prática desde o dia 1º de janeiro de 2019. O mais grave é que o governo de Jair Bolsonaro desqualifica os dados científicos. Se o governo continuar com o desmonte da fiscalização e da preservação, o Brasil vai bater todos os recordes de destruição da Amazônia”, disse o líder da oposição na Câmara dos Deputados, Alessandro Molon (PSB-RJ), que também é membro da frente parlamentar ambientalista.

    Salles disse que vai se reunir com governadores dos Estados amazônicos na quarta-feira para discutir formas de enfrentar o desmatamento, acrescentando que os dados mostram que uma nova estratégia é necessária e é importante desenvolver oportunidades econômicas sustentáveis na região.

    Todas as opções estão sobre a mesma para enfrentar o desmatamento, incluindo utilizar as Forças Armadas em algumas operações ambientais, afirmou. O governo Bolsonaro já recorreu às Forças Armadas neste ano, por meio de um decreto de garantia da lei e da ordem (GLO) para conter o aumento das queimadas na região.

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