Bolsonaro admite afogamento e outras violências na ditadura e tenta justificar a tortura
Em podcast, ocupante do Planalto não foi questionado sobre defesa do coronel Brilhante Ustra, chefe do centro de operações onde morreram brasileiros que lutavam por democracia
247 - Jair Bolsonaro (PL) admitiu que houve "coisa errada" na ditadura militar (1964-85), citando "cascudo, tapa ou afogamento", durante entrevista ao canal de YouTube Cara a Tapa neste sábado.
Apesar da fala reconhecendo práticas relacionadas à tortura, o presidente não falou sobre as pessoas que foram mortas pelo regime.
Bolsonaro com frequência enaltece a ditadura militar, que teve uma estrutura dedicada a tortura, mortes e desaparecimento.
"Teve coisa errada? Ninguém vai negar que não teve. Levou cascudo, tapa ou afogamento", disse Bolsonaro. "Ninguém vai negar que teve isso, agora ninguém pode negar que pro lado de cá, nós sofremos também.”
O entrevistador não questionou a defesa que Bolsonaro fez no dia da votação do impeachment na Câmara dos Deputados, em abril de 2016, em que zombou da tortura sofrida pela então presidente, Dilma Rousseff.
”Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff, pelo exército de Caxias, pelas Forças Armadas, pelo Brasil acima de tudo e por Deus acima de tudo, o meu voto é sim”.
Brilhante Ustra foi comandante do Doi-Codi em São Paulo, o centro de operações da ditadura, onde morreram o jornalista Vladimir Herzog e o metalúrgico Manuel Fiel Filho.
Na live deste sábado, Bolsonaro falou sobre Carlos Lamarca (1937-1971), guerrilheiro que liderava a luta armada contra a ditadura militar.
A Comissão Nacional da Verdade, cujos trabalhos foram concluídos em 2014 para apurar violações de direitos humanos no Brasil no período, apurou o cenário de mortes e tortura do Estado durante o período autoritário, registrou a Folha de S. Paulo.
Em seu relatório, a comissão apresentou detalhes sobre prisões, tortura e assassinatos. Foram identificadas 434 mortes e desaparecimentos de vítimas do regime militar.
Auditorias da Justiça Militar receberam 6.016 denúncias de tortura. Estimativas feitas depois apontam para 20 mil casos. Os relatos de pessoas que sobreviveram às torturas incluem presos que foram pendurados em paus de arara, choques elétricos, estrangulamento, afogamento, socos e pontapés.
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