"Bolsonaro é 'tirano solitário' que vive sob a lógica do medo", diz psicanalista
Para o psicanalista e professor titular da USP Christian Dunke, Jair Bolsonaro é um "tirano tirano solitário dependente de uma lógica do medo, de uma lógica da conspiração. Porque ele chegou naquele lugar à base de traição e conspiração”
José Eduardo Bernardes, Brasil de Fato - “O tirano solitário está dependente de uma lógica do medo, de uma lógica da conspiração. Porque ele chegou naquele lugar à base de traição e conspiração”. É assim que o psicanalista Christian Dunker, professor titular da Universidade de São Paulo (USP), analisa clinicamente a figura do presidente Jair Bolsonaro (PSL).
A definição do psicanalista sobre alguém que se sente acuado todo o tempo, é a mesma que Bolsonaro fez representar semanas atrás, quando compartilhou em seu perfil nas redes sociais, um vídeo em que se coloca na posição de um leão, cercado por hienas, que representam partidos políticos de oposição, instituições como o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF).
“Isso faz com que ele comece a descartar os seus aliados mais instrumentais e inicie um processo de purificação que termina nele, ele sozinho, seus afetos e suas paixões tristes”, completa o psicanalista.
Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato durante o seminário “Democracia em Colapso”, organizado pela editora Boitempo, Dunker falou sobre a relação de Bolsonaro com os filhos, a psicologia das massas em Freud e o uso das redes sociais, da religião como pano de fundo do conservadorismo e o fim do neoliberalismo. Para ele, as reações de Eduardo, Carlos e Flávio Bolsonaro nas redes sociais e a forma como eles buscam influenciar os debates em torno da gestão do pai, Presidente da República, são uma “patologia nacional”.
“A gente pode ligar com o personagem do Machado de Assis, o pai de Brás Cubas, aquele que exige aparência em público e sanciona os maus-tratos que ele vai ter com os escravos, as mulheres no privado. É o tipo de educação que diz e promete para o filho que ele será uma extensão do pai e que no fundo ele já o pai. É a cultura do herdeiro”, argumentou.
Para o psicanalista, no entanto, “Bolsonaro é uma variante disso”. “Na verdade ele é um pai fraco, que comete bravatas, que fala mais do que pode, que se desdiz constantemente, e que portanto inverte essa relação de dependência, se tornando ele dependente dos filhos, ele incapaz de limitar os filhos".
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