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Brasil declara anistia política a chineses presos injustamente pela ditadura militar

Nove chineses que estavam no Brasil para instalar uma representação comercial foram presos dois dias depois do golpe militar sob falsa acusação

(Foto: Divulgação)

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247 - O ministro dos Direitos Humanos, Sílvio Almeida, decidiu na terça-feira (6) anistiar os nove chineses presos no dia 3 de abril de 1964, sob a falsa acusação de que preparavam uma “revolução comunista” no Brasil.

A Portaria assinada pelo ministro declara a “anistia política a Wang Wei Chen; ChunChin Tung; Hou Fa Tseng; Wang Chih; Su Tse Ping; Chang Pau Sheng; Wang Yao Ting; May Yao Tseng; Sung Kuei Pao”, e oficializa, “em nome do Estado brasileiro, o pedido de desculpas pela perseguição sofrida no período ditatorial” 

Em 3 de abril de 1964, três dias após o golpe de Estado que deu início à ditadura militar brasileira, a polícia invadiu dois apartamentos no Rio de Janeiro e prendeu nove chineses sob a acusação de que seriam agentes estrangeiros trazidos ao Brasil para fazer uma revolução comunista, escreve Rafael Henrique Zerbetto.

As provas para incriminar os chineses foram inventadas: “Eles não acharam nada contra nós, então disseram, que nossos remédios chineses contra gripe e nossas agulhas de acupuntura seriam para assassinar pessoas” - recordou-se Ju Qingdong, a única vítima ainda viva, em entrevista ao jornalista Marcelo Ninio, publicada na Folha de S. Paulo em 2014. 

Uma notícia publicada no Diário de Notícias no dia 4 de abril de 1964 confirma as palavras do sr. Ju: a versão que circulou na imprensa brasileira naquela época afirmava que os chineses tinham a missão de envenenar o governador do Rio de Janeiro, Carlos Lacerda, e os generais Amauri Kruel e Castelo Branco - três homens ligados ao regime recém instaurado. A notícia também aponta a existência de uma lista com contatos de políticos e de um jornalista de Última Hora, o único jornal que se opôs ao golpe. 

Em visita a Pequim, o vice-presidente João Goulart permitiu à China estabelecer um escritório comercial permanente e uma exposição comercial e industrial no Brasil. Baseado no princípio da reciprocidade, o acordo permitia ao Brasil organizar uma representação comercial e uma exposição de produtos brasileiros em solo chinês. A renúncia do presidente Jânio Quadros obrigou Jango a retornar imediatamente ao Brasil para assumir a presidência da república, cargo que ocuparia até ser derrubado em 64. 

Em dezembro de 1961, a China enviou seus primeiros representantes ao Brasil, os jornalistas Ju Qingdong e Wang Weizheng, da agência de notícias Xinhua . Outros quatro chineses, Su Ziping, Hou Fazeng, Wang Zhi kaj Zhang Baosheng, chegaram ao Brasil em 1963 para organizar a exposição comercial. 

Em fevereiro de 1964, chegaram os outros três: Wang Yaoting, vice diretor da Companhia Chinesa de Importação e Exportação de Têxteis; Ma Yaozeng, classificador de algodão; e Song Gueibao, intérprete, para comprar algodão brasileiro. Opositores do governo viam a missão chinesa com desconfiança, alegando que o presidente estaria planejando uma revolução comunista no Brasil com ajuda de agentes estrangeiros, e essa narrativa, embora fantasiosa, endossou o golpe de 64.

Os chineses foram condenados a dez anos de reclusão, sendo que já haviam cumprido um, mas o embaraço diplomático causado pela injustiça evidente de tal condenação levou o presidente Castelo Branco a decretar a expulsão imediata dos nove chineses, proibindo-os de retornar.

Arquivado em 1965, o processo contra os chineses permaneceu no esquecimento até 2022, quando João Vicente Goulart, filho do ex-presidente João Goulart, solicitou ao STF sua anulação.

Em 2015, a então presidenta da república Dilma Rousseff, como forma de reparação pelo dano causado aos chineses, os admitiu, no grau de oficial, na Ordem do Cruzeiro do Sul, gesto muito apreciado pela China. A embaixada do Brasil em Pequim ficou incumbida de organizar uma cerimônia para a entrega das medalhas, mas o golpe de 2016 fez o assunto cair no “esquecimento”.

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