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    'Brasil quer transferência de tecnologia agrícola', diz ministro Paulo Teixeira em visita à China

    Agenda da Cosban na China contou pela primeira vez com uma delegação de organizações populares do campo

    Ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira (Foto: Yuri Gringo/Divulgação/MST)

    Por Mauro Ramos, Brasil de Fato - Ministro do Desenvolvimento Agrário Paulo Teixeira junto a delegação de integrantes do MST, Contag, Contraf e MPA em fábrica de máquinário agrícola para agricultura familiar na China - Raul Pereira

    “Nós estamos conversando agora [para ver] como fazer parcerias empresariais em que há transferência de tecnologia [para o Brasil]", disse o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, nesta semana, em visita à China. Ele é um dos seis ministros que integram a delegação liderada pelo vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, que encerrou, nesta sexta-feira (7), as agendas relacionadas à VII Reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban).

    “Inclusive conversamos aqui com a presidenta Dilma Rousseff, que está presidindo o banco de desenvolvimento do BRICS (Novo Banco de Desenvolvimento, NDB) pra ajudar as empresas brasileiras nessas parcerias, com financiamento”, completou Teixeira.

    O diálogo com o NDB inclui possíveis financiamentos a programas de fortalecimento de cooperativas, aquisição de máquinas e produção de fertilizantes orgânicos para a agricultura familiar no Brasil.

    Junto ao ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, Teixeira participou de uma das primeiras atividades realizadas nos marcos da Cosban, um fórum com autoridades chinesas sobre a Luta contra a Pobreza e pela chamada Revitalização Rural.

    “O presidente Lula quer avançar com os pequenos agricultores”, afirmou Dias. Nesse sentido, a parceria com a China amplia muito a produtividade nas cerca de 4 milhões de propriedades de pequenos agricultores no Brasil, para “garantir não só colheitadeira, plantadeira, máquinas para o preparo da terra, mas, também, para o beneficiamento de produtos”.

    A atividade foi organizada pelo Centro de Cooperação Econômica da China do Departamento Internacional do Comitê Central do Partido Comunista da China (CECC), a Universidade de Brasília (UnB), o Instituto Taihe e a Associação Internacional para Cooperação Popular (Baobab).

    Movimentos na Cosban

    Esta foi a primeira vez que as maiores organizações populares do campo do Brasil compareceram a uma agenda nos marcos da Cosban. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Brasil (Contraf) e Movimento de Pequenos Agricultores (MPA).

    “Queremos que o Brasil avance na indústria de máquinas, não importando, mas produzindo. Importando, se for o caso, mas que consiga trazer para indústria brasileira o avanço tecnológico, a exemplo do que a China conseguiu”, afirmou Elias Araújo, dirigente do MST.

    O ministro Wellington Dias valorizou também a cooperação nas áreas da assistência técnica e entre universidades, como as da Universidade de Agricultura da China com a Universidade de Brasília.

    A parceria entre a Universidade da Agricultura da China e o Consórcio Nordeste é a que permitiu um primeiro envio de máquinas agrícolas para agricultura familiar do Nordeste, uma região onde esse setor possui uma taxa de mecanização inferior a 3%. 

    Colheita de arroz no Assentamento Cristina Alves do MST com máquinas chinesas da parceria entre Consórcio Nordeste e Universidade de Agricultura da China / Eduardo Moura/MST-MA

    Aristides Santos, presidente da Contag, frisou a necessidade de instalação de fábricas na região devido a esse fator. Também destacou que as máquinas devem estar “adaptadas a nossa realidade, e com nosso envolvimento nas universidades, dos nossos técnicos agrícolas”.

    “[É necessário] que a gente possa estudar melhor aquilo que é mais adequado pra gente, porque não basta mecanizar, mas tem que mecanizar na ótica da agricultura familiar, das condições do nosso solo, nosso clima, pra poder ser uma coisa sustentável”, defende Aristides.

    Avanços nas parcerias e trocas

    A delegação da agricultura familiar se deslocou até a província de Shandong, para visitar uma fábrica da Lovol, uma  empresa chinesa de máquinas para agricultura familiar que possui fábrica no Brasil. E também conheceu uma cooperativa modelo da política de revitalização rural do país.

    “Essa empresa emprega 10 mil trabalhadores, produz tratores e implementos agrícolas. E quer fazer parceria com o Brasil. Nós também levamos industriais brasileiros que querem fazer parcerias, joint ventures, pra levar essa tecnologia que eles têm, tecnologias muito novas e muito importantes nessa área de maquinários agrícolas”, contou Teixeira.

    A experiência visitada foi da União Cooperativa Profissional de Cultivo de Weifang Yuquanwa, composta por mais de 600 pequenos agricultores focada em cultivos orgânicos, biogás e produção de fertilizantes orgânicos.

    Outro caso do processo de “revitalização rural” compartilhado durante o fórum, foi a da província de Jilin, onde políticas de melhoramento da infraestrutura e de apoio aos camponeses, como no caso anterior, permitiram o aumento da renda das famílias do campo nos últimos anos.

    Yu Leqian, do Departamento Provincial de Agricultura e Assuntos Rurais de Jilin, contou que, desde 2012, a renda da população rural com menos recursos da província aumentou cinco vezes: “passou de menos de [equivalente a] R$ 1.895 para R$ 11.667 em 2023.

    “Todos os povoados passaram a ter acesso a estradas pavimentadas, serviços de comunicação 4G e 5G e eletricidade. Alguns dos povoados vivem agora uma vida tão boa quanto a da população urbana”, disse Leqian.

    Para o professor da Faculdade de Humanidades e Estudos em Desenvolvimento, da Universidade de Agricultura da China, Ye Jingzhong, o exemplo das políticas de combate à pobreza da China tem a ver com recursos financeiros mas principalmente com a mobilização de amplos setores da sociedade chinesa para esse fim.

    “É muito importante o seguinte: chamar a atenção de toda a sociedade, incluindo as agências governamentais, incluindo as organizações sociais, para trabalharem na pobreza rural para fazer com que as pessoas prestem atenção no combate à pobreza”, avalia o professor.

    “E temos muitos mecanismos, por exemplo, para fazer com que as funcionários dos governos venham aos povoados para serem responsáveis ​​pela redução da pobreza, que os setores empresariais também estejam conectadas a esses povoados, para se envolverem na redução da pobreza”, explica.

    A pesquisadora visitante na CAU, Caroline Gomide, da UnB, avaliou o encontro entre a delegação brasileira e os especialistas e funcionários chineses como um marco histórico.

    “Não nos resta dúvidas que esse é um marco histórico na exitosa relação de 50 anos entre nossos países, uma vez que anuncia a agricultura familiar como uma nova frente de cooperação para os próximos anos. É também um marco para agendas inovadoras para o Sul Global, que emerge como novo arranjo mundial guiado pela paz e pela prosperidade comum”, disse Gomide. 

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