"Cérebro" da Lava Jato na Suíça fez lobby para que Petrobrás o contratasse
O ex-procurador suíço Stefan Lenz, verdadeiro cérebro da Lava Jato na Suíça, fez lobby com seus colegas da operação de Curitiba para que fosse contratado pela Petrobrás. Pedido foi formalizado em carta enviada ao procurador Orlando Martello, da Lava Jato, que também faz parte dos documentos obtidos pela defesa do ex-presidente Lula, após a liberação do STF
247 - O ex-procurador suíço Stefan Lenz, que liderava as investigações contra a Petrobrás e a Odebrecht na Suíça, sugeriu ao procurador Orlando Martello, da Lava Jato, que a estatal brasileira o contratasse para aumentar a possibilidade de a empresa recuperar dinheiro desviado. Ou seja: o procurador suíço queria sua contratação pela empresa que investigava.
O lobby pela sua própria contratação foi feito em carta de julho de 2016, de acordo com informações publicadas pela coluna de Jamil Chade. A carta faz parte dos documentos obtidos pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após a liberação do Supremo Tribunal Federal (STF). Um trecho da mensagem foi incluído em uma comunicação da defesa do presidente ao STF, nesta semana.
Na época, Lenz indicou a existência de investigações desconhecidas dos brasileiros. Então coordenador da força-tarefa da Lava Jato, o procurador Deltan Dallagnol teria arquivado o documento. "Eu nunca fui contratado pela Petrobrás e nunca ajudei", disse Lenz à coluna. "Não houve prática ilegal na troca de provas e informações entre mim e a equipe de Lava Jato", disse o ex-procurador suíço.
A partir de junho de 2019, o site Intercept Brasil passou a divulgar conversas do procurador Deltan Dallagnol com outros promotores e com Sérgio Moro, ex-juiz da Lava Jato. Os diálogos apontavam que Moro e os procuradores feriam a equidistância entre quem julga e quem acusa. Conversavam com o juiz sobre a elaboração das denúncias, violando a garantir constitucional de amplo direito à defesa.
De acordo com uma das reportagens, Dallagnol duvidava da existência de provas contra Lula, acusado de ter recebido um apartamento da OAS como propina, mas nunca dormiu nem tinha a chave do imóvel.
O documento do ex-procurador suíço e repassado à defesa de Lula faz parte do primeiro lote de um terabyte de material apreendido pela Polícia Federal no âmbito da Operação Spoofing, responsável por investigar o acesso a celulares dos procuradores da força-tarefa da Lava Jato. Moro e outros membros do Ministério Público Federal (MPF-PR) tentaram passar a autoridades a mensagem de que a divulgação das conversas foi ilegal, mas não tiveram sucesso.
Advogados de Lula, Cristiano Zanin e Valeska Martins disseram que a informação sobre a recomendação do suíço não representava a totalidade da operação e seria necessário obter todos os sete terabytes de dados. Ao Supremo, a defesa do ex-presidente apontou trechos do que já conseguiram identificar na primeira remessa de informações, como a carta escrita por Lenz.
Diálogos obtidos pela defesa já haviam comprovado que Moro orientou a acusação e que a equipe de Dallagnol manteve conversas clandestinas com autoridades dos Estados Unidos e da Suíça.
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