Com Bolsonaro, Brasil tem maior número de queimadas em 7 anos
O incentivo ao desmatamento feito por Jair Bolsonaro em sua defesa pela ampliação do agronegócio fez com o número de focos de queimadas no Brasil atingisse na última semana o recorde dos últimos sete anos. Segundo dados do Inpe, foram registrados 72.843 pontos entre janeiro deste ano e a última segunda-feira, um número 83% maior do que no mesmo período do ano passado
Lisandra Paraguassu, Reuters - O número de focos de queimadas no Brasil atingiu na última semana o recorde dos últimos sete anos, com 72.843 pontos registrados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) entre janeiro deste ano e a última segunda-feira, um número 83% maior do que no mesmo período do ano passado.
O levantamento do Inpe, feito diariamente por satélite, mostra que apenas entre o domingo e a segunda-feira, apareceram 1.346 novos focos no país. Desde a última quinta-feira, são 9.507 novos pontos de queimada.
Imagens de Roraima mostram o Estado coberto por fumaça escura. O Estado do Amazonas decretou situação de emergência na região sul e na zona metropolitana de Manaus por causa das queimadas. E o Acre instituiu estado de alerta ambiental a partir da última sexta-feira.
Desde janeiro, Mato Grosso foi o Estado que mais acumulou focos de incêndio, com 13.682 pontos, um aumento de 87% em relação ao mesmo período do ano passado. No entanto, os focos vêm aumentando no Pará e no Amazonas.
O primeiro registrou mais de 7 mil pontos de queimada neste mês de agosto e o segundo, 5,3 mil. Apenas nos últimos cinco dias apareceram 478 novos focos no Pará.
Dos 10 municípios com maior número de registros este mês, quatro são no Pará, inclusive os campeões, Altamira e São Félix do Xingu, e Novo Progresso, onde fazendeiros da região marcaram os dias 10 e 11 de agosto como o “dia do fogo”, em que iriam iniciar as queimadas.
Os dados do Inpe mostram, nesses dias, um aumento de 300% nos focos de incêndio em Novo Progresso e de 743% na região de Altamira.
O “dia do fogo” foi revelado pelo jornal “Folha do Progresso” que, ao conversar com fazendeiros da região, teria ouvido que eles precisavam “mostrar ao presidente (Jair Bolsonaro) que querem trabalhar e o único jeito é derrubando”.
Questionado sobre o aumento das queimadas, o presidente Jair Bolsonaro reclamou de estar “sendo acusado de ser Nero”, comparando-se ao imperador romano que teria posto fogo em Roma.
“Era o capitão motosserra e agora o Nero, tocando fogo na Amazônia. É época de queimada por lá”, disse em entrevista ao sair do Palácio da Alvorada na manhã desta terça-feira.
“O pessoal pedindo aí pra eu botar o Exército pra combater... Alguém sabe o tamanho da Amazônia? A distância dos pelotões de fronteira, entre um pelotão de fronteira, é 200 quilômetros! Um dos mais perto... Vai botar quantas pessoas pra apagar fogo na Amazônia, meu Deus do céu? É época de queimada, o que aproveitam no momento?”, reclamou.
Apesar do início da seca nas Regiões Norte e Centro-Oeste do país, a quantidade de focos de incêndio não é considerada pelo Inpe como de origem natural.
O pesquisador Alberto Setzer, coordenador do grupo de monitoramento de queimadas do Inpe explica que não há nada de anormal no clima deste ano. Na região amazônica, a previsão de chuvas neste trimestre está um pouco abaixo da média, mas nada anormal.
“Todos os anos há alterações. Não é nada fora do padrão”, garantiu. “É comum se ouvir dizer que clima causou as queimadas. Não é bem assim. A seca cria condições favoráveis ao uso do fogo e à propagação, mas quando se inicia o fogo é a ação humana, seja de propósito, seja por descuido.”
Em 2018, o Brasil como um todo teve 39.759 focos de queimadas, mas o número foi o mais baixo dos últimos cinco anos. Setzer explica que o ano passado foi especialmente chuvoso, o que ajudou a reduzir os números.
O recorde anterior nos últimos sete anos havia sido em 2016, com 66.622. Mas desde 2014 os números, com apenas essa exceção, têm ficado acima de 50 mil focos no período até agosto.
Os dados das queimadas se somam às demais más notícias para o Meio Ambiente. Dados do próprio Inpe, do sistema de alertas em tempo real Deter, mostram um aumento de quase 50% nos dados de desmatamento entre agosto de 2019 e o último mês de julho, e cresceu 67% apenas nos sete primeiros meses deste ano.
Questionado sobre o aumento no desmatamento, Bolsonaro disse estar esperando os “novos números”.
“Tô esperando, tô esperando as próximas rodadas de números, que não serão números feitos, que vão aparecer sem responsabilidade para mostrar pra vocês, tá?”, disse. “Ninguém vai esconder nada, não. Queremos é responsabilidade, se os números forem alarmantes eu vou tomar conhecimento na frente de vocês.”
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