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    Denúncias contra a Petrobras ou os pesos e medidas da grande mídia

    Reportagem da revista Época do último final de semana é mais uma prova do diversionismo praticado pela Globo, que quer tirar dos holofotes assuntos que não são do seu interesse

    José Dirceu avatar
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    A matéria trazida pela revista Época no último final de semana, sobre suposto lobby e cobrança de propina que teria sido feita por um ex-funcionário da Petrobras para intermediar contratos internacionais da companhia, é mais uma prova reveladora do diversionismo praticado pelas organizações Globo, a fim de tirar do centro dos holofotes da grande mídia assuntos que não são do seu interesse.

    Praticamente ausente da cobertura da delação feita pela Siemens sobre o cartel e o superfaturamento em contratos de licitação para compra de equipamentos e serviços no Metrô e na CPTM, durante sucessivas administrações tucanas em São Paulo, o grupo dos Marinho não poupou linhas para uma reportagem "investigativa" conduzida pelo próprio repórter da revista e para as repercussões da mesma.

    Segundo a matéria publicada, o ex-funcionário da estatal, João Augusto Rezende Henriques, agia como lobista e recebia propina para intermediar o encaminhamento de interesses de empresários em contratos internacionais, cuja maior parte repassaria a políticos do PMDB. A reportagem acusa também a oferta de U$ 10 milhões a supostos lobistas ligados ao PMDB em caso de venda de uma refinaria da Petrobras localizada em San Lorenzo, na Argentina —negócio que nunca foi concretizado.

    As denúncias, desmentidas por João Augusto, que negou ter concedido a entrevista descrita pelo repórter Diego Escosteguy, que assina a matéria, não são acompanhadas por qualquer tipo de documento que fundamente as possíveis irregularidades apontadas ao longo de sete longas páginas. A própria Época faz "mea culpa", ressalvando que "investigações oficiais ainda são necessárias para apurar todas as suas denúncias". Neste ponto, talvez, se estabeleça a enorme diferença entre o chamado jornalismo investigativo e o denuncismo puro e simples, orquestrado mais para confundir do que para esclarecer. Não é demais lembrar que o mesmo jornalista foi autor de matérias denuncistas, cujas acusações nunca se confirmaram, publicadas quando trabalhava para a revista Veja.

    Mas a falta de provas não foi considerada empecilho para que a oposição, especialmente o PSDB -- também muito interessado em desviar a atenção da opinião pública do escândalo do cartel do metrô --, rapidamente arvorasse o seu melhor espírito cívico para tentar, pela enésima vez, instalar uma CPI para investigar a Petrobras.

    Como bem argumentou o senador Wellington Dias (PT-PI), é muito estranho que as denúncias tenham surgido pouco depois das acusações que envolvem governos do PSDB, em São Paulo, no caso do cartel do metrô. O senador pergunta ainda a quem pode interessar, a cada semestre, anunciar a criação de uma CPI para investigar a Petrobras.

    Sabe-se bem a quem pode interessar e qual o interesse exato de quem procura lançar desconfianças sobre uma empresa como a Petrobras, que, à beira da falência e da privatização na era FHC, hoje tem sido decisiva para o crescimento do nosso país.

    O interesse é o de sempre e tantas vezes frustrado: desestabilizar os feitos de um governo que, em dez anos, elevou o Brasil a um patamar de desenvolvimento econômico e social negado e desacreditado por aqueles que, embora tenham tido a oportunidade de trabalhar pelo país, sempre jogaram contra.

    Não sejamos ingênuos. O interesse da grande mídia, e especialmente da Globo, é tirar do centro da atenção os desmandos dos governos tucanos em São Paulo e em Minas e até mesmo questões mais particulares, como os milhões de reais que a empresa sonegou à Receita Federal. Para isso é preciso colocar algo "novo" no lugar.

    Até quando continuarão despejando sua artilharia em denúncias quaisquer, sem nenhuma comprovação, desde que possam intimidar e comprometer outros partidos, ao mesmo tempo em que seguem tratando os governadores tucanos como espectadores passivos do conluio que gerou prejuízos bilionários aos cofres de São Paulo?

    É preciso investigar qualquer suspeita de irregularidade ocorrida em âmbito público. O que não se pode admitir é o modus operandi da grande mídia que, além de desonesto, é ofensivo. Ofende o seu público ao subestimar sua capacidade analítica e de discernimento e presta um desserviço à sociedade, quando, ao defender interesses próprios, falta com a verdade, manipula, distorce e usa, descaradamente, pesos e medidas desproporcionais, conforme o alvo das suspeitas levantadas.

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