Em mensagem, Braga Netto ataca ex-comandantes do Exército e Aeronáutica por não aderirem ao golpe: "cagão"
Segundo Alexandre de Moraes, do STF, mensagens "evidenciaram a participação e adesão de Braga Netto na tentativa de golpe de Estado"
247 - Na manhã desta quinta-feira, uma operação da Polícia Federal teve como um dos alvos o general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil e ex-candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PL) em 2022. Mensagens obtidas pela Polícia Federal durante as investigações sobre 8 de janeiro revelam uma série de xingamentos e ofensas proferidos por Braga Netto contra integrantes da cúpula das Forças Armadas que se opuseram aos planos de golpe de estado, relata o jornal O Globo.
Segundo informações contidas na decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que autorizou a operação, Braga Netto teria se referido ao general Freire Gomes, então comandante do Exército, como "cagão", e solicitado que a cabeça dele fosse "oferecida". Os diálogos, que foram transcritos na decisão do ministro, detalham o teor das conversas entre Braga Netto e seus contatos. >>> Braga Netto coordenou ataques a militares da cúpula das Forças Armadas que 'resistiam às investidas golpistas', diz PF
Em uma das mensagens, Braga Netto teria encaminhado ao ex-militar Ailton Gonçalves Moraes Barros uma afirmação atribuída a um membro das Forças Especiais, culpando o general Freire Gomes pelo que estava acontecendo e pelo que viria a ocorrer. Em resposta, Ailton Barros teria sugerido continuar a pressionar o general Freire Gomes e, caso ele persistisse em não aderir ao golpe de Estado, proposto "oferecer a cabeça dele aos leões". Braga Netto teria concordado com a sugestão, ordenando: "Oferece a cabeça dele. Cagão".
Ailton Barros, que trocou mensagens com Braga Netto sobre Freire Gomes, é um ex-militar que foi candidato a deputado estadual pelo PL, partido de Bolsonaro. >>> "Se tiver que virar a mesa é antes das eleições", disse Heleno em reunião com Bolsonaro
De acordo com Moraes, Braga Netto ainda proferiu comentários depreciativos sobre o ex-comandante da Força Aérea Brasileira, tenente-brigadeiro Baptista Júnior. Em uma mensagem datada de 15 de dezembro de 2022, o ex-general orientou Ailton Barros a atacar Baptista Júnior, a quem adjetivou de "Traidor da pátria".
Estas revelações surgem em um contexto em que Bolsonaro teria reunido os chefes das Forças Armadas para apresentar uma minuta golpista no início de dezembro. Segundo a delação premiada do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, o almirante Almir Garnier Santos, então comandante da Marinha, teria afirmado a Bolsonaro que suas tropas estavam prontas para aderir a um eventual chamamento. No entanto, o general Freire Gomes teria se posicionado contrário a essa ideia, assim como o comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior. >>> Heleno propôs infiltrar agentes da Abin em campanhas para espionar candidatos a presidente
O ministro Moraes ressaltou na decisão que as conversas "evidenciaram a participação e adesão de Braga Netto na tentativa de golpe de Estado, com forte atuação inclusive nas providências voltadas à incitação contra os membros das Forças Armadas que não estavam coadunadas aos intentos golpistas, por respeitarem a Constituição Federal".
Nota da Polícia Federal – A Polícia Federal deflagrou nesta quinta-feira (8/2) a Operação Tempus Veritatis para apurar organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito, para obter vantagem de natureza política com a manutenção do então presidente da República no poder.
Estão sendo cumpridos 33 mandados de busca e apreensão, quatro mandados de prisão preventiva e 48 medidas cautelares diversas da prisão, que incluem a proibição de manter contato com os demais investigados, proibição de se ausentarem do país, com entrega dos passaportes no prazo de 24 horas e suspensão do exercício de funções públicas. Policiais federais cumprem as medidas judiciais, expedidas pelo Supremo Tribunal Federal, nos estados do Amazonas, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Ceará, Espírito Santo, Paraná, Goiás e no Distrito Federal.
Nesta fase, as apurações apontam que o grupo investigado se dividiu em núcleos de atuação para disseminar a ocorrência de fraude nas Eleições Presidenciais de 2022, antes mesmo da realização do pleito, de modo a viabilizar e legitimar uma intervenção militar, em dinâmica de milícia digital.
O primeiro eixo consistiu na construção e propagação da versão de fraude nas Eleições de 2022, por meio da disseminação falaciosa de vulnerabilidades do sistema eletrônico de votação, discurso reiterado pelos investigados desde 2019 e que persistiu mesmo após os resultados do segundo turno do pleito em 2022.
O segundo eixo de atuação consistiu na prática de atos para subsidiar a abolição do Estado Democrático de Direito, através de um golpe de Estado, com apoio de militares com conhecimentos e táticas de forças especiais no ambiente politicamente sensível.
O Exército Brasileiro acompanha o cumprimento de alguns mandados, em apoio à Polícia Federal.
Os fatos investigados configuram, em tese, os crimes de organização criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.
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