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    Foto indica que Queiroz passou o réveillon na casa de Wassef em Atibaia

    Ao lado da mulher e filho, o ex-assessor de Flávio Bolsonaro aparece em uma varanda, semelhante à das imagens feitas pela Polícia Civil de São Paulo na casa do advogado Frederick Wassef

    Fabrício Queiroz e Márcia Oliveira de Aguiar (Foto: Reprodução)

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    Alice Maciel, da Agência Pública - O ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos), Fabrício Queiroz, teria passado o ano novo com os filhos na casa do advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef, conforme revela foto enviada por uma fonte — que pediu anonimato — à Agência Pública. A imagem reforça as suspeitas da Polícia Civil de que ele estava há cerca de um ano na residência, localizada em Atibaia, no interior de São Paulo, conforme revelou um dos caseiros em depoimento aos policiais.

    Na foto, o ex-assessor de Flávio Bolsonaro aparece abraçado ao filho caçula, que está ao lado da mãe, Márcia Oliveira de Aguiar. Eles estão em uma varanda, semelhante a das imagens feitas pela Polícia Civil de São Paulo que mostraram os detalhes da prisão de Queiroz, localizada à frente na casa de Atibaia. O coqueiro, o piso do chão e a pilastra de madeira revelados na foto indicam que pode ser o mesmo local de sua prisão.

    Em entrevista à CNN Brasil, no entanto, o mesmo caseiro negou que Queiroz estivesse morando no local há muito tempo. “Tem poucos dias que está aí, quatro dias que veio ver um negócio de saúde. O rapaz aqui [Queiroz] estava em tratamento de saúde, estava ficando aqui para se tratar de saúde, estava com câncer, essas coisas, câncer de próstata”, afirmou.

    Mas, Márcia Aguiar, mulher de Queiroz, postou no dia primeiro de janeiro deste ano uma foto em uma casa que seria a de Atibaia, segundo revelou a fonte à reportagem, contrariando a versão do caseiro de que o policial militar aposentado estava há apenas quatro dias no local. A reportagem confirmou que o perfil de Marcia existe no Instagram, mas é privado. Ela também teve prisão decretada pela Justiça. O mandado de prisão foi expedido para o mesmo endereço onde Queiroz estava, mas ela não se encontrava no local e é considerada foragida.

    O advogado Frederick Wassef, dono do imóvel, é responsável pelas defesas de Flávio Bolsonaro e do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e é uma figura constante em eventos no Palácio do Planalto e na residência oficial da presidência.

    A operação que prendeu Queiroz foi batizada de Anjo e é coordenada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, que indicou o paradeiro de Fabrício Queiroz aos policiais de São Paulo. Ainda não houve denúncia, e a suspeita é de interferência dele nas investigações, por isso a prisão preventiva. Queiroz é investigado por participação em suposto esquema de “rachadinha” — quando funcionários são coagidos a devolver parte de seus salários — na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro.

    Irmão de Queiroz: “Se a pessoa deve, ela tem que pagar o erro dela”

    Em entrevista exclusiva à Agência Pública, o irmão de Fabrício Queiroz, Olivier Queiroz, contou que seu último contato com o irmão foi em janeiro de 2019, após a cirurgia que o ex-assessor de Flávio Bolsonaro fez para retirar um tumor. “Mas depois ele sumiu do WhatsApp”, lembrou. “Eu não tenho notícias dele há muito tempo, se eu tivesse, eu te falava porque se a pessoa deve, ela tem que pagar o erro dela, que minha mãe nos ensinou foi isso: andar direito para não ter problema”.

    Apenas familiares de confiança do ex-policial sabiam seu endereço, guardado a sete chaves. Essa é a história que corre na rua onde Fabrício Queiroz nasceu e viveu até seus dezoito anos e onde ainda moram muitos de seus familiares, no bairro São Bernardo, Região Norte de Belo Horizonte.

    Sua madrinha, Maria da Penha, que faleceu este mês, era apontada pelos moradores da rua como uma das guardiãs desse segredo. A reportagem conversou com ela no dia 8 de julho do ano passado e Maria da Penha também garantiu que não via o afilhado há muito tempo, apesar de vizinhos terem relatado que ela esteve com ele em uma viagem à Aparecida do Norte, em São Paulo — para onde a mãe de Fabrício, devota da Santa, sempre levava os filhos quando era viva, conforme revelou um amigo da família. “Ele é um sobrinho muito querido, eu gosto muito dele, gosto muito das filhas dele. Não tenho nada para falar, nem mal, nem bem. Para mim é o sobrinho que eu tenho”, disse à Pública na época.

    Conforme apurou a reportagem, a última vez que Queiroz esteve em sua cidade natal foi em junho de 2018, para uma festa da família. Sempre que ia a Belo Horizonte, ele, a mulher e as filhas se hospedavam na casa de “dona Penha”, uma casa simples, que fica acima de uma loja de açaí, administrada por uma das filhas da matriarca da família.

    Naquela rua sabe-se muito sobre Fabrício Queiroz, mas poucos falam do assunto. Alguns, preferem o silêncio por medo. “Não posso falar nada, ele é miliciano. Ele sempre vinha com um carro diferente aqui, carro blindado. Ele adorava esbanjar dinheiro”, ouvi de um morador. Outros, preferem não dizer nada por respeito a uma amizade de infância. “Já joguei bola com ele aqui na rua”.

    Mudança para o Rio de Janeiro e relação com a família Bolsonaro

    De uma família de cinco irmãos — três homens e duas mulheres — Fabrício Queiroz foi criado pela mãe. O pai, também já falecido, saiu de casa quando ele tinha oito anos e retornou quando os filhos já estavam adultos. Olivier lembrou que era ele, 12 anos mais velho, quem cuidava de Fabrício quando a mãe ia trabalhar. Fabrício foi o único filho a estudar em escola particular e trabalhou como garçom servindo pizza e no bar de um clube de Belo Horizonte.

    Aos dezoito anos de idade, Queiroz saiu da capital mineira em um ônibus de jovens recrutas do exército para fazer um teste de paraquedismo no Rio de Janeiro, e por lá ficou. Foi no 8º Grupo de Artilharia de Campanha Paraquedista que Fabrício Queiroz, em 1984, conheceu Jair Bolsonaro, à época, um dos tenentes responsáveis pela avaliação física dos soldados que concorriam para o curso de paraquedismo. Bolsonaro foi capitão dele no paraquedismo. Fabrício entrou para a Polícia Militar do Rio de Janeiro em 1987 e nos anos 1990 começou a trabalhar com Jair Bolsonaro.

    “O Bolsonaro era deputado federal e aí meu irmão estava em um setor (da polícia) que ele não gostava muito. Aí ele pediu para arrumar um outro setor para ele, com o deputado. Acho que ele conversou com um comandante da polícia lá, não sei. Só sei que quando eu voltei lá (no Rio de Janeiro) ele estava trabalhando com o Bolsonaro e na polícia. Aí ele vinha menos aqui”, contou Olivier Queiroz. Fabrício apresentou Jair Bolsonaro para o irmão em uma “festa de paraquedismo que tem lá no Rio todo ano, há uns quatro anos”. “Ele me apresentou, esse aqui que é o Bolsonaro”, lembrou.

    Fabrício Queiroz virou um braço-direito da família Bolsonaro, um faz tudo. Essa relação é bem conhecida no bairro São Bernardo. Há quem o chame até de “puxa-saco” do clã. De funcionário amigo, no entanto, ele tornou-se pesadelo para seus ídolos.

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