Hora do confronto com Bolsonaro é agora, diz Valter Pomar
Em entrevista a Breno Altman, professor da UFABC disse que é preciso lutar para conseguir vacina e eleger Lula em 2022
Opera Mundi - No programa 20 Minutos Entrevistas desta quarta-feira (24/03), o jornalista Breno Altman entrevistou o professor da Universidade Federal do ABC e membro do diretório nacional do Partido dos Trabalhadores Valter Pomar. Embora considere muito positiva a reabilitação dos direitos eleitorais do ex-presidente Lula o professor foi incisivo ao dizer que não se pode esperar até 2022 para fazer o embate contra Jair Bolsonaro.
“A nós nos interessa que o confronto seja aqui e agora. Não podemos lamentar todo o dia a morte de duas, três mil pessoas não só por covid-19, mas por causa das opções que o governo Bolsonaro fez, e deixá-lo impune e com garantias políticas até 2022”, defendeu.
Para ele, é preciso lutar para inviabilizar Bolsonaro, para conseguir a vacina e, em 2022, para eleger Lula como presidente.
“Muita gente diz que temos que ter os pés no chão porque a situação é difícil, mas é o contrário. Estamos em uma situação que exige radicalidade, exige luta. E a decisão da recuperação dos direitos políticos de Lula na verdade antecipou essa disputa totalmente, porque não acho que Bolsonaro, a direita e as Forças Armadas assistirão paradas a essa mudança que houve no quadro político”, argumentou.
E para vencer essa disputa o professor foi taxativo: é preciso ir à rua. Para ele, não se pode esperar que a vacinação avance para mobilizar o povo, “porque a pandemia atinge a sociedade de maneira desigual, a maioria das pessoas continua trabalhando. A esquerda não pode aceitar a ideia de que nada pode ser feito por causa da pandemia e enquanto isso que fique em casa quem puder”.
Pomar citou como exemplo as manifestações do movimento Black Lives Matter, nos Estados Unidos, pois conseguiu mobilizar um setor da população que votou contra Donald Trump e foi essencial para sua derrota nas urnas. “Se nós acharmos que for possível aguardar que a vacinação se complete, o ritmo da nossa disputa com Bolsonaro vai ser definido por ele, e isso é inaceitável”, reiterou.
Segundo o professor, além do trabalho de mobilização, luta por vacina e pelo auxílio emergencial, “é preciso fazer um esforço de unidade política e ideológica da esquerda em torno de um programa que atente para dois problemas essenciais e imediatos: o setor financeiro, que vai muito bem apesar de tudo e as Forças Armadas. Vivemos sob um governo militar”.
Eleições de 2022
Além disso, Pomar acredita que as eleições de 2018 deveriam ser anuladas, pois “se até o Supremo Tribunal Federal reconheceu que Lula foi condenado injustamente, o ato contínuo é reparar o dano causado ao povo brasileiro com a eleição de um cavernícola que não teria sido eleito se Lula tivesse disputado as eleições”.
Pensando no próximo processo eleitoral, seja ele em 2022 ou antes, o professor se mostrou otimista com relação às possibilidades de a esquerda reconquistar a Presidência, agora que os direitos políticos de Lula foram restituídos.
Segundo ele, o cenário mais provável é de uma polarização entre o bolsonarismo e a esquerda, com a “direita gourmet”, como denominou, ficando para trás. Mas ressaltou que não se pode ignorar a possibilidade de outros cenários: como a direita construindo uma candidatura poderosa ou mesmo se agrupando ao redor de Bolsonaro
“O governo militar também pode tirar o bode da sala. O cenário não está claro, mas 2022 ainda está longe, por isso precisamos de uma política do aqui e agora. A hora do confronto com Bolsonaro é agora”, reforçou.
‘O Brasil precisa de uma revolução política e social’
Se a esquerda retomar o poder, Pomar defendeu que o mais importante será controlar a economia, argumentando também que o Brasil “precisará de uma revolução política e social profunda”, além de que terá de se recolocar na esfera internacional.
Para tanto, ele pondera que o Partido dos Trabalhadores deve encabeçar uma frente de esquerda “que receba todos os dissidentes do outro lado, mas construindo um programa de reformas estruturais que arrebentem com o sistema financeiro”.
O professor da UFABC rejeitou qualquer possibilidade de pactos com o sistema financeiro se o PT quiser realmente desfazer as políticas nocivas de Michel Temer e Bolsonaro, reconstruindo o sistema educacional e de saúde, e gerando emprego.
Comparando com as políticas de governo anteriores do PT, disse que a estratégia era de conciliação com a classe dominante e de transição lenta, segura e gradual do liberalismo tucano para um política de desenvolvimento que aproximasse o Brasil de um estado de bem-estar social.
“Agora precisa ter conflito com as classes dominantes, o capital financeiro e o agronegócio na perspectiva de construir um setor industrial estatal sob controle popular que permita ao Brasil se converter na nação da reindustrialização, com capacidade de se defender do imperialismo e com medidas de natureza socialistas”, disse.
Diferentemente de outras lideranças da esquerda, Pomar não considera a reforma tributária como prioridade. Ele argumentou que é à favor de que seja feita, mas que o tiro pode sair pela culatra e que a reforma “vire um chamariz para a fuga de capital internacional”.
Assembleia Constituinte
Ponto de discordância na esquerda, Pomar forma parte do grupo que defende a chamada de uma Assembleia Constituinte, por considerar a Constituição de 88 obsoleta.
“Tem quem diz que fazer isso só vai piorar a situação porque não temos a correlação de forças adequadas para convocar as constituintes. Mas a gente não vai mudar a correlação de forças se não colocarmos sobre a mesa a necessidade de mudanças profundas. Claro, não queremos fazer uma constituinte num cenário prejudicial, mas é preciso debater a questão”, colocou.
Isso porque, para ele, um governo de esquerda na Presidência terá de fazer reformas mais profundas, ser mais radical e, portanto, precisa de instrumentos que permitam realizar as transformações necessárias. “Precisamos de mais democracia, mais consultas ao povo”, afirmou, apontando também para a necessidade de se realizar mais plebiscitos.
Mudanças no PT
“O PT também precisa de mais democracia, não menos. Foi se criando uma ideia conservadora de que plebiscitos atrapalham, reuniões atrapalham, mas é o contrário”, disse Pomar em referência às mudanças que o partido deveria realizar internamente para se fortalecer no cenário político e voltar ao Palácio do Planalto.
Segundo ele, sendo um partido com mais participação da militância, em constante debate político, o PT se tornaria mais combativo. “É uma mudança de estratégia. O PT caminhava para se tornar um partido parlamentar, para funcionar em anos pares e prestar contas nos ímpares. O PT foi criado para fazer política o tempo todo, mas, com o tempo, foi conferindo à institucionalidade uma importância que foi deformando sua vida interna”, criticou.
No entanto, apesar de defender a necessidade de mudança nos rumos do PT, descartou uma possível decadência do partido e ainda questionou: “Supondo que o PT fracasse, quem ganha? Outro partido de esquerda? Não, a direita. Se o PT não estiver à altura, será uma catástrofe por décadas até outro partido se constituir. E então ele terá de enfrentar os mesmos problemas que o PT vem enfrentando”.
“É um erro outros partidos de esquerda acharem que eles que vão assumir se o PT falhar. Temos que fazer o PT estar à altura das necessidades históricas porque nesse momento nenhum outro partido pode superar o PT. Como diria Winston Churchill, é o pior partido do mundo tirando todos os outros”, disse.
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