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Jessé Souza critica estratégia identitária da esquerda e vê avanço da direita nas periferias

Sociólogo critica abandono das periferias pela esquerda e alerta para a influência das igrejas evangélicas no avanço da direita

Sociólogo Jessé Souza (Foto: Divulgação )

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247 - O sociólogo Jessé Souza, autor de “O pobre de direita — a vingança dos bastardos”, concedeu entrevista ao jornal O Globo na qual analisa o fenômeno do apoio de camadas populares ao bolsonarismo e critica a postura dos partidos de esquerda nas últimas eleições. Souza, que já presidiu o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) no governo Dilma Rousseff, destaca a combinação entre racismo regional e a inação da esquerda como fatores centrais para entender o apelo do ex-presidente Jair Bolsonaro e de figuras como Pablo Marçal, especialmente nas periferias de São Paulo.

Segundo o sociólogo, a adesão de muitos eleitores pobres à direita é marcada pela influência das igrejas evangélicas e pela disseminação de valores neoliberais e reacionários, muitas vezes promovidos pela Teologia da Prosperidade. Ele explica que, ao não disputar narrativas e deixar de lado o trabalho de base nas periferias, a esquerda abriu espaço para que esse discurso ganhasse força. “Passamos por um processo de idiotização das pessoas e de inação dos que deveriam fazer um trabalho de base de qualidade”, lamenta Souza.

Os números mostram que a falta de engajamento da esquerda em dialogar com as comunidades periféricas tem um custo eleitoral. Souza menciona a dificuldade de candidatos como Guilherme Boulos (PSOL) em conquistar votos nas franjas da cidade de São Paulo, onde predominam eleitores que se identificam mais com o discurso de candidatos de direita.

Além disso, Jessé Souza destaca que o bolsonarismo encontra terreno fértil nas regiões sulistas e paulistas, onde há uma maior identificação racial com Bolsonaro. “O pobre de direita de São Paulo ao Rio Grande do Sul vê no ex-presidente Jair Bolsonaro um semelhante”, explica. Ele também aponta que o ressentimento e a frustração econômica levam esses eleitores a adotar uma postura moralista e a culpar outros grupos sociais, como nordestinos e beneficiários do Bolsa Família.

Na entrevista, Souza também critica a abordagem identitária adotada pela esquerda, considerando-a um “erro completo”. Ele defende que a esquerda precisa, além de pautas de gênero e raça, retomar um diálogo que explique as desigualdades econômicas e as limitações estruturais enfrentadas pela maioria pobre. Para ele, isso inclui entender que o mérito individual, promovido pelo discurso neoliberal, não pode ser a única resposta à questão social.

O sociólogo alerta ainda para a crescente influência de líderes religiosos como Pablo Marçal, que souberam capturar o imaginário popular. Marçal é descrito como um “político Bets”, capaz de traduzir os anseios de um eleitorado que busca uma saída mágica para as dificuldades econômicas. “Marçal se tornou referência nacional e me chamou atenção a irmandade de sua visão de mundo com a da Faria Lima, uma aliança extremamente perigosa ao unir muito dinheiro a muita penetração popular”, diz Souza.

Ao final, o sociólogo defende um reposicionamento da esquerda, inspirado na herança de Getúlio Vargas, para reconquistar a confiança dos eleitores mais pobres. “Validar esse pobre é importante. É o que Getúlio fez, inclusive do ponto de vista racial”, argumenta, ressaltando que a esquerda precisa oferecer mais do que políticas assistencialistas: deve trabalhar para restaurar a dignidade dos marginalizados e explicar as verdadeiras raízes das injustiças sociais. Caso contrário, Souza acredita que o avanço do bolsonarismo e de novos representantes da extrema direita, como Marçal, poderá ser irreversível.

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