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    Marilena Chaui: o ódio ao pensamento transformou o cinismo em modo de governar

    "O covarde, como tem medo de tudo, precisa sem cessar exibir signos de sinais de força", disse a filósofa em evento

    Marilena Chaui (Foto: Reprodução)
    Guilherme Levorato avatar
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    Brasil de Fato - A filósofa Marilena Chauí falou durante evento na USP, que conta a presença dos candidatos petistas à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e ao governo de São Paulo, Fernando Haddad, na noite desta segunda-feira (15). Ao descrever a atual situação brasileira, Chauí lembrou os mortos pela covid-19, o cenário de fome e o elevado desemprego no país, sintetizando o quadro. "Isto se chama crueldade", disse.

    "Um filósofo, há muito tempo atrás, escreveu que a covardia é a mãe da crueldade. O covarde, como tem medo de tudo, precisa sem cessar exibir signos de sinais de força. Armas, milícias, mortes. A covardia produz a crueldade", resumiu. 

    Ela também recorreu à filosofia para se referir a uma outra chaga que entende ser um aspecto da realidade do Brasil. "Reina um ódio ao pensamento e esse ódio, disse um filósofo, se traduz numa decisão que é a morte do pensamento. O que nos caracteriza é a diferença entre o verdadeiro e o falso. O ódio ao pensamento é a decisão deliberada de recusar a distinção entre verdade e mentira. Se torna cinismo, e o cinismo se torna arte de governar."

    "Vivemos na crueldade e no cinismo. Mas não vivemos só isso. Vivemos também da necessidade de recuperar a República, de reinstitucionalizar a República, de reinstitucionalizar todas as áreas do Poder Executivo, de refazer todo o campo dos direitos sociais, de encontrar um caminho pelo qual a reforma política libere o Legislativo do peso que lhe cabe e que ele tem que ter, sem compra e venda. É preciso que haja uma reinstitucionalizção que recupere a independência do Judiciário, que desde a Lava Jato se tornou uma questão de luta para nós. E preciso refazer o Brasil."

    Tarefas do ativismo

    Marilena Chauí também mencionou duas tarefas que compreende como principais para as pessoas se engajarem no processo político, lembrando que, nas redes sociais, "não temos a estrutura que o nosso adversário montou". "Nossos  recursos no mundo eletrônico são menores, de menor alcance, mas nós, como pessoas, no ônibus, no metrô, na feira, no mercado, na rua, somos capazes de levantar a nossa voz", ressaltou. "A nossa primeira tarefa é conversar com as pessoas e, em particular, conversar explicando que esse auxílio emergencial só foi possível porque as esquerdas votaram, senão não sairia."

    "Nossa segunda tarefa é fazer com que a população compreenda que as coisas vão mudar, mas vai ser um ritmo lento diante do que será encontrado. É preciso recuperar a economia e recuperar a noção do fundo público para que, através dele, possam ser recuperados os direitos sociais", afirmou a professora.

    Chauí concluiu sua fala lembrando de outro filósofo, Étienne de La Boétie, que tinha 17 anos quando escreveu um texto chamado Discurso da Servidão Voluntária. "Ele perguntava: como é possível que os seres humanos que nasceram para a liberdade e a vida em comum tenham aceitado a tirania? Como é o tirano? Ele tem dois olhos, nariz, boca, duas mãos, dois pés como nós. De onde tira o poder que ele tem?", questionou, explicando em seguida.

    "Por que esse corpo físico é ampliado pelo corpo político, pelo que chamamos hoje de Estado. Os membros do corpo político somos nós, povos insensatos que damos a ele os nossos olhos para que nos espione; nossas mão para que nos esgane; nosso pés para que nos pisoteie, nossos filhos, nossa honra e a nossa vida.  Somos nós que fazemos o poder do tirano por que nós embarcamos na servidão voluntária. Agora, nunca mais servidão voluntária!".

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