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    Primeiras deputadas trans da história rebatem transfobia de bolsonarista: ‘nossa presença não será figurativa’

    “Imunidade não dá direito a cometer crime”, afirmou Erika Hilton. “Fascistas perderam nas urnas e vão perder e estão perdendo na política”, disse Duda Salabert

    Deputadas Erika Hilton e Duda Salabert e o deputado Nikolas Ferreira (Foto: Reuters | Reprodução/TV Câmara)

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    Clara Assunção, RBA - O discurso transfóbico do deputado federal bolsonarista Nikolas Ferreira (PL-MG), nesta quarta-feira (8), levou a uma reprimenda pública de diversos parlamentares. Além disso, provocou as duas primeiras deputadas trans da história do Congresso a repudiar as falas de ódio. 

    Ao anunciar, ainda no início da noite de ontem, que acionaria o Conselho de Ética e o Supremo Tribunal Federal (STF) pela cassação de Nikolas, Erika Hilton (Psol-SP) destacou que a presença das deputadas na Câmara “não será figurativa”. A violência do bolsonarista causa ainda reação das deputadas Tabata Amaral (PSB-SP). Jandira Feghali (PCdoB-RJ), Maria do Rosário (PT-RS) e do próprio presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

     “Nós não toleramos que sejamos feitas de chacota, de piada e ridicularizadas da forma como fomos por esse moleque hoje à tarde. (…) Nós seguimos construindo um mundo que caibam todas as mulheres e todas as humanidades. Tomaremos todas as medidas para que esse criminoso responda por seu crime na justiça”, destacou Erika. A deputada também ressaltou que a imunidade parlamentar “não dá direito de cometer crime contra as pessoas”. 

     “A nossa chegada ao Congresso Nacional significa exatamente o enfrentamento a essa violência, ódio, preconceito e discriminação que foi despejada nas falas desse nojento bolsonarista”, completou. Por conta das declarações preconceituosas, Nikolas já era alvo de pelo menos duas ações no STF com pedido de cassação de seu mandato, até o fim da noite desta quarta. De acordo com deputados federais do PSB, Psol, PDT e PCdoB, o bolsonarista, ao cometer o crime de transfobia, deve ser cassado por quebra de decoro parlamentar. 

    >>> Duda Salabert confronta Nikolas, que fez discurso transfóbico: “não tem coragem de falar na minha frente”

     Crime de ódio

     Em pleno Dia da Mulher, Nikolas pediu a palavra na tribuna do plenário, onde colocou uma peruca loira na cabeça e ironizou a existência de mulheres transexuais. O deputado, que já responde na Justiça pelo crime de injúria racial por conta de uma fala transfóbica contra a também parlamentar Duda Salabert (MG), afirmou que “hoje eu me sinto mulher. Deputada Nicole”, iniciou. 

    “As mulheres estão perdendo seu espaço para homens que se sentem mulheres. Para vocês terem ideia do perigo de tudo isso, eles estão querendo colocar a imposição de uma realidade que não é realidade”, seguiu agredindo o parlamentar. As falas foram rebatidas, ainda na Câmara, pela própria Duda, que associou os ataques à violência que atinge a população transexual e travesti. “Hoje, no dia das mulheres, é importante lembrar que o Brasil há 14 anos consecutivos é o país que mais mata travestis e transexuais no planeta. E que 80% desses assassinatos ocorreram e ocorrem com a violência exagerada, hiperbolizada”, alertou.

     “Dificilmente uma travesti é morta com um tiro ‘só’ no Brasil. Dificilmente uma travesti é morta com uma facada ‘só’ no Brasil. É crime de ódio. É essa estrutura de ódio que nos exclui do mercado formal de trabalho, já que 90% das travestis estão na prostituição. Essa estrutura de ódio que nos exclui das salas de aula, porque 91% das travestis e transexuais não concluíram o ensino médio. É essa estrutura de ódio que quer nos excluir do espaço político”, descreveu a pedetista. 

     Redes cobram ‘cassação já’

     A parlamentar também atribuiu o comportamento do bolsonarista à busca por “engajamento e like” nas redes sociais. Enquanto as deputadas “lutam e sonham por uma sociedade que respeite a diversidade e promova a justiça social”. “Vocês fascistas perderam nas urnas e vão perder e estão perdendo na política. Porque o seu ódio não foi capaz de frear que a deputada federal mais votada da história de Minas Gerais fosse uma travesti. E que a vereadora mais votada da história de Belo Horizonte é uma travesti e que temos duas travestis aqui (na Câmara). Somos as primeiras de muitas”, provocou Duda. 

     “Então o ódio de vocês, beijinhos. Sigamos, com muito amor e poesia. Porque como diziam os nossos camaradas nós não queremos só o pão, nós também queremos a poesia”, acrescentou, ironizando. 

     Após a repercussão do caso, o pedido por ” cassação já” foi parar nos trendings topics do Twitter, nesta quinta (9), como um dos assuntos mais citados. 

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