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    Trio de ministras embala as peripécias de Valdemar Costa Neto, o dono do PL que virou "melhor amigo" de Bolsonaro

    Presidente da sigla que Jair Bolsonaro escolheu para tentar disputar a reeleição ganha poder no Planalto e influência no governo. Ele quer vice mulher na chapa

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    Por Luís Costa Pinto, do 247 – O cassino do Conrad Hotel em Punta del Este, no Uruguai, abrigou na passagem de ano um personagem acostumado a circular em lugares como aquele cercado de mulheres, falando sem moderação e apostando alto no próprio cacife: era “Boy”, apelido do ex-deputado paulista Valdemar Costa Neto, o dono do PL, sigla escolhida por Jair Bolsonaro para tentar ser reeleito presidente em 2022.

    Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ex-presidente (2003-2010) é apontado como franco favorito para vencer o pleito. De acordo com todas as pesquisas pré-eleitorais realizadas por diversas empresas em 2021, Lula vence todos os antagonistas em ensaios de 2º turno e Bolsonaro perde de todos. Nos levantamentos o petista está próximo de uma vitória em 1º turno, o que é improvável, mas não impossível.

    Boy” revelou em voz alta, enquanto falava no celular com um interlocutor não identificado, sentado ao sol numa espreguiçadeira do complexo de 3,4 mil metros do Conrad, ter o desejo de retomar o controle total sobre a diretoria do Banco do Nordeste (BNB). Em outubro Romildo Rolim, executivo nomeado com o beneplácito do próprio Costa Neto, foi demitido depois de ter se recusado a seguir instruções do presidente do PL. O dono do partido de Bolsonaro conseguiu tirar o desafeto o posto em que o colocara, contudo não teve força para nomear o sucessor de Rolim.

    Com patrimônio de R$ 60,5 bilhões, 296 agências, patrimônio de R$ 7 bilhões e 895.000 clientes, o BNB é a maior instituição financeira do País dedicada ao desenvolvimento regional. “Vou resolver todos os problemas pendentes em Brasília até o fim de janeiro”, prometeu ele ao telefone.

    Valdemar quer “engravidar” sigla aliada com vice

    Estar no centro de escândalos políticos, seja como protagonista, seja como coadjuvante, não é novidade para Valdemar da Costa Neto. Condenado na Ação Penal 470 (Escândalo do Mensalão), em 2012, cumpriu pequena parte da pena de sete anos e meio em regime fechado. Depois, no semiaberto e no aberto. No início de 2016, foi liberado para voltar à sua casa com tornozeleira eletrônica. No fim daquele ano, beneficiou-se de um indulto presidencial. 

    No Carnaval de 1994, foi Costa Neto quem levou a modelo e atriz Lilian Ramos para o camarote do então presidente Itamar Franco no Sambódromo. Então deputado e tentando se cacifar como relator de matérias econômicas na Câmara dos Deputados, o dono do PL sabia que uma performance sensual da modelo havia atraído a atenção de Itamar. Ramos foi conduzida ao camarote presidencial trajando apenas uma camiseta, sem calcinha. Flagrada por fotógrafos, em instantâneos que a retratavam de baixo para cima, a modelo pôs Valdemar Costa Neto no coração de um deprimente espetáculo de chauvinismo e misoginia na cena política nacional. Ele forjou a partir do episódio a fama (da qual se jactava) de “Santo Antônio do poder” em Brasília. 

    Santo Antônio é conhecido, na fé católica, como “santo casamenteiro”. Ulysses Guimarães gostava de usar a expressão ‘Santo Antônio de bordel” para definir a personalidade de políticos que faziam discursos a favor da “moralidade” e dos “bons costumes” em público e mantinham por trás das coxias comportamentos imorais – nem tanto do ponto de vista pessoal, mas, sim, em relação ao trato com o erário e a administração pública. “Em muitos bordéis”, dizia Ulysses, “as senhoras dos cabarés têm imagens de Santo Antônio coladas acima de suas camas, pairando sobre suas cabeças enquanto trabalham”.

    Valdemar Costa Neto tenta ser uma espécie de “santo casamenteiro” em outra praça. Dada a octanagem das confusões desencadeadas a partir dela, há quem a considere um bordel: o Palácio do Planalto. Admitido como sócio-remido do clubinho do 4º andar palaciano no qual são definidas as estratégias da campanha de reeleição de Bolsonaro, o dono do PL tem como interlocutores frequentes os generais de pijama Luiz Eduardo Ramos, secretário-geral da Presidência, e Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional. A ambos, já deixou claro o que pensa: a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, filiada ao DEM e que deve se manter na legenda quando ela se fundir ao PSL de vez e passar a se chamar União Brasil, deve ser a vice-presidente bolsonarista.

    Os dois generais da reserva discordam. Eles são linha-auxiliar da campanha do ministro da Defesa, Walter Braga Netto, também general-de-Exército da reserva. Braga Netto deseja o posto hoje ocupado por Hamilton Mourão, outro integrante dos quadros da reserva dos Forças Armadas. Os presidentes do PP e do PRB, legendas que devem seguir aliadas ao PL na campanha presidencial, informaram a Bolsonaro que não desejam filiar Braga Netto porque ele “nada acrescenta” ao eleitorado bolsonarista raiz. “Se o vice sair do bolso de seu colete, pode deixar que ele se filie ao PL. A gente apóia”, disse a Bolsonaro o presidente de uma das outras duas legendas que devem armar o palanque dele.

    Como Valdemar não morre de amores pelo projeto de Braga Netto, é nessa discórdia que ele quer entrar: propôs-se a costurar uma aliança com o União Brasil para ter a sigla no palanque da tentativa de reeleição – o que acrescentaria fundo partidário e tempo de TV a Jair Bolsonaro – a partir da designação de Tereza Cristina para vice. A ministra da Agricultura pretende disputar o Senado pelo Mato Grosso do Sul. Caso ela aceite ser candidata a vice e o União Brasil não feche coligação presidencial, Costa Neto saiu na frente para ser o Santo Antônio no casamento de Tereza Cristina com o PP.

    Se tudo der errado no lobby em que o casamenteiro palaciano aposta a maior parte de seu cacife, Valdemar Costa Neto tem alternativa. Assim como os bons frequentadores de cassino, há sempre uma carta na manga e disposição para blefar. O “plano B” do presidente do PL é Damares Alves, a ministra dos Direitos Humanos e pastora adventista. No caso, Valdemar, que sabe se cercar de mulheres e usar com habilidade o discurso delas para ir furando espaços nos círculos de poder desde os tempos de Itamar, conta com o apoio da primeira-dama Michelle Bolsonaro: ela prefere Damares a todos os nomes elencados como prováveis vices numa chapa que disputará o cada vez mais improvável 2º mandato bolsonarista. Nesse caso, Valdemar apoia a filiação da pastora Damares à sigla da Igreja Universal do Reino de Deus (e da TV Record), o PRB, presidido pelo deputado Marcos Pereira.

    Entre a construção de Tereza Cristina e a afirmação de Damares, Valdemar Costa Neto ainda tenta estabilizar a sangria à qual está submetida a ministra da Articulação de Governo, Flávia Arruda, filiada ao seu partido. Ela vem sendo fustigada por fogo amigo dentro do Palácio. Ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, presidente do PP, quer a tinta da caneta de Flávia e o poder de decisão sobre gestão de verbas orçamentárias que o cargo dela detém. Na última semana, parlamentares do “Centrão”, bloco liderado pela dualidade Ciro Nogueira-Arthur Lira, fustigaram a ministra e pediram a cabeça dela numa bandeja. Bolsonaro não entregou, ao menos ainda, e pediu a Costa Neto que costurasse um armistício com o PP.

    O “Boy” de Mogi das Cruzes (cidade paulista em que Valdemar Costa Neto fez carreira política) já está envergando o summer dos crupiês de cassinos. A roleta do jogo presidencial está rodando no Planalto. Poucos reúnem o poder de fogo e o cacife do dono do PL, convertido a melhor amigo de Jair Bolsonaro.

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