Veto da França ao Brasil na OCDE é 'bastante grave para política externa', diz especialista
O governo brasileiro acusou na última terça-feira (8) a França de bloquear sua entrada no comitê do clima (OCDE). Para Tanguy Baghdadi, professor de Relações Internacionais da Universidade Veiga de Almeida, a crise provocada pela política do governo Bolsonaro vai impactar nas relações exteriores do Brasil
Sputnik - O professor de Relações Internacionais da Universidade Veiga de Almeida, Tanguy Baghdadi, em entrevista à Sputnik Brasil, classificou o veto da França no comitê do clima na Organização Para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) como "bastante grave" para a estratégia da política externa brasileira.
"É importante lembrar que quando a gente fala sobre uma decisão como essa do governo francês, a gente não está falando somente sobre a questão climática, a gente está falando sobre como a questão do clima pode impactar outros objetivos muito importantes da política externa brasileira. O primeiro deles é a aprovação do acordo entre o Mercosul e a União Europeia", destacou o especialista.
De acordo com ele, o segundo ponto é o que foi considerado como uma vitória do governo Bolsonaro durante a sua visita em Washington, quando os EUA prometeram apoiar a entrada do Brasil na OCDE.
"Se existe uma tendência do governo francês de bloquear e vetar a entrada do Brasil num dos órgãos da OCDE, eu fico imaginando qual não é a tentação francesa pra bloquear a entrada brasileira na própria OCDE. O Brasil comemorou muito o fato dos EUA terem apoiado, mas apenas o apoio norte-americano não garante a entrada brasileira na organização", argumentou Baghdadi.
Troca de farpas com França 'pode custar caro'
Ao comentar os impactos que a animosidade entre o Brasil e a França pode significar para a política externa brasileira, Tanguy Baghdadi disse que o antagonismo do governo Bolsonaro de se aproximar dos EUA pode prejudicar a inserção do país no cenário internacional.
"Faz parte do cenário externo do Brasil que comprar briga com a França não é exatamente uma boa ideia. A política externa brasileira acabou fazendo um antagonismo de 'vou me aproximar dos EUA, e com isso me afastar da França, do Emmanuel Macrón' [...] só que a França segue sendo um país muito influente, a França segue sendo um dos dois maiores países da União Europeia em termos de importância política e econômica", afirmou.
O professor de Relações Internacionais observou que os contatos com os países ricos não passam somente pelos EUA, portanto, a troca de farpas entre a França e o Brasil "pode sair bem caro" para a política externa brasileira.
"A gente está falando está falando de temas que vão muito além da questão puramente ambiental, a questão ambiental acaba sendo muito mais um símbolo e acaba trazendo uma influência para toda estratégia brasileira de inserção internacional no governo atual", completou o especialista.
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