‘Se existe mamata no país, são os militares no poder’, diz Gregorio Duvivier
“A participação dos militares na política sempre foi muito ruim”, disse o humorista
Rede Brasil Atual - Existe um projeto militar de poder no Brasil, que está ocupando Palácio, governo, estatais, e está se distribuindo em várias chapas para o Congresso. Existe um projeto de poder no país que é militar e Bolsonaro é uma peça desse jogo. A provocação é do entrevistador Bob Fernandes, e Gregorio Duvivier, o entrevistado, não titubeia. “Os militares não tem condições de ocupar cargos na vida pública estando na ativa. Não pode botar um cara como o Pazuello para comandar a saúde, olha o nível. A participação dos militares na política sempre foi muito ruim, nunca deu certo”, afirma o ator, comediante e jornalista.
“Grande parte dessas mais de 660 mil mortes (na pandemia) está na conta deles, além de grande parte da tragédia toda em que o país se meteu. Então fica demonstrado que um cara como Pazuello chegar ao topo da carreira militar não é que o problema seja o Pazuello. O problema é das Forças Armadas, se é gente como ele que está lá no alto da carreira”, observa Gregório Duvivier.
Para ele, o presidente acabou sendo “salvo” pela oposição – que forçou a aprovação do auxílio emergencial – e pelos movimentos sociais que salvaram vidas com sua solidariedade. “O brasileiro médio merece prêmios Nobel da Medicina e da Paz. A gente se organizou, as pessoas ficaram em casa mesmo com o presidente mandando elas pra rua. A gente teve um auxílio emergencial à revelia do governo. São espetaculares as ações do MST, do MPA, que conseguem fazer produção agroecológica que gera emprego, gera renda e ainda doaram toneladas de alimentos, salvando muita gente”, enumera. “Foi a boa vontade da população, a atuação da oposição e dos movimentos sociais fez com que muita gente colaborasse para que a economia não colapsasse”, define.
Humor e informação
Gregorio Duvivier falou da seriedade na produção humorística. Duvivier é apresentador do programa Greg News, na HBO, que une jornalismo, análise e muito humor, além do Porta dos Fundos, programa de humor pioneiro do gênero no YouTube. Mas diz que se incomoda com quando um comediante leva tão pouco a sério a profissão que acha que não tem responsabilidade sobre o conteúdo que produz. E, assim, acaba usando a comédia como salvaguarda para um vale-tudo. “De fato, o humor precisa de muita liberdade, ampla e irrestrita. Mas quando você trabalha com informação, existe uma responsabilidade. O humor não é livre disso. A crise da informação veio junto com o crescimento da comédia no jornalismo”, avalia. “Nos EUA, por exemplo, para mais de 50% dos jovens a principal fonte de informação é o humor.”
Milícias e facções
Ao falar sobre a situação do Rio de Janeiro, o comediante citou como o poder paralelo faz parte das estruturas, a ponto de inviabilizar a democracia. “Uma pessoa que mora na zona oeste já não lembra mais da vida sem as milícias. Assim como as que moram numa zona controlada pelo tráfico dificilmente lembra de uma vida sem traficante. Então, para ela, o mundo ideal nem é mais um mundo sem tráfico, mas um mundo em que o tráfico não espalhe corpos pelas ruas”, diz.
“Mas não tem mais território seguro no Rio. Por exemplo, eleições para governador no Rio são meio fake, porque o governador do Rio é a milícia”, define. “E os Bolsonaro não são filhos do nada”, aponta Bob Fernandes. Duvivier concorda. “A milícia chegou em Brasília. O que governa o Brasil é o mesmo tipo de pensamento miliciano que governa a zona oeste do Rio. Extorsão, rachadinha, tudo o que esse governo tem é a cara da milícia.”
O entrevistado cita como exemplo o deputado federal Marcelo Freixo (PSB) para ilustrar a falta de acesso de opositores no Rio aos eleitores. “O Freixo está candidato a governador, e foi candidato a prefeito três vezes sem poder pisar em Campo Grande, Rio das Pedras. Não pode pisar lá. Como é que é uma eleição democrática em uma cidade em que pelo menos um terço dos bairros está dominado. 57% da cidade do Rio de Janeiro está sob controle, de alguma forma, de milícias e facções. Que democracia é essa?”
Lula e Alckmin
Enquanto na entrevista com Bob Fernandes Gregorio Duvivier falou como cidadão e sem piadas, na última edição do Greg News, na sexta-feira (14), o comediante imperou. Tendo como alvo, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), virtual vice de Lula na chapa presidencial, o programa está com quase 500 mil visualizações no YouTube até a manhã deste domingo (17). Greg dedicou a maior parte do tempo lembrando com muita ironia o passado tucano de Alckmin. Desde sua política desastrosa de segurança pública a tragédias como a “criação” de Ricardo Salles, ao indicá-lo secretário de Meio Ambiente. Salles seria depois o ministro de Jair Bolsonaro que cunhou o termo “passar boiada” (da destruição ambiental) enquanto o país estava preocupado com a pandemia.
“Hoje a gente vai falar de uma liderança nova que despontou na esquerda nos últimos meses. Ele, o ‘comandante’ Geraldo Alckmin, o atual pré-candidato à vice-presidência na chapa de Lula. Para quem não sabe, Geraldo é um verdadeiro bastião da luta pelo socialismo na América Latina, com foco na serra de Pindamonhangaba. Ele, que assim como Che Guevara, é médico, assim como Marighella, foi deputado constituinte, e assim como Lenin, é careca. E assim como Deng Xiaoping muita gente não sabe quem é”, ironizou Greg.
Mas, depois de deixar claras sua críticas tanto a Alckmin quanto a Lula, com muito humor, Gregorio pondera sobre a realidade. E conclui que a chapa Lula-Alckmin se justifica. Então, lembra também que alianças entre figuras que foram adversárias no passado, não são novidade na história do país. Por exemplo, nos palanques das Diretas Já, em 1984. Ou seja, Gregorio sem deixar de rir das aparentes contradições entre Lula e Alckmin, concluiu que a aliança é “a nossa melhor chance de derrotar Bolsonaro”.
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