Brasil propõe uso de tecnologia blockchain para o Brics
Lula quer facilitar transações comerciais no bloco com solução digital, sem confrontar os EUA
247 - O Brasil, na presidência rotativa do Brics, pretende impulsionar um debate de longa data entre economias emergentes: a modernização das transações financeiras internacionais para dinamizar o comércio exterior. A informação foi divulgada pelo jornal O Globo. A estratégia brasileira não envolve a criação de uma moeda comum para substituir o dólar, mas sim a adoção da tecnologia blockchain para otimizar contratos e pagamentos entre os países-membros do bloco.
A ideia faz parte da agenda de facilitação do comércio e investimentos do Brics, um dos seis eixos prioritários sob liderança brasileira. Com a recente expansão do bloco, que agora inclui Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã e Indonésia, a proposta ganha ainda mais relevância. Fontes do governo garantem que não se trata de um movimento contra o sistema financeiro vigente, tampouco uma tentativa de confrontar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O temor de represálias americanas é justificado. Desde seu retorno à Casa Branca, Trump tem demonstrado irritação com iniciativas que busquem alternativas ao dólar nas transações comerciais. Em janeiro, ele chegou a ameaçar com tarifas de 100% países que abandonassem a moeda americana em suas trocas comerciais. Para evitar tensões, o governo brasileiro busca um caminho que seja, segundo um assessor, "palatável" para os Estados Unidos.
Blockchain como solução - O Brasil aposta na experiência adquirida com o desenvolvimento do Drex, versão digital do real em fase de testes pelo Banco Central, que opera em tecnologia blockchain. A meta é utilizar um sistema semelhante para reduzir custos de transação e aumentar a segurança nos pagamentos internacionais dentro do Brics. Alternativas como a integração de sistemas similares ao Pix também estão em estudo.
No entanto, desafios técnicos persistem. O Banco Central identificou dificuldades na primeira fase de testes do Drex, especialmente em relação à privacidade e segurança dos dados. Além disso, há questões regulatórias e de soberania nacional a serem equacionadas entre os países do bloco.
Lula reforça necessidade de alternativas - A discussão sobre transações financeiras dentro do Brics não é nova. Em 2023, após a cúpula do bloco na África do Sul, Lula já defendia medidas para viabilizar o comércio sem dependência do dólar. No ano passado, ao discursar na cúpula do Brics em Kazan, na Rússia, o presidente voltou a tocar no tema, destacando que a multipolaridade econômica deveria refletir-se no sistema financeiro internacional.
"Não se trata de substituir nossas moedas, mas é preciso trabalhar para que a ordem multipolar que almejamos se reflita no sistema financeiro internacional", afirmou Lula na ocasião. Ele também sugeriu que os bancos de desenvolvimento do bloco estabeleçam linhas de crédito em moedas locais, reduzindo custos para pequenas e médias empresas.
Com a cúpula do Brics marcada para julho no Rio de Janeiro, o Brasil tem pouco tempo para construir um consenso dentro do bloco. O desafio é garantir que qualquer avanço nessa agenda seja visto como uma modernização necessária, e não como um embate com os EUA.
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