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Consultor da empresa sino-indonésia que disputa controle da Eldorado é militante bolsonarista

Josmar Verillo defendeu voto em Bolsonaro, tentou polemizar com a primeira-dama Janja Lula da Silva e teve entidade citada para integrar a fundação de Deltan Dallagnol

Eldorado, Hamilton Mourão, Eduardo Bolsonaro e o militante bolsonarista Josmar Verillo (Foto: Divulgação e reprodução da rede social)

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Por Joaquim de Carvalho, 247 - A Paper Excellence, empresa sino-indonésia que trava uma disputa comercial com a empresa brasileira J&F, divulgou nota em que afirma que jamais financiou, financia ou financiará qualquer grupo político no Brasil ou no exterior. Com a nota, tentou se desvincular das notícias de que, ao apoiar o bolsonarismo, estaria também colaborando cos ações terroristas contra os poderes da república.

O financiamento da Paper, se ocorreu ou ocorre, é algo que pode ser confirmado ou não com investigações em curso pela Polícia Federal. O que é inegável é a militância de seu consultor no Brasil, Josmar Verillo, em favor do bolsonarismo. 

Em 21 de novembro, ele chegou a tentar polemizar diretamente com a primeira-dama, Janja Lula da Silva, que havia publicado texto em apoio a Gilberto Gil depois que o cantor e compositor foi hostilizado por um bolsonarista no Catar. A conta dele no Twitter reproduz postagens de notórios propagadores de fake news e desinformação, como o deputado Nikolas Ferreira, Rodrigo Constantino e Alexandre Garcia, entre outros.

Em 7 de novembro, ele próprio atacou o governo eleito ao compartilhar texto do humorista e militante de extrema direita Carioca Marvio Lucio, que havia dito: “Democracia mudou de nome, Esquerdocracia”. Josmar escreveu: “Que sinônimo de cleptocracia”.

Dois dias depois, ao compartilhar texto do bolsonarista Leandro Ruschel sobre o novo governo, postou: “Se chegar lá na porta e gritar POLÍCIA!!!!, mais da metade saem (sic) em esbaforida carreira!!” Ruschel apagou a postagem, mas o consultor da Paper manteve a dele.

Josmar Verillo também retuitou postagem do senador eleito Hamilton Mourão que considera os atos terroristas ocorridos em Brasília no dia da diplomação de Lula como “legítimos”. 

Verillo compartilhou fake news divulgada por Paulo Generoso, o criador da página República de Curitiba. Segundo Generoso, o pastor Tsererê Xavante, que se apresenta como cacique e foi preso por defender atos violentos, poderia estar morto na Polícia Federal.

Verillo ainda compartilhou ataques a Alexandre de Moraes, do STF, como o texto de J.R. Guzzo, que afirma ter sido ilegal a exclusão das contas do extremistas Paulo Figueiredo e Rodrigo Constantino na rede social.

A lista de ataques às instituições da república é bem mais extensa. O consultor da Paper, que também é membro de seu Conselho de Administração, quase não se ocupa de outra tema, a não ser apoiar Bolsonaro, como o pedido de votos de Neymar ao então candidato à reeleição, e atacar quem tentou colocar limites nas ações antidemocráticas do bolsonarismo.

Verillo já foi presidente da Klabin, também do ramo de papel e celulose, teve o nome envolvido diretamente em uma ação de marketing para desgastar os empresários brasileiros que travam a disputa em torno da Eldorado Brasil - Papel e Celulose.

Em fevereiro de 2019, a editora Matrix lançou o livro “Traidores da Pátria”, escrito pelo jornalista Cláudio Tognolli, que nunca escondeu sua admiração por Sergio Moro e sua posição antipetista. Tratava-se de uma versão compacta de outro livro do autor, "Nome aos Bois”, de 2017.

O livro poderia ser interpretado como o atendimento a um suposto interesse público, não fosse pelo fato de que e-mails trocados entre Verillo e o dono da Matrix, Paulo Dantas, indicam que a obra foi encomendada pela empresa sino-indonésia, da bilionária família Widjaja.

"Oi, Josmar, Tudo bem? Aí está o texto final do livro. Por favor, avaliem se está tudo correto. Qualquer alteração deverá ser feita neste mesmo arquivo (ele já está no modo de alteração controlada, que me permitirá ver qualquer modificação. Isso vai agilizar o meu trabalho aqui, sem que eu e Claudio tenhamos que ler tudo novamente). Deixei um pequeno texto em amarelo no meio, para que seja verificada a informação. Para nós, está certa, mas, se vocês souberem de algo diferente, avisem. Fora isso, os detalhes que envolvem vocês diretamente: ninguém melhor para ver isso que vocês. Será que vocês conseguem olhar tudo e me dar uma resposta em até 3 dias?", disse o editor.

Josmar respondeu com uma mensagem que demonstra que ele tinha o controle sobre o conteúdo final da obra. "Tadeu, eu fiz algumas correções. Tem algumas coisas que precisam ser atualizadas. Alpargatas já foi vendida etc. Mas está faltando o gran finale. Eu escrevi algumas coisas no final. Precisa uma grande finalização que justifique o título. Porque tem toda a descrição de coisas que ocorreram, mas precisa um gran finale que diga por que são traidores da pátria”.

As colocações de Verillo foram atendidas, e o livro foi lançado sob uma intensa campanha de marketing que apresentava os irmãos Batista, controladores da J&F como grandes vilões, com publicidade em jornais de circulação nacional, e o desfile de um carro alegórico em Brasília, com bois pintados de verde e amarelo e a frase #Traidores da Pátria.

Os e-mails dão conta também de que, depois do livro ter sido aprovado pelo consultor da Paper, a Matrix emitiu nota fiscal. Três meses depois, quando os e-mails foram tornados públicos pela Folha de S. Paulo, a Matrix disse que havia feito apenas uma consulta ao representante da Paper, e vendido a ele, antecipadamente, 2 mil exemplares.

Josmar Verillo continua próximo do autor do livro, Cláudio Tognolli, como mostram postagens dele no Twitter. Uma é sobre doação de órgãos e outra sobre a saída de Cláudio Tognolli do hospital, em 22 de julho de 2022, em que permaneceu internado por cinco meses, dois em UTI.

A causa da internação, que ocorreu depois de um depoimento dele num inquérito policial em que a Paper era acusada de hackear e-mail de executivos da J&F, não foi revelada, mas a doença era grave. “Sem querer exagerar, prefixo que voltei do mundo dos mortos: minha chance de sobrevivência era de 2%”, escreveu no tuíte compartilhado por Verillo.

Verillo tem histórico de executivo da Klabin com militância em ONG que pode ser definida como pioneira na escola lavajatista, com reflexos negativos em uma cidade de 14 mil habitantes similares ao que ocorreu, em escala muito maior, com o Brasil depois que surgiram no cenário nacional Sergio Moro, Deltan Dallagnol e toda sua turma.

Ele é fundador da Amigos Associados de Ribeirão Bonito (Amarribo), que em 2002 fez denúncias de corrupção contra o prefeito da cidade, Antônio Sérgio Mello Buzzá, que viria a ser cassado. Como contou o jornalista Luís Nassif em seu site, o GGN, o que deu origem à campanha contra o prefeito era uma acusação de desvio irrelevante.

"O prefeito da cidade, Rubens Gayoso Júnior, era visto por todos como uma figura adorável.  Na ânsia de buscar escândalo, Josmar levantou um anúncio publicado no jornal de São Carlos. E constatou que a prefeitura pagou o equivalente a 80 cm2 a mais do que foi publicado. O valor era irrisório”, escreveu.

Os textos de Nassif sobre a Josmar e Amarribo, escritos no auge da Lava Jato, foram rebatidos pela Transparência Internacional, entidade que se afirma como “movimento global” contra a corrupção, da qual o consultor e conselheiro da Paper é membro.

Na época, a Transparência Internacional gozava de prestígio interno, e ocupava lugar nobre nos veículos de comunicação, como a TV Globo. Sua credibilidade, no entanto, ruiu depois que vieram à tona mensagens arquivadas no Telegram de Deltan Dallagnol.

Essas mensagens mostram que ações em defesa da Lava Jato eram combinadas com Bruno Brandão, diretor-executivo da Transparência Internacional, inclusive a criação da fundação para aplicar R$ 2,5 bilhões recebidas no acordo da Petrobras com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos.

As mensagens, acessadas pelo hacker Walter Delgatti Neto e tornadas públicas no caso conhecido como Vaza Jato citam também a Amarribo de Josmar Verillo, que Deltan queria com membro do conselho curador da fundação.

A entidade já estava formatada quando foi noticiado o destino dos recursos da Petrobras, que era alvo da investigação do Ministério Público Federal em Curitiba. Em razão do escândalo, o STF decidiu que o dinheiro deveria ser destinado à União e acabaria sendo usado para ações de combate à covid-19.

Uma mensagem trocada por Deltan e Bruno Brandão merece destaque. Nela, Deltan Dallagnol pede ao diretor-executivo da Transparência Internacional que publique texto para rebater as críticas de que a Lava Jato estava destruindo as empresas nacionais.

Bruno atende ao pedido e publica em 14 de fevereiro de 2018 no jornal Valor Econômico o artigo com o título "“Legado de combate à corrupção será positivo para a economia”. E avisa Detan Dallagnol. "Publiquei hoje um artigo no Valor usando os resultados do TRAC pra rebater o discurso oportunista de que Lava Jato e o combate à corrupção estão prejudicando a economia”, disse.

Mais tarde, estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos revelaria que a Lava Jato, iniciada em 2014, provocou diretamente o desinvestimento de R$ 172 bilhões e a eliminação de 4,4 milhões de empregos.

Há dois dias, quando o Brasil 247 publicou reportagem sobre a ligação da Paper Excellence com o bolsonarismo, a empresa divulgou a nota para negar que "financiou, financia ou financiará qualquer grupo político no Brasil ou no exterior”, o jornalista Luís Nassif divulgou em seu Twitter: “Transparência Internacional, vocês devem explicações. Foi seu parceiro Josmar Verillo que montou o lobby. Paper Excellence é uma das principais financiadoras do bolsonarismo no Brasil”. 

Josmar respondeu na conta de Nassif com a nota da Paper Excellence.

O 247 procurou a Paper Excellence sobre a militância bolsonarista de Josmar Verillo e solicitou entrevista com ele. Segue a resposta da Paper Excellence: 

"Eu não faço assessoria para o Josmar, pois ele não é executivo da Paper. Ele é um dos membros do conselho. É CEO de outra empresa e faz parte de conselhos de outras companhias também. Importante ressaltar que as opiniões dos conselheiros em suas redes sociais privadas não correspondem ao posicionamento da Paper ou do seu acionista. 

Os conselheiros não são porta vozes da empresa. Sobre os encontros com as autoridades, isso faz parte da rotina da empresa em todos os países em que atua. Foram encontros muito rápidos e de forma alguma significa apoio político a qualquer partido. Encontros semelhantes acontecerá com o Poder Executivo do novo Governo. A Paper se encontra com Parlamentares de todos os partidos. Tudo isso para explicar seu plano de investimentos para o país. Não se trata de Lobby.”

O espaço está aberto para manifestação de Josmar Verillo.

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Esta reportagem faz parte da série sobre como a Lava Jato e o bolsonarismo prejudicaram a economia brasileira, e quais os caminhos para sua reconstrução.

 

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