Presidente da Americanas expõe provas de fraudes em CPI e culpa ex-executivos e ex-CEO
O depoimento de Leonardo Coelho soou como uma bomba na sala do Corredor das Comissões da Câmara
Por Filipe Calmon, especial para a sucursal Brasília do 247 - Horas depois de comunicar fato relevante sobre a empresa que dirige, o atual presidente das Americanas S.A., Leonardo Coelho, prestou depoimento como convidado da Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar as inconsistências que superam os R$ 22 bilhões detectadas em lançamentos contábeis da empresa realizados no exercício de 2022 e em exercícios anteriores. A cada slide utilizado que passava na apresentação de pouco mais de 24 minutos, parecia que uma bomba explodia na sala do Corredor das Comissões da Câmara onde ocorria a reunião.
"A Americanas, pela primeira vez, não chama mais essa crise de inconsistências contábeis. Ela chama de fraude", afirmou pausadamente Leonardo Coelho logo nos primeiros minutos de sua fala. Em seguida, o executivo passou a exibir parte dessa documentação em apresentação de slides no plenário, prometendo entregar ao final a documentação completa aos parlamentares.
As evidências da fraude foram reunidas em quatro grupos: a) Fraude do Resultado; b) Falsificação de Documentos; c) Cartas de Circularização Incompletas; e d) Retificação de Relatórios de Auditoria.
FRAUDE DO RESULTADO
Evidência 1- Um e-mail enviado pelo diretor Marcelo Nunes para a diretora estatutária Anna Saicali e para os diretores estatutários Miguel Gutierrez, Márcio Cruz e Timotheo Barros. A ele estava associado um demonstrativo de resultados da companhia do ano de 2021 e as projeções ainda em elaboração para o ano de 2022 com duas planilhas diferentes Uma, para a "visão interna" e outra, para a "visão Conselho". No documento “visão interna” registrava-se um prejuízo da ordem de R$ 733 milhões. Já para no documento “visão Conselho” descrevia-se um lucro da ordem de R$ 2,9 bilhões.
"Entre a "visão interna" e a "visão conselho" estava criada uma diferença de R$ 3,5 bilhões nos resultados da varejista. “A fraude das Americanas é uma fraude de resultados, portanto", disse o executivo. Segundo Coelho, o risco sacado e o VPC foram os instrumentos para a fraude.
Evidência 2 - Extrato contendo informações divididas com o mercado, que foram publicadas no site da empresa. Neles, os mesmos quase R$ 2,9 bilhões de resultado positivo: portanto, o número utilizado na planilha "visão Conselho".Evidência 3 - "Será morte súbita". Fraude combinada em grupo de WhatsApp formado por Eduardo Longoni, Marcelo Nunes, Timotheo Barros, Márcio Cruz e Fábio Abrate. Nas mensagens, o ex-diretor financeiro José Timotheo Barros combina um valor diferente de alavancagem a ser apresentado em reunião do conselho da empresa.Evidência 4 - Conversa de WhatsApp do mesmo grupo alinhando resposta à auditoria de que o risco sacado continuaria a ser negado. Marcelo Nunes pergunta se mantém a mentira. Fábio Abrate e Márcio Cruz concordam. A mentira da “visão Conselho” foi mantida.
De acordo com Leonardo Coelho, que foi questionado três vezes acerca da precisão e da seriedade das auditorias contratadas às empresas KPMG e PwC se havia operações de “risco sacado”, os diretores das Americanas negaram. Essa seria a forma de impedir que a fraude fosse descoberta. "Se essa informação fosse confirmada ela constaria dos balanços. Em estando nos balanços, mercado e analistas estariam informados do endividamento", explicou o executivo aos integrantes da CPI. E prosseguiu: "Pode-se criar lucro a partir de uma planilha. Só que você não cria caixa a partir de uma planilha. Se a antiga diretoria falsificou o lucro, ela não consegue falsificar o caixa. Então era preciso um empréstimo bancário para colocar dinheiro naquela operação e a fraude não ficar transparente pra ninguém. O risco sacado como instrumento dessa fraude entra aqui."
Evidências 5 e 6 - Cartas de representação firmadas ao final dos trabalhos dos auditores externos em que a diretoria da varejista negou expressamente operações de risco sacado.
"Essa fraude no resultado atua reduzindo custo de mercadoria vendida, portanto aumentando lucro, com uma contrapartida na conta de fornecedor, reduzindo a conta de fornecedor”, explicitou Leonardo Coelho. “O risco sacado entrava como caixa e entrava também na conta de fornecedor equivocadamente em posições que, líquidas, eram praticamente zero. Por isso que nenhum investidor, nenhuma casa de financiamento no Brasil ou no exterior foi capaz de identificar essa fraude. E por isso que a gente levou algum tempo para, pela contabilidade, chegar nessa informação e dizer, hoje, que isso é de fato fraude e não inconsistência."
FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTOS
Evidência 7 - Troca de e-mails mostra solicitação interna para gerar os VPCs a fim de enviá-los aos auditores. VPC é um documento típico do varejo em que um fornecedor apresenta descontos comerciais ao seu cliente final. Na fraude, as cartas foram inventadas, portanto nem os fornecedores tinham conhecimento delas.Evidências 8 e 9 - Exemplos de documentos falsificados de crédito de VPC. Cartas e números inventados e assinaturas copiadas de outros documentos e coladas sobre os fraudados.
CARTAS DE CIRCULARIZAÇÃO INCOMPLETAS
Evidências 10 a 15 - Troca de mensagens entre funcionários e diretores da Americanas e funcionários dos bancos Itaú e Santander revelam combinação para alteração de redação de documentos para torná-los incompletos e não revelarem as operações de risco sacado. Nas mensagens, trechos como "Vida/Morte para nós" revelam a gravidade e a necessidade da falsificação e, ainda, um dos bancos parabenizando os envolvidos pelo sucesso na artimanha: "Parabéns a todos os envolvidos".
RETIFICAÇÃO DE RELATÓRIOS DE AUDITORIA
Evidência 16 - PwC - Print de e-mail com troca de mensagens entre funcionária da PwC, a empresa de auditoria Price, e diretores e funcionários das Americanas em que a PwC estava "indicando como escrever um texto numa carta final de auditoria onde o tema risco sacado não ficasse claro para todos os envolvidos", revelou Coelho. Evidências 17 a 19 - KPMG - Troca de mensagens entre funcionários e diretores das Americanas pedindo à KPMG que troque conteúdo de carta entregue em processo final de auditoria. A primeira carta apontava deficiências significativas o que segundo o atual presidente das Americanas demandaria envolvimento do conselho de administração para correção. Ao final da troca de mensagens, os termos foram trocados para que a atenção às questões pontuadas fossem levadas apenas para a administração da empresa, "o que pode ser lido como diretoria, portanto sem a necessidade de levar ao conselho".
O depoimento de Leonardo Coelho eletrizou a Comissão Parlamentar de Inquérito e levou seus integrantes a acelerarem o processo de convocação, como investigados, dos executivos Miguel Gutierrez (CEO por 20 anos da empresa), Timotheo Barros, Márcio Cruz e Fábio Abrate, trinca que trabalhou com ele e contra na troca de mensagens explosivas expostas à CPI.
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