Sabemos recuperar a economia, mas não um país em colapso generalizado, diz economista Monica de Bolle
A economista e professora da Universidade Johns Hopkins manda um recado aos empresários brasileiros que afirmam que o colapso da economia com o Brasil parado será mais prejudicial do que a pandemia de coronavírus. “Vocês estão brincando com o colapso de um país”, alertou. Assista
247 - A economista e professora da Universidade Johns Hopkins em Washington, Estados Unidos, Monica de Bolle conversou com a TV 247 sobre a crise financeira mundial causada pela pandemia do novo coronavírus. Ela enviou um recado aos empresários brasileiros que insistem em afirmar que a crise da economia do País será mais grave que o próprio vírus.
O dono da Havan, Luciano Hang, do Madero, Junior Durski, o diretor do Giraffas, Alexandre Guerra, e o empresário Roberto Justus, além de Jair Bolsonaro, já defenderam que o Brasil não pare por conta do coronavírus por acreditarem que a crise econômica trará mais danos ao País do que a pandemia em si. Monica de Bolle desmontou este argumento e esclareceu que, caso a pandemia seja tratada com descaso, os brasileiros terão que reconstruir o país como um todo, e não só a economia.
“Esse argumento não tem base científica nenhuma. Vou passar um recado bem duro aqui para os empresários que pensam isso: você está brincando com o colapso dos países ao dizer uma coisa dessas, você não está brincando com o colapso da economia, vocês estão brincando com o colapso de um país. O que acontece se uma epidemia foge de controle e mata tanta gente quanto essa mata, sobretudo com a sobrecarga do sistema de saúde, o que acontece é: colapso social, colapso político e colapso econômico, que tal? Isso a gente não sabe reconstruir. A gente sabe reconstruir a saída de uma epidemia se as medidas sanitárias que tiverem sido adotadas estiverem no lugar, mesmo que isso cause um quadro de depressão econômica a gente sabe reconstruir uma economia depois de um quadro de depressão econômica, mas a gente não sabe reconstruir um país depois de um colapso generalizado, que é o que acontece se você deixar a epidemia correr solta”.
Monica disse que espera que o Brasil saia da crise com menos descrença na ciência e sabendo a importância do fortalecimento do multilateralismo. “Aqueles governantes e aquelas pessoas que hoje são anticiência, antieducação, terraplanistas de vários tipos, esses aí eu espero que sumam do mapa depois que essa epidemia acabar. A outra coisa é o renascimento do multilateralismo. Eu acho que uma das coisas que a gente vai ver na saída dessa crise, por necessidade porque os países têm que trabalhar juntos, não têm alternativa, vai haver eu acho uma refundação do multilateralismo com bases diferentes daquelas que foram firmadas no pós-guerra”, disse, lembrando que foi o que ocorreu também após a Segunda Guerra Mundial.
Questionada sobre a necessidade de cortar salários dos servidores, a economista disse que não é a hora de discutir redução de salários e classificou como “desmiolado” quem coloca este tema em pauta. Ela pontuou que quando for preciso discutir cortes salariais, é necessário discutir primeiramente os cortes em supersalários.
Para a professora, os governadores brasileiros estão corretos em trabalhar em conjunto e sem dependerem do governo federal. A economista falou também que o ministro da Economia, Paulo Guedes, está isolado. “O Paulo Guedes já colocou um cordão de isolamento em torno dele próprio. Hoje, se por acaso for aprovada a medida da renda básica emergencial, ela derruba completamente os planos que o Paulo Guedes tinha desenhado anteriormente. Já é um sinal do Congresso Nacional trabalhando para o país em vez de ficar aí dependendo de um Executivo que não faz nada”.
Ela também ressaltou que o Brasil não vai quebrar com a crise por conta da dívida pública. "Vamos lembrar o seguinte: a dívida pública brasileira está praticamente toda denominada em reais. Quem é que detém essa dívida? Os bancos, as instituições financeiras, os veículos de investimentos. Os bancos vão começar a jogar fora títulos da dívida pública ou não vão querer mais comprar títulos da dívida pública? ISso requer um esforço do governo, o Brasil já teve razões dívida/PIB extremamente elevadas e rolagens de dívida super curtas, a gente vivia isso nos anos 80”.
Monica disse acreditar que o País superará o coronavírus e aprenderá a ser uma sociedade mais justa após este cenário caótico. “As injustiças com as quais a gente convive não são sustentáveis no médio e longo prazo e deixam as economias extremamente vulneráveis quando a gente tem um choque como esse, causado por um vírus. A gente caminha para sistemas mais justos”.
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