Um novo mundo, versão 3.0
É interessante o fato de uma universidade encontrar lá nos Estados Unidos o mesmo desafio que aqui no Brasil: como percorrer o caminho até a industrialização das ideias acadêmicas?
Recentemente fiz uma viagem de estudo de duas semanas nos Estados Unidos, a primeira semana sendo na região de Los Angeles, CA, mais especificamente na cidade de Irvine. Ao redor das universidades locais, são organizados vários Parques de Pesquisa, o que não é nada mais que um conjunto de prédios abrigando "start-ups" ou pequenas empresas de tecnologia. Muitas são ligadas ao mundo da universidade, com professores das instituições, de fama internacional, montando seus próprios negócios, baseados em ideias inovadoras.
É interessante o fato de a universidade encontrar lá o mesmo desafio que aqui no Brasil: como percorrer o caminho até a industrialização das ideias acadêmicas? A resposta, na verdade, é semelhante, mesmo numa escala menor, que a de Pernambuco, através de Parques de Pesquisa, estruturas como por exemplo o CIM e o Cesar que representam o primeiro elo da cadeia para a comercialização e industrialização.
Se a primeira semana já foi cheia de ensino, a segunda foi ainda melhor, na Vale do Silício, região de San Francisco. Você entra num outro mundo, num ecossistema separado e auto-suficiente, com espaços até apertados, onde reinam a tecnologia e a inovação. É o mundo do informal, onde mesmo os melhores advogados do país o recebem sem gravata e de calças jeans.
Ecossistema fechado portanto, e ecossistema completo também onde todos os atores locais são estreitamente interligados. Visitei todo tipo de empresas de tecnologia, grandes como Google, porém também de porte médio e , logicamente, as famosas startups. Encontrei com financiadores, os Venture Capitalists, que aportam os fundos necessários para as empresas com as melhores perspectivas de desenvolvimento. Estão lá, as grandes firmas de advogados especializadas em fusões e aquisições de empresas, que atuam não somente na elaboração dos contratos e nas montagens financeiras, porém acompanham e apoiam também os vários estágios das negociações e ajudam os seus clientes na procura de oportunidades de investimentos.
A ideia de transversalidade, de parceria, domina o Vale. Uma Apple não produz todas as peças para seus produtos. Ela se aparenta mais a uma montadora, uma Volkswagen do 21o século, terceirizando o design, a escritura do software, a produção das telas, e ficando apenas com a Propriedade Intelectual (a inteligência) e a marca (marketing, fazer conhecer).
Do mesmo jeito que no Brasil, essas empresas passam por uma falta de mão de obra qualificada. Na Vale do Silício, o fato ainda é mais gritante: no velho mundo industrial, os ativos de uma empresa eram as máquinas, enquanto nas empresas de tecnologia e inovação, os ativos são o QI dos funcionários e a vontade que eles tem de criar e inovar. Para reter os melhores e atrair novos talentos, a Google está definindo uma nova filosofia de empresa, com novos ambientes de trabalho. Por exemplo, os restaurantes internos da empresa são considerados entre os melhores da região, e os funcionários chegam mais cedo para tomar o café da manhã na empresa em vez de casa.
Hoje, são 15.000 funcionários na Google. Problemas de polícia ou segurança? Não existem, me explicaram, porque para entrar e ficar na empresa, você precisa se integrar na cultura dela: ser "Googly". E pessoas "Googly" não fazem nada que possa prejudicar a comunidade.
Não basta criar uma comunidade especialmente aconchegante, e exclusiva, para atrair e reter os talentos. A Google pretende duplicar, ou até triplicar o número de funcionários para acompanhar o crescimento da empresa. Eles estão com a ideia de ancorar um navio de cruzeiro no limite das águas internacionais, ao largo de San Francisco e alojar talentos estrangeiros, sem precisar de visto de trabalho. Esses colaboradores poderiam passar regularmente três meses a terra, com um simples visto de turismo, e depois voltar a bordo.
Realmente, é um novo mundo nascendo!
*Jean-Jacques Gaudiot é consultor internacional e sócio da EZreport
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