Boom do skate abre ‘half pipe’ de oportunidades e vira mote para SP atrair turistas
Empreendedores aproveitam ‘efeito Rayssa’ para atuar em nicho segmentado mas com serviços diversos
Agência Sebrae - De esporte proibido em 1988 por Jânio Quadros, prefeito da capital paulista, a status de modalidade olímpica, o skate representa duas das 20 medalhas que o Brasil conquistou nos Jogos Olímpicos de Paris neste ano. Uma campanha publicitária do Brasil na Europa coloca São Paulo como um destino turístico vinculado a essa modalidade. O boom mobiliza investimentos em novos equipamentos públicos urbanos, ao mesmo tempo em que abre espaço para o surgimento e crescimento de pequenos negócios relacionados à prática.
Atualmente, a cidade de São Paulo tem mais de 120 pistas públicas e um half pipe, também aberto à população, no Centro Esportivo Tietê – como é conhecida a pista de formato em um “U”, que possibilita que o praticante realize manobras radicais.
Em um ciclo curto, houve um aumento quantitativo e qualitativo das pistas do estado de São Paulo como um todo. E elas com certeza se tornam um atrativo para os skatistas que querem visitar essas pistas e conhecer esses lugares.Eduardo Musa, presidente da Confederação Brasileira de Skateboarding (CBSk)
Para ele, a essência do skate passa pelas lojas, que sempre tiveram um papel fundamental, fazendo parte da cultura e do lifestyle da modalidade. “Nós temos trabalhado para reforçar isso sempre que podemos, seja em entrevistas ou nas nossas redes sociais. É importante que o grande público também saiba disso. Para a CBSk, o fortalecimento e crescimento das skate shops deve caminhar junto com a estruturação da modalidade como um todo”, afirma.
Do zero e fora do padrão
“Eu queria construir algo novo, do zero, original.” Foi com esse objetivo que Francisco Rodrigues da Costa Junior deu o start no seu plano de viver do skate, 13 anos atrás. “Fiquei pensando ‘Como é que a China não vai me engolir?’ e aí eu falei, ‘putz, meu, a única coisa que a China não pode copiar sou eu’”, conta ele, antecipando como nasceu o nome da marca Chicos – Skate para surfar, que estampa modelos dos mais diversos, dentre eles, o longboard e o simulador de surfe.
"O que eu queria era trazer para o asfalto todo tipo de equipamento que tivesse essa memória do surfe; que a gente pudesse fazer os movimentos do surfe, melhorar a postura, melhorar as manobras, evoluir. Tudo aquilo que se faz no mar, só que no asfalto, no quintal de casa, numa quadra, no parque, numa ladeira", afirmou Francisco.
Nesse processo, ele relata que teve ajuda do Sebrae, inclusive para construir o plano do seu negócio que, desde o início, estava ligado à vontade do empreendedor de morar na praia e pegar onda. “Naquela época, ninguém entendia. Aí, o pessoal do Sebrae falava: ‘se alguém disser para você que está louco, isso quer dizer que você está no caminho certo, isso quer dizer que é um bom sinal, porque é algo que está saindo fora do padrão e as coisas precisam sair do padrão’”, lembra.
E foi assim que não apenas o Chico tornou-se uma peça única nessa história, mas também os skates que ele fabrica. “Todos os modelos que têm aqui na Chicos, esse jeito de fazer, esse tipo de madeira, esses cortes, todos foram desenvolvidos aqui mesmo”, salienta. A produção é artesanal e o relacionamento com o cliente é o seu primeiro insumo.
O ofício envolve briefing, modelagem 3D do produto, manipulação, corte, lixamento e prensagem das folhas de madeira. E, por fim, o fundo que, como explica Chico, “é feito no sistema de arte urbana, que é usando o stencil, o spray, a caneta fosca, dentre outras técnicas”. Tudo isso para dar vida aos desejos dos clientes, que vão desde uma imagem do Bob Marley até o brasão do Juventus, clube de futebol da Mooca, bairro tipicamente italiano de São Paulo.
No momento, são três pessoas que trabalham na produção que rende, em média, dez peças por semana. “Eu faço questão de atender pessoalmente todos os clientes da Chicos, porque vão precisar de um direcionamento, de uma orientação, de uma consultoria para entender da altura dele, o que ele quer fazer, o tipo de manobra que ele quer realizar, o lugar onde ele vai andar”, ressalta.
Para o empreendedor, o skate é uma “ferramenta” que não pode ficar parada dentro do armário.Além de deixar seu WhatsApp disponível para os compradores, Chico mantém um canal no Youtube e contas no Instagram e TikTok dando dicas para quem quer se aventurar no esporte. "Eu quero que ele use o skate, que ele vá para uma praça do lado da casa dele, num domingo de manhã, viver coisas, entendeu?", afirmou.
Boom com Rayssa
O Manifesto Skate Park já existia quando Rayssa Leal fez história em 2020, nas Olimpiadas de Tóquio, como a medalhista mais jovem dos jogos em 85 anos. Enquanto aos 13 anos a skatista maranhense ficava com o segundo lugar na categoria street, o casal de empreendedores Ana Maria Destito e Daniel Buonavoglia pensava que teria dias de descanso na Península de Maraú/BA. No entanto, nem a diferença no fuso horário entre Brasil e Japão, onde ocorriam os jogos, foi capaz de conter pais ávidos em busca de uma escola para que seus filhos pudessem, de repente, ser também um prodígio no esporte.
"A gente passou desde a madrugada em que a Rayssa ganhou até o final das férias trocando mensagem com novos clientes. Ela ganhou a medalha 1h da manhã; 1h15 já tinha mãe mandando mensagem, perguntando informação de aula”, lembra Ana Maria. Daniel diz após o desempenho do Brasil na competição, que voltou para casa com três medalhas olímpicas, o Manifesto teve um boom de crescimento. "Depois que passou, avaliando, a gente viu que tiveram dois fatores para ter esse aumento tão grande. Um foi realmente as Olimpíadas e o outro foi a pandemia. Porque estava todo mundo enclausurado dentro de casa, a molecada ‘subindo pelas paredes’. A gente acredita que isso também influenciou", afirmou.
Daniel lembra que o pico de crescimento foi em outubro de 2020, quando o Manifesto praticamente dobrou o seu faturamento médio. “Outras pessoas enxergaram que a coisa tinha um potencial e abriram outras pistas em São Paulo. Então, por exemplo, nós estamos no Ipiranga, o pessoal todo vinha do ABC para andar nas pistas. Aí depois das Olimpíadas, abriram uma pista no ABC também”, justifica.
“Aqui a gente acaba tendo que administrar quatro negócios, porque eles são pilares um do outro”, comenta. Além das aulas coletivas e particulares para praticantes de todas as idades, o Manifesto tem, ainda, uma hamburgueria, um skate shop e abre suas quatros pistas para sessões indicadas a skatistas e patinadores que já saibam andar com independência. “Faz todo sentido você ter uma loja lá na pista, faz todo sentido você ter uma escola e faz todo sentido você terminar de andar de skate, abrir uma cerveja e comer um hambúrguer”, completa Ana Maria.
O casal tem ainda o objetivo de levar o Manifesto para os Estados Unidos e estão no processo de conseguir a cidadania americana para, no futuro, abrir uma unidade na Califórnia. “Foi lá que nasceu o skate, né? Na Califórnia, e tem público, além de ser um lugar que, se você investir e fizer direitinho, as coisas acontecem”, aposta Daniel.
Segmentação
Empreender em um nicho específico de mercado, como o skate, tem suas vantagens. Veja algumas:
Menos concorrência – Com um público mais específico, a concorrência tende a ser menor, pois ali não existem tantas empresas atuando (ou, até mesmo, pode não existir nenhuma). A comunicação também será muito mais objetiva, pois você estará em contato direto com as pessoas que querem ou necessitam da solução que a sua empresa oferece.
Público engajado e fiel – O nicho se caracteriza por um público com dores bem específicas e, normalmente, não atendidas pelo mercado. Diante da baixa oferta, as pessoas normalmente estão dispostas a pagar mais para usufruir de serviços e produtos que atendam às suas expectativas e necessidades. Atuando em nicho, você consegue ainda personalizar o atendimento e dar mais atenção aos clientes. O resultado é um público mais engajado e fiel à sua marca.
Lucros maiores – O nicho é, por definição, uma parcela do segmento pouco explorada. Como se trata de algo exclusivo, o público pode se dispor a pagar mais caro pelos produtos e serviços ofertados. Em resumo, quem trabalha com nichos vende mais e com mais lucro.
Facilidade nas parcerias – Os influenciadores digitais podem ser bons parceiros para quem investe em nichos de mercado. Muitos deles entendem e trabalham com assuntos específicos e, normalmente, têm um público fidelizado, que está sempre atento às publicações nas redes sociais. Dessa maneira, fechar contratos e realizar parcerias com digital influencers é um jeito excelente de melhorar o alcance da marca e captar mais clientes.
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