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Cerâmica da Alegria conquista selo de Indicação Geográfica e celebra reconhecimento nacional

Com técnicas herdadas dos indígenas Tabajara, ceramistas de Ipu, no Ceará, garantem proteção, valorização e oportunidades de mercado para seus produtos

Cerâmica da Alegria conquista selo de Indicação Geográfica e celebra reconhecimento nacional (Foto: Divulgação )

247 - A comunidade rural de Ipu, município cearense a cerca de 300 quilômetros de Fortaleza, tem motivos para comemorar. A Cerâmica da Alegria acaba de conquistar o selo de Indicação Geográfica (IG) na modalidade de Indicação de Procedência, concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). A informação foi divulgada pelo Sebrae/CE, entidade que apoiou o processo. Com o novo registro, o Brasil soma agora 132 IGs reconhecidas — sendo 103 Indicações de Procedência e 29 Denominações de Origem, além de outras 10 internacionais.

"Recebemos a notícia com muito entusiasmo, com muita alegria. Agora somos reconhecidos no Brasil todo", celebrou Samuel Fortuna Sousa, presidente da Associação dos Artesãos da Alegria. Para ele, a conquista abre portas: "Vamos agora atrás de mais parcerias, mais clientes. Queremos agradecer muito ao Sebrae, que nos apoiou, e a todo mundo que se engajou nessa conquista".

A coordenadora de Tecnologias Portadoras de Futuro do Sebrae, Hulda Giesbrecht, reforçou a importância da certificação para o futuro dos pequenos produtores. “A IG terá um papel fundamental de dar continuidade à história desses produtos, além de fortalecer a reputação da produção e promover a abertura de novos mercados”, afirmou.

Tradição preservada

A produção artesanal da Cerâmica da Alegria é herdeira direta da tradição dos indígenas Tabajara, povo originário da região de Ipu. Séculos atrás, os Tabajara já modelavam o barro para confeccionar urnas funerárias e conservar as cinzas de seus familiares. Com o passar do tempo e o avanço da colonização, a cerâmica se adaptou às novas necessidades, passando a servir também para armazenamento de água e fabricação de utensílios domésticos.

Hoje, a técnica ancestral resiste, respeitando um sistema tradicional de divisão de tarefas: enquanto as mulheres moldam as peças manualmente com o uso do cordel — técnica rudimentar —, os homens extraem o barro das minas de argila e se encarregam da queima em forno artesanal. Os produtos variam de acordo com as encomendas, incluindo panelas, bandejas, jarras e objetos de decoração para casas e espaços públicos.

A artesã Clara Oliveira é um exemplo da continuidade dessa herança. "Hoje tenho 41 anos, duas filhas e sustento a casa sozinha. Agradeço muito a Deus e à minha mãe por ter essa profissão. Acredito que com a Indicação Geográfica nossas peças serão bem valorizadas porque elas são resistentes e é uma forma de agregar mais valor", afirmou.

Valorização da cultura e da economia local

O selo de Indicação Geográfica é um reconhecimento do compromisso dos produtores com a tradição, a qualidade e a sustentabilidade no processo de produção. Desde 2020, o Sebrae/CE atua na identificação de produtos e práticas com potencial de reconhecimento, apoiando as comunidades no processo para obtenção do selo junto ao INPI.

As Indicações Geográficas são instrumentos que garantem a proteção da identidade cultural dos produtos e agregam valor às suas origens. O sistema estabelece padrões de produção e reforça a tipicidade e a autenticidade dos produtos, gerando notoriedade para os produtores locais e impulsionando a economia da região.

O INPI, responsável pela concessão das IGs, ressalta que esse tipo de registro não apenas valoriza o produto, mas também assegura a preservação do conhecimento tradicional e a competitividade de pequenos produtores em mercados mais amplos.