Vocação e necessidade impulsionam crescimento do empreendedorismo brasileiro
O empreendedorismo, apesar de se apresentar como uma carreira interessante, muitas vezes expõe condições precárias de trabalho
Leonardo Ozima, do Jornal da USP - O empreendedorismo significa, no meio empresarial, o ato de criar uma nova empresa, um novo produto ou serviço. No Brasil existem aproximadamente 42 milhões de empreendedores, é o que revela uma pesquisa realizada pelo Sebrae em conjunto com a Associação Nacional de Estudos em Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas (Anegepe). A pesquisa revela também que esses números tendem a aumentar nos próximos anos, devido à grande quantidade de pessoas que pretendem começar o seu próprio negócio em um futuro próximo.
Esse aumento considerável no número de pessoas buscando o empreendedorismo pode ser explicado por alguns motivos, segundo a professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP Elaine Toldo Pazello. “São várias as razões que podem levar as pessoas a empreenderem, como vocação, desejo e oportunidade, mas também necessidade. O empreendedor pode ser um farmacêutico que montou sua farmácia porque sempre quis isso, ou pode ser a mulher que vende doces, pois precisa de uma receita maior para sustentar os filhos.”
Apesar dos números surpreendentes, o professor Luciano Nakabashi, também da FEA-RP, explica que esses dados podem não estar refletindo a realidade de maneira adequada: “Esse número está inflado, pois vários CNPJs no Brasil são de trabalhadores que o utilizam como forma de redução do pagamento de impostos e outros encargos trabalhistas, portanto, não são todos os CNPJs que são novos negócios”. Além disso, o professor alerta que ser empreendedor não significa estar em condições confortáveis de trabalho: “Boa parte desses 42 milhões é composta de ambulantes ou atividades semelhantes, além de motoristas de aplicativos e entregadores de comida, por exemplo”.
Riscos do empreendedorismo
Iniciar uma empresa está associado a diversos riscos e demanda um bom planejamento, diz a professora Elaine. “Existe, em primeira análise, o risco da falta de conhecimento do mercado em que o empreendedor está entrando, como demanda e concorrência. O ciclo econômico é outro ponto de atenção, pois em momentos de crise, por exemplo, abrir um novo negócio é um grande desafio.” Além disso, a professora lembra a importância de se ter dinheiro em caixa para sustentar o empreendimento até que ele gere receita.
Ainda de acordo com Nakabashi, a carreira como empreendedor é mais instável quando comparada com carreiras mais tradicionais, quando a pessoa é empregada as atividades são mais claras e simples. “Quando se busca empreender de verdade, os riscos são mais elevados, pois se não ocorre a venda do bem ou serviço, isso afeta diretamente a renda do empreendedor. O empregado sempre tem uma renda mensal fixa e garantida, independentemente do desempenho da empresa em que ele trabalha. Tem o risco de perder o emprego, mas o risco do empreendimento o empresário tem que arcar todos os meses.”
Ascensão social
Em muitos casos, pessoas recorrem ao empreendedorismo buscando uma ascensão social, segundo o artigo Empreendedorismo, marginalidade e estratificação social, de Gláucia Maria Vasconcellos Vale, doutora em Sociologia Econômica e pesquisadora na área. “Os empreendedores, em sua maioria, se originam dos estratos médios e médios-baixos da sociedade. Porém, durante as pesquisas, que deram origem ao artigo, com 44 empreendedores que se originaram do estrato médio, não se verificou mobilidade social vertical, isto é, não houve, em média, mudanças no estrato social inicial desses empreendedores.”
Segundo informações do artigo, quando se trata de empreendedores que se originaram do estrato social baixo, os 14 casos analisados, todos ascenderam socialmente, nove ascenderam ao estrato médio e cinco, ao estrato médio-baixo. Isso revela como o empreendedorismo se apresenta como meio para empregabilidade, principalmente para pessoas de estrato social baixo.
O professor Nakabashi afirma que é preciso entender quais são as condições em que esses empreendedores estão inseridos antes de analisar a possibilidade de mobilidade de estrato social. “O empreendedorismo no Brasil acaba sendo, em maior parte, de atividades que seriam de trabalhadores assalariados ou de negócios muito pequenos que as pessoas de classes econômicas mais baixas possuem como forma de sobrevivência.” Ainda segundo o professor, “a maioria dos empreendedores, ou seja, pessoas com atividades laborais via CNPJ, não está em atividades que proporcionem chances de ascensão social ou em atividades onde essas chances são mínimas”.
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