"A guerra na Síria foi uma das mais bem planejadas deste século”, Thomas de Toledo
Toledo analisa os múltiplos interesses que transformaram a guerra da Síria em uma disputa internacional complexa e desenha possíveis desdobramentos
247 - Em entrevista ao programa Boa Noite 247, o analista internacional Thomas de Toledo apresentou uma ampla análise da guerra na Síria, abordando as causas históricas, os interesses geopolíticos em jogo e as consequências para o Oriente Médio. Segundo Toledo, a guerra, iniciada em 2011, não é um conflito civil, mas uma "invasão estrangeira" cuidadosamente planejada e sustentada por grandes potências e coalizões regionais. "Ela foi uma das guerras mais bem planejadas deste século, porque foi uma guerra suja, repleta de interesses externos camuflados como revoluções internas", afirmou.
A Primavera Árabe como ponto de partida
Toledo relacionou o início da guerra síria ao contexto da Primavera Árabe, descrevendo-a como um movimento que, embora propagandeado como revolução democrática, foi instrumentalizado pelas potências ocidentais para redesenhar o mapa do Oriente Médio. "A proposta da administração Obama era criar um novo Oriente Médio, derrubando governos laicos e instalando regimes alinhados aos interesses de países como Estados Unidos, Israel e as monarquias do Golfo", explicou. Ele destacou o caso de Bashar al-Assad, cuja deposição era estratégica para esse plano geopolítico.
A fragmentação da Síria e o papel dos atores internacionais
A guerra na Síria, segundo o analista, foi alimentada pela entrada de mercenários e grupos jihadistas como o Estado Islâmico, financiados por coalizões que incluíam EUA, União Europeia, Israel e Arábia Saudita. "O objetivo era claro: destruir o tecido social sírio, dividir o país em pedaços e enfraquecer sua capacidade de resistência", detalhou.
Toledo também apontou a importância da Rússia e do Irã como forças que impediram a derrocada completa do regime de Assad. "A entrada da Rússia no conflito garantiu a preservação do porto de Tartus, essencial para sua presença no Mediterrâneo, e freou o avanço de grupos jihadistas. Já o Irã, através do Eixo da Resistência, buscava manter sua influência regional."
Israel e o expansionismo regional
Thomas de Toledo foi incisivo ao analisar o papel de Israel na guerra. "Israel segue a doutrina de expansão territorial e já ocupa as colinas de Golã desde 1967. A guerra na Síria fortaleceu seus objetivos estratégicos, como desmantelar o Hezbollah e isolar os palestinos", pontuou. Ele acrescentou que a tecnologia militar israelense utilizada no conflito foi decisiva para enfraquecer os adversários regionais.
Possíveis desdobramentos e o isolamento do Irã
Quando questionado sobre o futuro da Síria, Toledo foi realista. "É muito provável que o país seja fragmentado. A Turquia já controla partes do norte, enquanto Israel mantém seu domínio no sul. A Síria como conhecemos pode não existir mais", afirmou. Sobre o Irã, ele alertou para o isolamento do país e a perda de seus aliados regionais: "O Irã acreditou em acordos e perdeu o timing para agir. Agora enfrenta um cenário de fragilidade estratégica."
Uma guerra que redesenha o Oriente Médio
Thomas de Toledo concluiu destacando que a guerra na Síria é parte de um processo maior de redesenho geopolítico no Oriente Médio. "Os interesses econômicos, militares e políticos das grandes potências continuam a determinar o destino da região, enquanto os povos locais pagam o preço mais alto", lamentou.
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