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    André Singer: 'lulismo está voltando com tudo'

    Cientista político reafirma opção do ex-presidente por 'reformismo fraco', mas considera que oposição poderá ser mais intensa que no passado; veja vídeo na íntegra

    André Singer (Foto: Reprodução)

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    Opera Mundi - O lulismo está voltando com tudo em 2022, segundo avaliou o cientista político, jornalista e professor André Singer em entrevista ao fundador de Opera Mundi, Breno Altman, no programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta sexta-feira (08/07). 

    “O lulismo voltou com tudo, porém em condições mais difíceis para realizar seu programa”, sintetizou o autor dos livros Os Sentidos do Lulismo (2012) e O Lulismo em Crise (2018). André Singer vê novo fortalecimento de uma característica definidora do lulismo, de ter nos brasileiros mais pobres sua principal base social.

    "Se olharmos para as pesquisas de intenção de voto a menos de três meses das eleições, a provável vitória de Lula está inteiramente ancorada nos eleitores mais pobres. Isso é impressionante e define muita coisa, porque essa base eleitoral que provavelmente vai levar à vitória também vai cobrar medidas”, avalia o cientista.

    As perspectivas de dificuldades se agravam pela piora das condições gerais, com situação internacional negativa, volta da inflação, expectativa de recessão mundial e, no Brasil, o obstáculo representado pelo teto de gastos promulgado após o golpe parlamentar de 2016 por Michel Temer. “O teto de gastos foi feito para que, mesmo em condições internacionais favoráveis, o novo governo não possa fazer gasto público para atender às necessidades emergenciais da população pobre, muito prejudicada por quase uma nova década perdida”, argumenta.

    Defensor da tese de que o lulismo opera mudanças através do que chama de reformismo fraco, Singer sublinha o ineditismo da experiência petista, demonstração de que há margens de atuação para o progressismo no Brasil. “Esse reformismo fraco durou 12 anos, o que é inédito. Nunca um governo não de esquerda, mas do campo da esquerda, governou por tanto tempo o Brasil, em condições democráticas e de estabilidade”, afirma. 

    Em sua análise, medidas homeopáticas promovidas por Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff se acumularam a ponto de chegar perto de constituir mudanças estruturais. "O pleno emprego foi levando a um aumento do ganho salarial real dos trabalhadores domésticos, importantes no Brasil, e isso teve um efeito”, destaca. Menciona também os impactos junto à parcela da população brasileira que, na informalidade, jamais teve acesso à cidadania trabalhista e vê sua situação se deteriorar desde 2016.

    Na leitura sobre o governo Dilma, o cientista político avalia que a ex-presidenta foi aos limites do lulismo, descrito por ele como um programa de combate à pobreza sem confronto com o capital e, portanto, não socialista. “Dilma é parte, sim, do lulismo, mas é uma variante muito especial. Ela radicalizou o lulismo, eu diria que quase a ponto de sair de sua órbita. Dilma foi uma presidenta de muita coragem”, afirma. 

    “Dilma baixou os juros para onde nunca tinham sido baixados. Comprou briga com os bancos. Foi para cima usando instrumentos de poder, não retóricos. Usou os bancos públicos para forçar a diminuição dos spreads, e conseguiu”, recapitula. Cita ainda a mudança no marco regulatório elétrico, reduzindo a taxa paga pelos consumidores e também o custo da energia elétrica para a indústria, uma reivindicação da Fiesp: “A rigor, Dilma cumpriu todo o programa industrializante pedido pelos industriais, comprando muitas brigas. O fato de que não tenha dado certo é algo que deveria nos ocupar muito”, diz Singer, acrescentando que, para ele, o campo de esquerda precisa avalizar a experiência real da ex-presidenta, que classifica como um ensaio desenvolvimentista.

    Em 2016, a burguesia não aceitou a hipótese de o reformismo fraco se tornar menos fraco e optou pela contrarreforma através de golpe. “Há uma resistência enorme a superar a cisão brasileira. Toda vez que vai chegando perto de superar, as tensões sociais ficam muito grandes”, interpreta, afirmando ainda que “estávamos falando de mudanças que chegam perto de estruturais, e aquilo tudo vai conformando uma situação que leva a uma ruptura”.

    Questionado por Altman sobre a possibilidade de mesmo o "reformismo fraco" enfrentar grande resistência política a partir de 2023, o cientista político desenha a possibilidade de novos dias difíceis para o Brasil: “O milagre lulista de conseguir diminuir a pobreza sem confrontar o capital foi ajudado por um vento que veio de fora, o boom das commodities. Se agora as condições não forem desse tipo, o confronto social pode ser mais tenso desde o início”, opina.

    Trata-se de um dilema não só brasileiro, mas latente em toda a América Latina, que não encontra uma forma conciliatória de superar a cisão social. No outro polo do confronto, André Singer vê forças crescentes de ameaça à democracia, representada pelo que chama de extrema direita pós-factual, cujo maior líder mundial é Donald Trump. “É um fenômeno seríssimo, que veio para ficar”, conclui.

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