Breno Altman: extrema direita usa religião para deslocar debate econômico e social proposto pela esquerda
Ex-presidente Lula defende Estado laico contra tentativa bolsonarista de instrumentalizar fé religiosa; veja vídeo na íntegra
Opera Mundi - "Lula se alinhou com muita clareza à ideia da laicidade como contraponto a uma extrema direita que busca trazer a religião para o debate político. Esse é um ponto fundamental para compreendermos como enfrentar uma extrema direita que tenta se apresentar como religiosa para, através da religião, estigmatizar a esquerda”, analisa o jornalista Breno Altman, fundador de Opera Mundi.
No programa 20 MINUTOS ANÁLISE desta terça-feira (23/08), Altman aborda as alternativas da esquerda para combater a instrumentalização da religião adotada como estratégia político-eleitoral por Jair Bolsonaro, pela extrema direita e pelo neofascismo.
A defesa enfática do Estado laico feita pelo candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva no dia 20, no comício no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, aponta como inaceitável o uso da fé religiosa como instrumento de luta política. As fake news bolsonaristas empenhadas em rotular a esquerda como “antifamília" e em espalhar “notícias" de que Lula fecharia igrejas e combateria religiões caso eleito têm intuito estigmatizador, mas também objetivam deslocar o foco do debate econômico e social para o campo moral, ocultando assim suas próprias debilidades.
Nessa manobra, a extrema direita relega a plano secundário as evidências de que a esquerda, o PT e Lula preconizam (e praticam, quando no governo) políticas para reforçar o emprego, a renda e os direitos sociais, elementos fundamentais para melhorar a vida das famílias, enquanto a direita e o bolsonarismo materializam políticas de sustentação ao capital e ao mercado.
“O embate para tentar estigmatizar o PT, Lula e a esquerda como antifamília não seria possível no terreno do debate econômico e social, e então a extrema direita tenta fazer isso através da religião. A esquerda, ao defender determinadas bandeiras e direitos, estaria colocando em risco a família tradicional”, avalia Altman.
O bolsonarismo, particularmente dentro de determinados setores evangélicos, combina valores religiosos com notícias falsas para atacar direitos legitimamente defendidos pela esquerda e transformá-los em criações como “ideologia de gênero” e equivalentes.
“Estou aqui falando da defesa de direitos como a descriminalização ou legalização do aborto e a legalização ou inscrição como direito civil do casamento homoafetivo. O que fazem esses grupos evangélicos é pegar a defesa desses direitos para disseminar entre os fiéis uma espécie de pânico social”, conclui, acrescentando que os ideais democratizantes de aceitação à diversidade se convertem, no imaginário neofascista, em ameaças de desintegração da família dita tradicional.
Altman retrocede na história para traçar uma linha evolutiva do pensamento de esquerda em relação à construção de Estados religiosos, ateus ou laicos. Ele remonta ao feudalismo, quando o absolutismo monárquico e a Igreja Católica entrelaçaram poder político e poder religioso.
“As mãos dos chefes católicos estavam banhadas no sangue da Inquisição, da invasão colonial de povos africanos e latino-americanos, do extermínio de indígenas e negros escravizados durante a expansão mercantilista. Jamais houve na história da humanidade uma instituição tão brutal e criminosa como a Igreja Católica. De onde vem o ouro do Vaticano senão da colonização da América Latina?”.
Pós-Revolução Francesa, o pensamento marxista surge, a partir da segunda metade do século 19, como aquele que mais claramente faria a crítica à religião. “Era natural que o marxismo e outros grupos de esquerda, além de anticlericais, fossem também antirreligiosos e se identificassem com o ateísmo”, interpreta Altman.
“Além de instrumento a serviço da opressão, a religião seria sinal de ignorância e subalternidade. As explicações místicas ou supersticiosas deveriam ser combatidas a ferro e fogo para que fosse possível a emancipação plena da humanidade.” O enfrentamento marxista, militantemente ateu, buscava superar a presença pública das religiões e, também, sua incidência sobre a vida privada.
Em especial a partir dos anos 60 do século 20, grupos religiosos viriam se aliar à luta revolucionária: “A duras penas, o marxismo foi revendo sua posição sobre a religião. Paulatinamente, foi operada uma separação entre o público e o privado, resgatando uma das bandeiras da Revolução Francesa.
A esquerda de forma geral foi colocando o debate religioso em outro lugar, assumindo um compromisso com a laicidade em substituição à batalha pelo ateísmo”. No Brasil atual, enquanto Bolsonaro se debate para retroceder ao absolutismo monárquico atrelado à religião, Lula prega a estrita separação entre as esferas pública e privada, a laicidade do Estado e a liberdade plena de cada indivíduo de ser ou não religioso.
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