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"Eleições municipais de 2024 expõem fragilidade da esquerda e avanço da extrema direita", aponta Valter Pomar

Participação eleitoral abaixo do esperado e vitória expressiva da direita reforçam o desafio para o campo progressista nas urnas municipais

(Foto: Brasil247 | ABR)

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247 - As eleições municipais de 2024, realizadas em 5.569 municípios brasileiros, evidenciaram um cenário preocupante para a esquerda no Brasil. Segundo análise transmitida pelo canal TV 247, a participação dos eleitores foi mais uma vez abaixo do esperado, com uma taxa de abstenção superior a 21%, somada a um número expressivo de votos brancos e nulos. O historiador e dirigente do PT, Valter Pomar, destacou que, considerando os números totais, apenas cerca de 100 milhões dos 155 milhões de eleitores registrados participaram efetivamente do pleito.

Para Pomar, esse desinteresse crescente em participar do processo eleitoral é preocupante, especialmente para partidos de esquerda que, segundo ele, deveriam atrair esses eleitores desencantados. "A gente tem uma população de cerca de 200 milhões, 150 milhões aptas a votar, mas quem comparece mesmo são cerca de 100 milhões. E isso é uma quantidade imensa de trabalhadores que, por alguma razão, estão sendo levados a desistir da atividade política", afirmou Pomar.

O resultado geral das eleições, conforme detalhado por ele, aponta para uma vitória expressiva das legendas de centro-direita, direita e extrema-direita, que somaram 91 milhões de votos, enquanto os partidos de esquerda e centro-esquerda obtiveram apenas cerca de 22 milhões de votos. Segundo Pomar, esse quadro reforça a hegemonia da direita no cenário municipal e destaca a necessidade de repensar as estratégias políticas do campo progressista, especialmente em termos de mobilização e comunicação com a base popular.

Crescimento da extrema direita

Uma das principais preocupações levantadas por Pomar foi o crescimento significativo do Partido Liberal (PL), que saltou de 4,7 milhões de votos em 2020 para 15,7 milhões em 2024, consolidando-se como o partido mais votado nas eleições municipais. “Esse crescimento expressivo do PL, partido ligado ao ex-presidente Bolsonaro, mostra que há um fortalecimento da extrema direita, mesmo após a derrota nas eleições presidenciais”, comentou o analista.

O MDB e o PSD, outros partidos de direita, também registraram crescimento, alcançando 14 milhões de votos cada. Em contraste, os partidos de esquerda, como PT, PSB e PSOL, tiveram aumento marginal em suas votações, insuficiente para alterar a correlação de forças no cenário nacional.

Desafios da esquerda

Para Pomar, a esquerda brasileira precisa enfrentar uma série de questões internas e externas para reverter o cenário adverso. “Mesmo com a presidência da República em mãos, a esquerda não conseguiu converter esse poder em crescimento eleitoral nas bases municipais”, destacou. Ele enfatizou que há um distanciamento dos movimentos sociais e da base popular, o que prejudica a mobilização e a capacidade de capilarização dos partidos progressistas.

Um dos exemplos apresentados foi a situação em São Paulo, onde o número de abstenções, votos brancos e nulos chegou a um terço do eleitorado. “Mesmo em uma eleição onde havia candidatos para todos os gostos, muitos preferiram se abster, o que mostra o desinteresse e a descrença da população na política institucional”, avaliou.

Pomar criticou a estratégia do PT em diversas cidades, destacando erros na escolha de candidatos e na política de alianças, como o apoio ao vice-governador do MDB em Salvador, que acabou em derrota no primeiro turno. “A estratégia de alianças mal pensadas faz o PT desaparecer em praças importantes, e os resultados são catastróficos”, pontuou.

Perspectivas para o segundo turno

O segundo turno, segundo o analista, é uma oportunidade para a esquerda recuperar algum terreno, mas ele adverte que o desafio será grande. “Se não houver uma mudança significativa na forma de comunicação e mobilização, o campo progressista pode sofrer uma derrota política e eleitoral ainda mais acentuada”, alertou.

Ele destacou a necessidade de uma atuação mais presente do presidente Lula nas campanhas de segundo turno em cidades estratégicas, como São Paulo, Fortaleza e Porto Alegre. “O presidente Lula tem um papel fundamental nesse momento. Sua presença pode ser decisiva para reverter alguns cenários desfavoráveis, como em São Paulo, onde a candidatura de Guilherme Boulos precisa de um impulso para derrotar Ricardo Nunes”, concluiu.

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