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    Industrialização sustentável no Brasil depende de bancos públicos e estabilidade econômica, avalia Antônio Lacerda

    Professor de Economia da PUC-SP destaca impacto das políticas públicas na industrialização, investimentos e sustentabilidade, mesmo com juros elevados

    Economista Antonio Correia de Lacerda (Foto: Roque de Sá/Agência Senado )

    247 - O economista Antonio Correia de Lacerda, professor do programa de pós-graduação da Faculdade de Economia da PUC-SP, concedeu entrevista à TV 247 e destacou o crescimento surpreendente da economia brasileira, apesar do patamar elevado da taxa de juros. Ele enfatizou a retomada da industrialização, impulsionada por políticas como o PAC e o programa Nova Indústria Brasil, e a atuação estratégica do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no financiamento de infraestrutura, inovação e transição energética.

    Segundo Lacerda, em 2023, o PIB cresceu quase 3%, contrariando previsões iniciais de menos de 1%. Para 2024, as estimativas já superam 3%, refletindo um cenário de recuperação sustentada. “A economia tem conseguido crescer com inflação controlada, redução do desemprego e aumento da renda. Isso é animador, mas a taxa de juros elevada continua sendo um entrave para investimentos produtivos e para a redução do custo da dívida pública”, avaliou Lacerda. O economista apontou que as atuais pressões inflacionárias não são resultado de excesso de demanda, mas de fatores externos, como os impactos da crise climática, variações cambiais e conflitos geopolíticos. Para ele, a revisão da taxa de juros para níveis mais alinhados com padrões internacionais é fundamental para impulsionar os investimentos e sustentar o crescimento.

    Indústria é motor da recuperação econômica

    Antonio Lacerda destacou a importância da Nova Indústria Brasil (NIB), o programa lançado pelo governo federal para promover a reindustrialização do país por meio de investimentos em inovação, sustentabilidade e competitividade. A iniciativa busca fortalecer setores estratégicos, estimular a transição energética e a descarbonização, além de ampliar a participação da indústria nacional no mercado global. O programa também prevê a modernização da infraestrutura industrial e a ampliação de linhas de financiamento com o apoio de bancos públicos, como o BNDES, visando impulsionar o desenvolvimento tecnológico e a geração de empregos qualificados.

    Para ele, a NIB já provoca impactos positivos na cadeia industrial. “A industrialização é indispensável para um país que busca autonomia tecnológica, geração de empregos qualificados e competitividade internacional. O apoio do Estado é crucial para coordenar investimentos, fortalecer a inovação e promover a transição energética”, afirmou.

    O economista também mencionou a relevância de políticas públicas como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Programa de Transição Energética (PTE). Segundo ele, essas iniciativas não apenas incentivam a economia, mas também atraem capital privado para setores estratégicos.

    BNDES se consolida como motor do desenvolvimento

    Outro ponto destacado foi a atuação do BNDES, que quase dobrou seus desembolsos em relação a 2022. Para Lacerda, o banco tem papel central na viabilização de projetos industriais, de infraestrutura e de inovação tecnológica. “O BNDES está desempenhando uma função estratégica ao financiar projetos que estimulam a transição energética e a modernização da indústria. Isso demonstra como o Estado pode ser indutor de crescimento e parceiro do setor privado”, explicou. Ele defendeu a diversificação das fontes de financiamento e o fortalecimento de recursos humanos como medidas indispensáveis para o avanço do país em áreas de alta tecnologia e sustentabilidade.

    O BNDES registrou lucro líquido recorrente de R$ 9,8 bilhões, de janeiro a setembro de 2024, crescimento de 48,5% em relação a 2023. No período, o Banco alcançou a maior carteira de crédito desde dezembro de 2017 (R$ 550,3 bilhões) e apresentou aumento na demanda por crédito em todos os setores, em relação ao mesmo período de 2022 e 2023. Para micro, pequenas e médias empresas (MPMEs), as aprovações de crédito totalizaram R$ 64,9 bilhões, aumento de 45,5% ante os nove primeiros meses de 2023 e alta de 69,5% ante o mesmo período de 2022 (R$ 38,3 bilhões).

    Sustentabilidade e transição energética como prioridades

    Lacerda reforçou que o desenvolvimento sustentável e a transição energética devem ser tratados como prioridades na agenda econômica brasileira. Segundo ele, o país tem potencial para liderar a geração de energia renovável e inovar em tecnologias limpas, mas isso exige investimentos robustos e coordenação estratégica entre governo e setor privado. “O Brasil possui vantagens naturais únicas, como a abundância de fontes renováveis e biodiversidade, mas ainda precisa de políticas públicas que transformem essas vantagens em oportunidades econômicas e sociais”, argumentou.

    Lacerda destacou que a combinação de crescimento econômico, controle da inflação e recuperação da indústria sinaliza um futuro promissor para o Brasil. Ele, no entanto, alertou para a necessidade de continuar ajustando a política monetária e fortalecendo as políticas públicas para garantir a sustentabilidade dessa trajetória. “O Brasil tem todas as condições de consolidar esse momento como um novo ciclo de desenvolvimento. É preciso, no entanto, que os juros reflitam a realidade econômica e que os esforços de industrialização e sustentabilidade sejam ampliados”, concluiu.

    Assista à entrevista na íntegra:

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