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    Jô Freitas: “temos um sistema embranquecido que apaga a nossa história”

    Juntamente com a poetisa Jessica Marcele, a atriz integra o coletivo Pretas Peri, que homenageou Tereza de Benguela no dia da mulher negra

    Jô Freitas (Foto: Reprodução)

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    Por Ricardo Nêggo Tom, 247 - A historicidade da cultura africana foi vítima de um epistemicídio sistêmico que, além de tentar negar a produção de conhecimentos e saberes por parte dos africanos e de seus descendentes, também invisibilizou figuras históricas como a líder quilombola Tereza de Benguela, cuja importância na luta contra a escravização lhe rendeu uma data para a celebração de sua memória e representatividade: o dia 25 de julho, data em que também se comemora o dia da mulher negra afro latina. A atriz, poetisa e escritora Jô Freitas, uma das fundadoras do Sarau Petras Peri, falou à TV 247 sobre a homenagem feita pelo coletivo à Tereza de Benguela, em uma apresentação realizada no Sesc Itaquera, em São Paulo.

    “O nosso sarau sempre traz uma temática que fala, principalmente, sobre as mulheres negras e sobre a periferia. E recebemos esse convite para contar a história da Tereza de Benguela. Toda nossa criação poética para esse espetáculo foi feita para homenageá-la. As poesias, as músicas e também uma intervenção cênica feita pela atriz Mara Celi, que convidamos para interpretar Tereza de Benguela. Para nós, foi uma honra poder falar sobre essa figura, essa rainha que ela foi, e que é tão pouco citada nos livros de História”.

    A também atriz, poetisa e escritora Jéssica Marcele, lembrou que “foi feita uma pequena intervenção como uma abertura para o espetáculo, que era uma espécie de entrevista, um bate papo com os visitantes do Sesc, e muitas pessoas nunca tinham ouvido falar em Tereza de Benguela. Então, fazer esse espetáculo também foi importante no sentido de resgatar essa história, inclusive, através da oralidade, para que essa memória não se perca. E, depois dessa pequena intervenção, esses visitantes foram até o palco para assistirem à nossa apresentação. Foi importante eles poderem visualizar de alguma maneira quem foi Tereza de Benguela, através da intervenção cênica feita pela Mara Celi. Foi muito significativo poder estarmos entre nós, falando sobre nós e com as pessoas ao nosso redor”. A liderança de Tereza de Benguela, que comandou o Quilombo do Quariterê, também conhecido como Quilombo do Piolho, no Mato Grosso, como uma espécie de parlamento, trouxe ao debate a importância de aumentar a presença de mulheres negras nos cargos eletivos, exercendo representatividade no espaço político.

    Para Jô Freitas, “a história está aí para nos dizer o quanto é necessário colocar pessoas que tenham mais proximidade com a história do povo. Estamos cansadas de termos representantes que estão do outro lado da cozinha. E vale lembrar que nós não estamos na cozinha por opção. Nós fomos colocadas lá. O povo preto foi colocado na senzala. Porém, quem governa sempre está em outra posição e nunca enxerga, de fato, as necessidades de um povo que trabalha para sobreviver. Assim como Tereza de Benguela, que deveria estar muito mais presente nos livros, pela importância que ela teve, as mulheres negras continuam sofrendo esse apagamento na sua representatividade. Temos um sistema embranquecido que apaga a nossa história. É urgente na política que tenhamos representantes com a nossa cara”. O uso dos movimentos culturais nas periferias como instrumentos de conscientização, social e racial, é visto por Jessica Marcele como uma forma de resgatar a cidadania da população preta e periférica.

    Jéssica explica que “levar a minha arte como forma de transformação e conscientização social é algo que carrego comigo como um projeto de vida. Porque assim eu fui transformada e conscientizada. O próprio Sarau Pretas Peri e outros movimentos e coletividades dos quais eu me aproximei como forma de curtição e entretenimento, ajudaram no meu resgate como cidadã. Isso se deu através das poesias que eu ouvia e dos espetáculos que eu assistia dentro da minha ‘quebrada’, no bairro que eu nasci, cresci e vivi. Foi através da arte que eu pude me visualizar enquanto cidadã e enxergar as minhas potências como uma pessoa preta. E continua através da arte que eu me conscientizo, diariamente, de várias e inúmeras questões. Eu acho que é de suma importância conseguirmos trabalhar e fomentar as nossas produções culturais como questionamentos sociais, para que outras pessoas se vejam naquilo que a gente produz”.

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