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"Junho de 2013 foi a rebelião das camadas médias", diz Breno Altman

"Não concordo com o paralelo entre junho de 2013 e as primaveras árabes", apontou ainda o jornalista

Breno Altman (Foto: Felipe Gonçalves)

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247 – Em uma entrevista exclusiva concedida ao jornalista Leonardo Attuch, editor da TV 247, o jornalista Breno Altman,  um dos organizadores do livro "Junho de 2013, a rebelião fantasma", lançado pela Editora Boitempo, trouxe sua visão sobre os protestos daquele período no Brasil, analisando os diferentes fenômenos que culminaram neste período de intensa mobilização social. Altman destacou que, embora tenha havido uma combinação de fatores, o cerne dos protestos foi a revolta das classes médias, que sentiram-se desfavorecidas diante do avanço social dos mais pobres, enquanto os mais ricos não sofreram perdas significativas. A distribuição de renda, segundo ele, beneficiou a metade inferior da pirâmide social.

O jornalista ressaltou que, embora a classe média também tenha sido beneficiada, sua ascensão social foi mais lenta em comparação com os mais pobres e os muito ricos. Altman apontou que os primeiros governos do presidente Lula ampliaram significativamente o acesso ao ensino universitário, mas o mercado de trabalho não acompanhou essa demanda, resultando em dificuldades para a classe média encontrar oportunidades adequadas.

Altman fez questão de enfatizar que não concorda com a comparação entre os protestos de junho de 2013 e as primaveras árabes, argumentando que o movimento brasileiro foi, em sua origem, espontâneo. Ele mencionou que os protestos do Movimento Passe Livre já ocorriam anualmente e que o agravamento da infraestrutura urbana com o crescimento da classe média contribuiu para a explosão de insatisfação.

O jornalista destacou a brutalidade da repressão policial em São Paulo durante os protestos, o que gerou solidariedade entre a classe média. Ele também ressaltou que a direita percebeu que os protestos não tinham uma direção clara e começou a disputar as ruas, mudando a pauta para incluir o tema da corrupção.

Corrupção e Copa do Mundo – Altman ressaltou que a questão da corrupção é um dos pontos que mais impacta a classe média, uma vez que ela paga impostos e, ao ver outros progredindo enquanto ela própria não avança, sente-se lesada. Ele também mencionou que o governo federal falhou em se comunicar adequadamente em relação à Copa do Mundo, o que agravou a insatisfação popular.

Sobre os black blocs, Altman explicou que eles surgiram no movimento anarquista, mas posteriormente houve infiltrações de diferentes grupos. Ele também destacou a presidenta Dilma Rousseff como a única líder do país que compreendeu e propôs uma solução para a situação, referindo-se à proposta de um pacto de cinco pontos, que incluía o uso dos recursos do pré-sal para investimentos em saúde, mobilidade urbana e educação, além da proposta de um plebiscito para uma nova constituinte.

Por fim, Altman desafiou a esquerda a se posicionar como antissistema, destacando que esse é um dos grandes desafios que ela enfrenta atualmente. "Um novo junho de 2013 não está no horizonte, mas eu não descartaria essa possibilidade", diz Altman. "Os mesmos problemas estratégicos se mantêm". Assista:

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