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    "Nenhum país se desenvolve sem infraestrutura e sem soberania", diz Dilma Roussef à TV 247

    Dilma Rousseff detalha papel do Banco dos BRICS, relação com a China e financiamento de projetos no Brasil

    (Foto: Brasil247)
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    247 - Em entrevista exclusiva ao editor-chefe do Brasil 247, Leonardo Attuch, a ex-presidenta Dilma Rousseff, atual presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), conhecido como Banco dos BRICS, detalhou os avanços e desafios da instituição financeira internacional. Durante a conversa, realizada na sede do banco na China, Dilma abordou temas como a stabilidade financeira do NDB, a ampliação do número de países membros e o impacto do banco no financiamento de infraestrutura e transição energética.

    Dilma Rousseff explicou que, ao assumir o comando do NDB em março de 2023, o banco atravessava uma crise de captação de recursos, resultado de um período de 16 meses sem acessar o mercado financeiro internacional. Essa situação comprometeu a capacidade da instituição de conceder empréstimos aos países membros. "O que aconteceu? Inclusive, o banco teve seu rating de crédito reduzido por causa disso, porque não acessava o mercado de dólar, o mercado público de dólar", afirmou.

    Desde abril de 2023, o banco realizou 14 operações de captação, restabelecendo a liquidez e recuperando sua capacidade de financiamento. Segundo Dilma, "o banco superou completamente esse problema e hoje tem um caixa completamente tranquilo".

    Atualmente, o NDB conta com oito membros: Brasil, Rússia, China, Índia, África do Sul, Emirados Árabes Unidos, Bangladesh e Egito. A Argélia e o Uruguai estão em processo de adesão e outros 17 países do Sul Global manifestaram interesse em ingressar. "Tem uma cláusula de confidencialidade, mas todos esses países estão em processo de discussão no banco", declarou.

    Investimentos no Brasil

    A presidenta do NDB destacou que o Brasil ampliou sua participação no NDB, passando de 12% para 18% do total de desembolsos do banco. "Quando eu cheguei aqui, o Brasil tinha tomado apenas US$ 1 bilhão dos US$ 2 bilhões disponíveis. Insisti para garantir que o Brasil pudesse acessar esses recursos, pois eram empréstimos de longo prazo, com taxas de juros muito baixas", explicou.

    Entre os projetos financiados no Brasil, Dilma citou o repasse de US$ 1,7 bilhão para o BNDES, sendo US$ 1,2 bilhão para infraestrutura e US$ 500 milhões para projetos ambientais. Além disso, o NDB destinou recursos para o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) e o estado da Paraíba.

    No Rio Grande do Sul, afetado por enchentes, o banco repassou recursos para o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), além de um aporte ao Banco do Brasil para auxiliar na reconstrução do estado. "Foram US$ 200 milhões para as prefeituras da região mais atingida", destacou.

    Hospital Inteligente e investimentos em inovação

    Um dos projetos de maior impacto do NDB no Brasil é o desenvolvimento do primeiro hospital inteligente do país, em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) e os Ministérios da Saúde e de Ciência e Tecnologia. "Esse será o primeiro hospital inteligente construído desde a base, integrando inteligência artificial e alta tecnologia para diagnósticos mais precisos, exames mais eficientes e maior rapidez no atendimento de emergências", explicou.

    O hospital, que terá financiamento do NDB, será localizado no maior centro de saúde do Brasil, e servirá como modelo para ampliação de unidades no Norte, Nordeste, Sul e Centro-Oeste. "A ideia é regionalizar o projeto para que beneficie todo o país", disse Dilma.

    O papel dos BRICS na multipolaridade global

    Dilma enfatizou que os BRICS representam um modelo alternativo de cooperação internacional, sem imposição de condicionalidades. "Dentro do NDB, nenhum sócio tem poder de veto. Não impomos condicionalidade nenhuma para nossos membros. Não vamos dizer: 'Você tem de privatizar A, B, C ou D'. Isso não existe conosco", afirmou.

    Ela destacou que o BRICS se consolidou como um fator de estabilidade global em um momento de incertezas econômicas e geopolíticas. "O BRICS não é contra A, B, C ou D. O BRICS é a favor de uma certa visão de desenvolvimento", disse. "Para se desenvolver, é necessário estabilidade. O tumulto e a mudança súbita de regras criam incerteza e afastam investimentos".

    Expectativas para a Cúpula dos BRICS no Brasil

    A presidenta do banco destacou a importância da Cúpula dos BRICS, que será realizada no Brasil em julho. "O BRICS é um exemplo de cooperação internacional sem imposição de condições. É um grupo que defende o multilateralismo e a multipolaridade como elementos essenciais para uma nova ordem global".

    Segundo Dilma, "o Brasil historicamente valoriza a diplomacia multilateral e tem uma relação especial com os países do Sul Global". Ela ressaltou que a cúpula será uma oportunidade para avançar nas discussões sobre desenvolvimento sustentável, infraestrutura e inovação.

    Para Dilma Rousseff, a cooperação entre os BRICS é essencial para a estabilidade global e a redução das desigualdades. "Se não tivermos um futuro compartilhado, continuaremos vendo a fome e a desigualdade estrutural. O mundo precisa de cooperação, e os BRICS estão ajudando a construir esse caminho", afirmou.

    A entrevista reforça o compromisso do Brasil com a multipolaridade e a construção de uma economia global mais equilibrada, onde países emergentes tenham voz ativa na definição das regras do sistema financeiro internacional. Assista:

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