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"Os EUA precisam de uma nova guerra para sustentar seu complexo militar-industrial", diz Thomas Toledo

Geopolítica, crise na América Latina e desafios para o Brasil: Thomas de Toledo fala sobre o cenário global pós-Trump

(Foto: Divulgação | REUTERS/Callaghan O'Hare)

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247 - Em entrevista para o programa Boa Noite 247, o professor de relações internacionais Thomas de Toledo analisou as complexas relações de poder no cenário global atual, especialmente as dinâmicas entre os Estados Unidos, Brasil e a influência dos BRICS. De Toledo comentou que “os Estados Unidos possuem um complexo militar-industrial que dita o rumo de grandes aspectos da política do país há décadas” e explicou como a necessidade de sustentar esse setor muitas vezes alimenta conflitos geopolíticos. Segundo ele, a guerra na Ucrânia e os apoios financeiros a Israel e outros países refletem esse ciclo de influências, com lobbies no Congresso norte-americano para a aprovação de pacotes de ajuda que, em última análise, reforçam o próprio setor militar-industrial dos EUA.

A respeito da guerra na Ucrânia, De Toledo destacou que "os democratas optaram por armar uma armadilha para a Rússia entrar em guerra, usando um governo fantoche, o de Zelensky", e comentou o envolvimento da administração Biden em uma crise com implicações globais. Ele relembrou o papel de figuras como Victoria Nuland no golpe ucraniano de 2014, apontando que a política externa americana tem sua continuidade, com democratas e republicanos apenas variando os locais de interesse.

Thomas de Toledo também falou sobre o impacto desse cenário na América Latina, principalmente com o fortalecimento da extrema direita que, segundo ele, "não aceita derrotas: se ganha, tudo bem; se perde, alega fraude". Ele alertou para a crescente influência de grupos ultraconservadores como a “internacional” de extrema direita liderada por aliados de Donald Trump, que promovem movimentos antidemocráticos. Para De Toledo, “essa articulação é arriscada e visa desestabilizar a região, com o objetivo de moldá-la de acordo com interesses específicos”.

Ao falar sobre a postura do Brasil, Thomas destacou que a política externa atual do país parece pendular entre a aliança com os BRICS e os interesses do G20, sendo que "o Itamaraty adota uma posição institucional" que, segundo ele, difere de uma visão estratégica mais voltada aos interesses nacionais. Ele lamentou a falta de uma liderança que articule essa visão, como ocorreu nos mandatos anteriores de Lula, citando figuras como Marco Aurélio Garcia, que conduziram o país em direção a uma integração regional robusta com a criação da Unasul e da Celac.

Em relação à reindustrialização dos EUA, De Toledo foi cético. Ele explicou que "os EUA dificilmente voltarão a produzir bens do cotidiano" e tendem a se concentrar em setores de alta tecnologia e da indústria bélica, capazes de agregar maior valor econômico. Ele mencionou também a precarização do trabalho nos EUA, que “dificulta a reindustrialização” ao mesmo tempo em que aumenta a dependência de trabalhos temporários, como os oferecidos por aplicativos de transporte.

Thomas apontou a necessidade urgente de a esquerda retomar suas pautas históricas e fortalecer sua comunicação com a população. Ele defendeu o investimento em mídias alternativas e criticou a atual posição do governo, que, segundo ele, "não deve ter medo de perder votações ou de demarcar posições ideológicas". Para De Toledo, a esquerda precisa "mostrar-se como alternativa ao sistema, resgatando bandeiras como a defesa do SUS, da educação pública e combatendo a privatização".

Na conclusão da entrevista, De Toledo alertou sobre o risco da volta da extrema direita no Brasil e a importância de reverter esse cenário, observando que "a disputa ideológica e a comunicação são essenciais para conter o avanço de fake news e da agenda ultraconservadora". Para ele, o governo Lula precisa investir em um canal direto com a população e enfrentar os desafios que a atual configuração internacional impõe ao Brasil.

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