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    "Taxa de juros no Brasil é usada até para unha encravada", diz o economista Luiz Gonzaga Belluzzo

    Belluzzo critica previsões do mercado, aponta erros da política monetária e defende investimentos públicos para impulsionar a economia

    (Foto: Brasil247)
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    247 - Em entrevista ao programa 20 Minutos, do canal Opera Mundi, conduzido por Haroldo Ceravolo Sereza, o renomado economista Luiz Gonzaga Belluzzo analisou a economia brasileira sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro da Fazenda Fernando Haddad. Belluzzo, que também é professor da Unicamp e ex-presidente do Palmeiras, destacou os avanços e os obstáculos do modelo econômico atual. A entrevista abordou temas como previsões econômicas, política monetária e a relação do Brasil com o cenário internacional.

    Uma das questões centrais levantadas pelo programa foi o levantamento realizado pelo portal UOL, que apontou que 95% das previsões econômicas do Boletim Focus entre 2021 e 2024 estavam erradas. "Isso não me surpreende", afirmou Belluzzo. Para ele, os erros decorrem da tentativa equivocada de prever movimentos econômicos que dependem das decisões de agentes sujeitos a incertezas. "A economia foi transformada numa ciência que tenta se assemelhar à física, mas o comportamento humano, base das decisões econômicas, não é previsível", explicou o economista.

    A crítica ao Boletim Focus e à política de juros

    Belluzzo foi enfático ao criticar o uso do Boletim Focus como ferramenta de referência para a política monetária. Segundo ele, as previsões, em grande parte fornecidas por economistas ligados ao mercado financeiro, carregam interesses de grupos específicos. "Esses economistas representam relações de poder e muitas vezes expressam os desejos econômicos das empresas que os patrocinam, como a elevação dos juros", afirmou.

    Sobre a condução da política monetária durante a gestão de Roberto Campos Neto no Banco Central, Belluzzo apontou que as altas taxas de juros foram prejudiciais ao crescimento econômico e criticou a dependência quase exclusiva desse mecanismo para controle da inflação. Ele lembrou que a elevação da Selic gera um ambiente de incerteza que afeta negativamente os investimentos. "O gasto de um é a renda de outro. Taxas de juros abusivas travam esse fluxo e comprometem o crescimento econômico", analisou.

    Ao comentar a nova gestão do Banco Central sob Gabriel Galípolo, Belluzzo demonstrou cautela, mas elogiou a postura do novo presidente da instituição. "Ele herdou um cenário difícil, mas tem habilidade e pode buscar uma política mais equilibrada", avaliou.

    O papel do governo Lula e os desafios estruturais

    Ao discutir o desempenho econômico do governo Lula, Belluzzo destacou como ponto positivo o crescimento acima do esperado em 2024, impulsionado pelas políticas sociais e pelo fortalecimento da demanda interna. Ele ressaltou a importância da transição bem estruturada entre os governos Bolsonaro e Lula, que ajudou a economia a retomar o ritmo. "A aceleração das políticas sociais foi fundamental para criar uma fonte de demanda que sustentou o crescimento", afirmou.

    No entanto, Belluzzo também chamou a atenção para a necessidade de investimentos em infraestrutura e reindustrialização. Ele criticou o desmonte do sistema ferroviário no Brasil, que, segundo ele, prejudica a competitividade econômica. "O Brasil precisa recuperar a indústria e investir em setores estratégicos como ferrovias, aproveitando oportunidades de parceria com a China", sugeriu.

    O cenário internacional e as implicações para o Brasil

    Sobre o contexto global, Belluzzo analisou o protecionismo crescente nos Estados Unidos sob a liderança de Donald Trump e seu impacto na economia mundial. Ele destacou a contradição americana ao defender o livre comércio enquanto adota práticas protecionistas históricas. "Os Estados Unidos sempre foram protecionistas, desde Alexander Hamilton. O discurso de livre mercado é retórico e serve para justificar sua hegemonia", explicou.

    O economista também ressaltou a ascensão da China como principal parceira comercial do Brasil e a oportunidade de fortalecimento dos laços econômicos entre os dois países. "A China tem interesse em investir na América Latina, e o Brasil pode aproveitar essa parceria para superar gargalos em infraestrutura e ampliar sua base produtiva", concluiu.

    Perspectivas para 2025: crescimento e desafios

    Ao ser questionado sobre as perspectivas de crescimento para 2025, Belluzzo destacou que, embora o país tenha potencial para manter um ritmo sólido, existem riscos relacionados à incerteza econômica e às altas taxas de juros. "Corremos o risco de uma desaceleração na taxa de crescimento, especialmente se não houver mudanças significativas na política monetária e no crédito", alertou.

    Apesar dos desafios, Belluzzo demonstrou confiança na capacidade de retomada do país. Ele encerrou sua participação recomendando o livro Autobiografia de Charles Chaplin e o filme Deu a Louca no Mundo como formas de refletir sobre os dilemas humanos e sociais que também permeiam a economia. Assista:

     

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