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    “Maradona foi o mais humano dos deuses”, escreveu Eduardo Galeano

    “Qualquer um poderia reconhecer nele uma síntese ambulante das fraquezas humanas”, anotou o escritor uruguaio Eduardo Galeano em 2008

    Eduardo Galeano (Foto: Aquiles Lins)

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    247 - Um texto do escritor uruguaio Eduardo Galeano sobre Diego Maradona tem repercutido intensamente nesta quarta-feira (25), data em que o ídolo mundial do futebol morreu, aos 60 anos, vítima de uma parada cardiorespiratória. O trecho consta do livro “Espelhos: uma história quase universal”, publicado em 2008, no Brasil pela L&PM Editores. Leia abaixo:

    MARADONA

    (Eduardo Galeano, “Espelhos: uma história quase universal”)

    Nenhum jogador consagrado tinha denunciado sem papas na língua os amos do negócio do futebol. Foi o esportista mais famoso e popular de todos os tempos quem rompeu barreiras na defesa dos jogadores que não eram famosos nem populares.

    Esse ídolo generoso e solidário tinha sido capaz de cometer, em apenas cinco munutos os dois gols mais contraditórios de toda a história do futebol. Seus devotos o veneravam pelos dois: não apenas era digno de admiração o gol do artista, bordado pelas diabruras de suas pernas, como também, e talvez mais, o gol do ladrão, que sua mão roubou. Diego Armando Maradona foi adorado não apenas por causa de seus prodigiosos malabarismos, mas também porque era um deus sujo, pecador, o mais humano dos deuses. Qualquer um podia reconhecer nele uma síntese ambulante das fraquezas humanas: mulherengo, beberrão, comilão, malandro, mentiroso, fanfarrão, irresponsável.

    Mas os deuses não se aposentam, por mais humanos que sejam.

    Ele jamais conseguiu voltar para a anônima multidão de onde vinha.

    A fama, que o havia salvo da miséria, tornou-o prisioneiro.

    Maradona foi condenado a se achar Maradona e obrigado a ser a estrela de cada festa, o bebê de cada batismo, o morto de cada velório.

    Mais devastadora que a cocaína foi a sucessoína. As análises, de urina ou de sangue, não detectam essa droga.

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